Mostrando postagens com marcador O Globo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador O Globo. Mostrar todas as postagens

1 de dezembro de 2014

Historiadores traduzem única autobiografia de ex-escravo que viveu no Brasil

Mahommah Gardo Baquaqua, nascido no Norte da África no início do século XIX, trabalhou no país antes de fugir em Nova York

Do: O Globo


Que aqueles ‘indivíduos humanitários’ que são a favor da escravidão se coloquem no lugar do escravo no porão barulhento de um navio negreiro, apenas por uma viagem da África à América, sem sequer experimentar mais que isso dos horrores da escravidão: se não saírem abolicionistas convictos, então não tenho mais nada a dizer a favor da abolição.”

As palavras são de Mahommah Gardo Baquaqua, ex-escravo nascido no Norte da África no início do século XIX e que trabalhou no Brasil antes de fugir das amarras da servidão em Nova York, em 1847. O trecho consta do livro “An interesting narrative. Biography of Mahommah G. Baquaqua” (“Uma interessante narrativa: biografia de Mahommah G. Baquaqua”, em tradução livre), lançado assim mesmo, em inglês, pelo próprio ex-escravo, em Detroit, no ano de 1854, em plena campanha abolicionista nos EUA. A obra jamais foi traduzida para o português, permanecendo desconhecida do público brasileiro.


No entanto, com apoio do Ministério da Cultura e do Consulado do Canadá, o professor pernambucano Bruno Véras, de 26 anos, resolveu se debruçar sobre o documento, ajudado por outros dois pesquisadores. Ele viajou ao Canadá, onde buscou vestígios de Baquaqua e consultou os originais do livro, cuja primeira edição em português deve ser lançada no Brasil até o fim do ano que vem.

– Baquaqua sempre foi um personagem que me intrigou. Ele escreveu a única autobiografia de um africano escravizado em terras brasileiras. Nos EUA e na Inglaterra existem vários desses relatos, que tinham uma função abolicionista. No Brasil, só um. E, apesar disso, Baquaqua não é conhecido em nossa História nem em nossos livros didáticos – conta Véras.

Os historiadores Paul Lovejoy e Robin Law, por exemplo, republicaram o livro nos anos 2000, ainda no idioma de Shakespeare. Segundo consta dos registros da edição original, parte da obra foi ditada para o escritor Samuel Moore, responsável também por editar a história do escravo.

DUAS VEZES ESCRAVIZADO

A trajetória extraordinária desse personagem começa nos anos 1820, em Dijougou, onde hoje é o Norte do Benim. Filho de um proeminente comerciante, o pequeno Mahommah Baquaqua estudou em uma escola islâmica para ter acesso ao Corão, adquirindo conhecimentos de leitura e de matemática. Suas habilidades logo lhe permitiram atuar em importantes rotas comerciais que ligavam o então califado de Socoto e o extinto Império Ashanti, que rivalizavam no tráfico de escravos e no domínio de regiões da África Ocidental.

Baquaqua foi preso e feito escravo pelos Ashanti enquanto vendia grãos, noz de cola e outras especiarias para o front de guerra. Mesmo sendo recomprado e libertado pelo seu irmão, acabou novamente detido pouco tempo depois por tentar roubar e ingerir bebida alcoólica perto de Dijougou, algo próximo a um pecado capital para uma localidade dominada pelo Islã.

Baquaqua não pôde contar com a sorte daquela vez. Novamente escravizado, foi levado para a cidade litorânea de Uidá, importante porto de onde saía grade parte dos cativos destinados ao Novo Mundo. É a partir desse ponto que a autobiografia ganha seus contornos mais emocionantes:

“Quando estávamos prontos para embarcar (para as Américas), fomos acorrentados uns aos outros e amarrados com cordas pelo pescoço e, assim, arrastados para a beira-mar. Uma espécie de festa foi realizada em terra firme naquele dia. Não estava ciente de que essa seria minha última festa na África. Feliz de mim que não sabia”, escreveu o escravo.

Se, antes, os brasileiros tinham conhecimento do ambiente de um navio negreiro por meio das descrições de historiadores ou de famosos poemas como o de Castro Alves, agora poderão ter um relato vivo de uma testemunha de um dos piores capítulos da História da humanidade:

“Fomos arremessados, nus, porão adentro, os homens apinhados de um lado, e as mulheres de outro. O porão era tão baixo que não podíamos ficar de pé, éramos obrigados a nos agachar ou nos sentar no chão. Noite e dia eram iguais para nós, o sono nos sendo negado devido ao confinamento de nossos corpos.”

Comida e bebida eram escassos na viagem, havendo dias em que os escravos não ingeriam absolutamente nada. “Houve um pobre companheiro que ficou tão desesperado pela sede que tentou apanhar a faca do homem que nos trazia água. Foi levado ao convés, e eu nunca mais soube o que lhe aconteceu. Suponho que tenha sido jogado ao mar”, conta Baquaqua.


Pernambuco foi o destino do navio que levava nosso personagem, que desembarcou em 1845. De início, foi levado para uma lavoura nos arredores de Olinda, onde conheceu a dureza da escravidão brasileira: “o fazendeiro tinha grande quantidade de escravos, e não demorou muito para que eu presenciasse ele empregando livremente seu chicote contra um rapaz. Essa cena causou-me uma impressão profunda, pois, é claro, imaginei que em breve seria o meu destino”.

Baquaqua tratou da violência do senhor, chamando-o de “tirano”. Trabalhando como padeiro, o escravo inicialmente prestava os serviços com dedicação, mas ao ver que seu “patrão” nunca ficava satisfeito, entregou-se às bebidas e evitou o serviço. Acabou revendido para outro comerciante, desta vez no Rio de Janeiro.

“Meus companheiros não eram tão constantes quanto eu, sendo muito dados à bebida e, por isso, eram menos rentáveis para o senhor. Aproveitei disso para procurar elevar-me em sua opinião, sendo muito prestativo e obediente, mas tudo em vão; fizesse o que fizesse, descobri que servia a um tirano e nada parecia satisfazê-lo. Então comecei a beber como os outros e, assim, éramos todos da mesma laia, mau senhor, maus escravos.”

Na capital do Império, devido aos seus conhecimentos de matemática e literatura, o escravo atuou dentro de um navio especializado no comércio de charque entre o Rio Grande do Sul e a Corte.

Mas foi uma encomenda de café para Nova York que mudou sua vida completamente. Naquela época, os estados do Norte dos Estados Unidos já tinham abolido a escravidão, fato que não passou despercebido por Baquaqua. “A primeira palavra que meus dois companheiros e eu aprendemos em inglês foi F-R-E-E (L-I-V-R-E); ela nos foi ensinada por um inglês a bordo e, oh!, quantas e quantas vezes eu a repeti.”

Baquaqua tentou fugir do navio ao desembarcar em Nova York, mas logo acabou preso. Com a ajuda de abolicionistas locais, o escravo conseguiu escapar da prisão e rumou para o Haiti. Ficou por lá durante dois anos, período em que se converteu ao cristianismo, ingressando na Igreja Batista Abolicionista. De volta aos Estados Unidos, em 1850, o já liberto africano frequentou aulas de inglês por três anos no Central College, numa localidade então conhecida como MacGrawville, hoje parte de Nova York.

RELATO SIMILAR AO DE FILME QUE GANHOU OSCAR

Mas foi em Detroit que Baquaqua publicou seu livro, numa tentativa de arrecadar fundos para a campanha abolicionista. A autobiografia – chave do seu engajamento na luta abolicionista (que o levou até mesmo à inglesa Liverpool, em 1857, último lugar onde se teve notícia de Baquaqua) – é contemporânea e guarda similaridade com a de Solomon Northup. Americano nascido livre e escravizado no Sul dos Estados Unidos, ele teve sua obra adaptada para o cinema em 2013, com o título “Doze anos de escravidão”. O filme americano venceu o Oscar em três categorias, inclusive a de melhor longa-metragem.

– O contexto em que o livro de Solomon Northup foi publicado é o mesmo do de Baquaqua. Abolicionistas incentivavam ex-escravos a escrever relatos do cativeiro e mobilizar a opinião pública. Nada melhor do que o próprio escravo para contar como era a escravidão – afirmou Véras, que também trabalha para lançar um site somente sobre o ex-escravo, reunindo vídeos, fotos e arquivos de época.

Essa fascinante história também virou tema de um pequeno documentário em 2012, produzido por pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), em parceria com professores da rede de ensino do estado. Paulo Alexandre, conhecido nacionalmente por reproduzir os principais acontecimentos da Segunda Guerra Mundial no Facebook, foi um dos que participaram da produção.

Segundo ele, o personagem pode ser trabalhado em sala de aula como uma história de superação e de luta contra os estereótipos em torno do escravo:

– Meus alunos ficam impressionados quando lhes conto sobre Baquaqua, pois todos tinham aquela velha ideia de escravo submisso, aquele indivíduo sem nome nem identidade, que só sabia apanhar e trabalhar. Ninguém imagina que ele poderia ser uma pessoa inteligente, empreendedora, que consegue a liberdade a partir do próprio esforço.

Assista abaixo às duas partes do documentário de 2012.



15 de outubro de 2014

Patranhas Petistas


(Artigo publicado no O Globo a Mais de 09/10/2014. Os destaques são deste blogueiro)


Patranha, balela, calúnia, lorota, embromação, embuste, cascata, falsidade mexerico e por aí vai. Procurem no dicionário os sinônimos da palavra “mentira” e vejam, aturdidos, de quantas maneiras é possível denominar o ato infame. Meu favorito é “patranha”, que puxa “petranha”, palavra que não existe, mas cuja entranha leva ao PT. PT, o partido que diz que “o Brasil quebrou três vezes”, que a “inflação está sob controle”, que “o crescimento está voltando”.

“O Brasil quebrou três vezes”. É mesmo? O Brasil quebrou na década de oitenta, uma década antes do que diz o PT. O PT diz que foi nos anos 90, quando o país recorreu ao FMI. Ora, quando um país recorre ao FMI, o faz porque precisa de algum tipo de ajuda, seja para combater a inflação, evitar uma crise externa, fortalecer as reservas internacionais. O Fundo Monetário Internacional não é bobo, nem instituição de caridade. O FMI não empresta para país quebrado. Os argentinos que o digam.

Por que o Brasil foi ao Fundo nos anos 90? Em 1998-1999, porque o país passava por importante mudança no regime cambial – saíamos do câmbio fixo para o mundo novo do câmbio flutuante. Em 2001, porque a Argentina, país vizinho, quebrou, quebrou de verdade. “Devo, não nego, pago quando puder”. Sem pagar ficou durante parte dos anos 2000. Será que o PT acha que o Brasil fica na Argentina? Bem, deixa pra lá. Por fim, em 2002, o Brasil recorreu ao FMI para financiar a chegada do ex-Presidente Lula, o mesmo ex-Presidente Lula que desfrutou de 80% dos recursos negociados pela equipe econômica de FHC. Mal-agradecidos, os petistas? O leitor que os julguem.

“A inflação está sob controle”. Será? Diz o IBGE que, em setembro, o nosso índice de inflação bateu 6,75% nos últimos doze meses. Ora, 6,75% é maior do que 6,5%, e 6,5% é o topo do regime de metas de inflação. Quer dizer que “estar sob controle” é superar o teto da meta? Farsa, hipocrisia, moca. Não cola, o povo sabe fazer contas, sabe que está cada vez mais difícil esticar o salário até o fim do mês. Está aí um fantasma do passado que nos ronda lentamente, como abutre sobrevoando carcaça. As assombrações de Dilma Rousseff são invencionices, pantomimas, tapeação.

“O crescimento está voltando”. O FMI acaba de dizer que não. O FMI disse que o Brasil não haverá de crescer mais do que 0,3% em 2014. Segundo os analistas brasileiros, o FMI está sendo otimista, bonzinho com o Brasil. Há quem acredite que teremos sorte se a atividade econômica no Brasil não registrar queda este ano, recessão, outro fantasma do passado. Mas, mesmo que o FMI esteja certo, os anos Dilma hão de registrar uma média de crescimento abaixo de 2%. Esse terá sido o pior desempenho de um governo desde os anos Collor, que tal esse fantasma do passado para tirar o sono de qualquer um?

“A mentira é uma verdade que esqueceu de acontecer”, disse Mario Quintana. Foram tantas as verdades desmemoriadas do governo de Dilma Rousseff que podemos até pensar em novo sinônimo para mentira: caduquice. Esse governo caducou, caiu do pé e se esborracha…

MONICA BAUMGARTEN DE BOLLE, 42, economista, é sócia-diretora da Galanto Consultoria, diretora do Instituto de Estudos de Política Econômica – Casa das Garças e bolsista do Wilson Center. Foi economista do Fundo Monetário Internacional (2000 a 2005)

24 de julho de 2014

Ariano Suassuna, o cavaleiro do sertão

Autor paraibano foi vítima de uma parada cardíaca, em Recife, onde viveu a maior parte de sua vida

O escritor Ariano Suassuna, em foto de 2007 - Leonardo Aversa / Agência O Globo
O escritor paraibano Ariano Suassuna morreu às 17h28 desta quarta-feira, aos 87 anos, vítima de uma parada cardíaca provocada pela hipertensão intracraniana. Ele estava internado no Real Hospital Português, em Recife, Pernambuco, desde segunda-feira, depois de sofrer um acidente vascular cerebral hemorrágico. O autor passou por uma cirurgia de emergência, acabou entrando em coma e não resistiu. Integrante da Academia Brasileira de Letras, Suassuna teve seis filhos e 15 netos. Defensor da cultura popular brasileira, era um dos maiores dramaturgos do país, além de autor de romances e poemas.

O velório começou pouco antes das 23h desta quarta-feira no Palácio do Campo das Princesas, sede do governo do estado de Pernambuco. Ariano Suassuna será enterrado às 16h de quinta-feira no Cemitério Morada da Paz, no município de Paulista, região metropolitana de Recife.

No dia 21 de agosto do ano passado, ele foi atendido no mesmo hospital por causa de um infarto, “com comprometimento cardíaco de pequenas proporções”. Uma semana depois, passou mal e voltou a ser internado, sendo submetido a uma arteriografia para corrigir um aneurisma que vinha lhe provocando fortes dores de cabeça.

Nascido em 16 de junho de 1927 em Nossa Senhora das Neves, hoje João Pessoa, capital da Paraíba, Ariano Vilar Suassuna era filho de João Suassuna, então governador de seu estado natal. Com o fim do mandato, um ano depois, toda a família se mudou para o interior.

O velho contador de histórias do sertão tinha apenas 3 anos quando um fato trágico marcou sua infância. No desenrolar da Revolução de 1930, um pistoleiro de aluguel assassinou seu pai com um tiro pelas costas, numa rua do Rio de Janeiro.

O assassinato foi motivado por boatos que apontavam o patriarca da família Suassuna como mandante da morte de João Pessoa, seu sucessor no governo, fato que serviu de estopim para a revolução. Um ambiente assim, com dívidas de sangue e rivalidade entre famílias, cobrava dos órfãos a vingança. Mas, um dia antes de ser assassinado, João Suassuna deixou uma carta aos nove filhos pedindo que eles não se tornassem assassinos por sua causa.

UMA BIBLIOTECA DE HERANÇA
Matheus Nachtergaele e Selton Mello na versão de "Auto da Compadecida" para o cinema dirigida por Guel Arraes no ano 2000 - Divulgação/Nelson di Rago
Ariano Suassuna obedeceu. Em vez disso, dizia estar perto de perdoar os criminosos que mataram seu pai. A mãe e viúva também ajudou, ao dizer que o pistoleiro responsável pelo crime já havia morrido (era mentira). Com a tragédia, a família mudou-se para a pequena cidade de Taperoá, no interior da Paraíba. E Ariano herdou a biblioteca do pai, onde encontrou livros importantes para sua formação. Um dos mais importantes, sem dúvida, foi “Os sertões”, de Euclides da Cunha. A obra lhe apresentou um dos personagens que mais marcaram sua vida: Antônio Conselheiro, profeta e líder de Canudos.

Em 1942, Suassuna foi para Recife concluir o ensino básico. Anos depois, na faculdade de Direito, ajudou a fundar o Teatro do Estudante de Pernambuco. Em 1947, encenou sua primeira peça: “Uma mulher vestida de sol”. Nove anos depois, levaria aos palcos seu texto mais conhecido, “Auto da Compadecida”, que ganharia adaptações na TV e no cinema.

VEJA TAMBÉM

Por causa do teatro, deixou o Direito de lado seis anos após ter se formado. O romance surgiu mais tarde em sua vida. Em 1971, Ariano Suassuna lançou seu “Romance d’a pedra do reino e o príncipe do sangue vai-e-volta”, com nome comprido como seus cordéis tão adorados e pensado para ser uma trilogia. Com o livro, o escritor avança em relação à literatura regionalista dos anos 1930, representada por João Guimarães Rosa e José Lins do Rego. Mais tarde, Ariano Suassuna diria que “A pedra do reino” era, de certa forma, uma tentativa de trazer seu pai de volta à vida.

Havia quem acusasse o escritor de lutar contra moinhos de vento: o escritor se apresentava como um defensor da cultura popular brasileira, contra a invasão da indústria cultural norte-americana. Falava mal de Madonna e Michael Jackson. Não à toa, quando foi secretário de Cultura do governo Miguel Arraes, nos anos 1990, tornou-se um ferrenho opositor do maracatu eletrônico e do manguebeat. Ele se recusava, por exemplo, a chamar Chico Science, o vocalista da Nação Zumbi, pelo nome artístico. Dizia “Chico Ciência”.

A defesa da cultura nacional, que muitas vezes lhe rendeu o rótulo de xenófobo, já vinha no sangue e no nome da família. Na onda nacionalista depois da Independência, em 1822, vários brasileiros adotaram nomes indígenas. Seu bisavô Raimundo Sales Cavalcanti de Albuquerque escolheu Suassuna, de origem tupi, e nome de um riacho da região onde a família vivia. Nos anos 1970, fazendo jus ao nacionalismo da linhagem, Ariano fundou o Movimento Armorial, que defendia a criação de uma cultura erudita com bases na cultura popular — e toda a sua obra orbita em torno desse ideal. 

Em 1989, o sertanejo foi eleito para a cadeira de número 32 da Academia Brasileira de Letras, cujo patrono era Araújo Porto-Alegre. Sexto ocupante da cadeira, Suassuna nunca foi um imortal de frequentar os eventos da instituição. Era uma espécie de filho pródigo da ABL.

NOVA OBRA VINHA SENDO ESCRITA HÁ MAIS DE 20 ANOS

Para além de sua obra, o escritor paraibano ficou famoso também por dar aulas em que dissecava a cultura brasileira, as suas origens ibéricas, a tradição dos violeiros, dos cantadores, das rabecas, dos cordéis. Eram aulas-espetáculo. E a última foi na sexta-feira passada, no 24º Festival de Inverno de Garanhuns, a 230 quilômetros de Recife. O Teatro Luiz Souto Dourado ficou lotado, como sempre acontecia nesses eventos. Um dos motivos de tanto sucesso era o bom humor do escritor, uma de suas marcas. Não que tenha sido sempre assim. Suassuna atribuía o aparecimento do humor em sua vida ao encontro com Zélia, sua mulher há mais de 50 anos. Para Suassuna, ela havia “desatado alguma coisa” dentro dele. “O riso a cavalo e o galope do sonho são as duas armas de que disponho para enfrentar a dura tarefa de viver”, escreveu em “A pedra do reino”.

Ariano Suassuna e sua mulher, Zélia, em março de 2000 - Agência O Globo/Josenildo Tenório/6-3-2000
Ariano Suassuna trabalhava em um novo livro, "O jumento sedutor", havia mais de 20 anos, e planejava o lançamento para este ano. A demora não era para menos. Seu processo de criação era lento: escrevia e reescrevia, várias vezes, à mão. Depois, copiava para a máquina de escrever e, só então, corrigia. Era aí que o escritor passava tudo a limpo, novamente à mão. Às vezes, descartava todo o material e voltava ao começo do processo. Como ilustrava os próprios livros e ainda parava para dar suas famosas aulas-espetáculo pelo país, demorava mais ainda. Sem título, o romance seria a continuação de “A pedra do reino”.

Além do amor pela literatura, havia espaço para o futebol: seu time do coração era o Sport Club do Recife, que até o homenageou em seu uniforme em 2013 com uma frase que ele costumava repetir: "Felicidade é ser Sport". Suassuna tinha fama de pé quente.

Entre as muitas homenagens que recebeu, uma das que mais o marcaram foi o desfile da escola de samba Império Serrano, que levou para a avenida o enredo "Aclamação e coroação do imperador da pedra do reino Ariano Suassuna", em 2002. "Um escritor que ama o seu país não pode querer homenagem maior que esta", disse.

Em 2007, ele assumiu a secretaria de Cultura de Pernambuco a convite do governador Eduardo Campos, e chegou a ocupar outros cargos até deixar o governo recentemente, em abril de 2014.

O ano de 2007 também foi marcado pela celebração dos 80 anos do escritor em todo o Brasil. As homenagens o levaram a viajar de Norte a Sul do país. Uma epopeia para um homem que, além de apreciar o sossego, detestava avião. Mesmo assim, o apaixonado e muitas vezes polêmico defensor da cultura popular brasileira seguia adiante. Mas brincava: se soubesse que chegar aos 80 anos daria tanto trabalho, teria ficado nos 79. [ O Globo ]

15 de abril de 2014

Exemplo a ser seguido: Holanda quer cobrar diária de € 16 de presidiários

Vivo recebendo e-mails questionando o que seria um auxílio-prisão no Brasil, uma ajuda mensal que familiares dos presidiários receberiam, com valor inclusive superior ao salário mínimo vigente no país. Tenho certeza que se trata de mais uma lenda que circula pela web e nem vou entrar no mérito da questão. Hoje recebi uma mensagem do Luiz César Alves, o professor Luizinho, comentando essa iniciativa do governo holandês, que não só aprovo como recomendo. Não sei por que lembrei da China, onde os parentes de fuzilados, em cumprimento a pena de morte, pagam pela munição utilizada na execução dos condenados.  


Foto mostra interior de uma cela na prisão de Tilburg, na Holanda MARCO DE SWART / AFP
AMSTERDÃ - O governo holandês decidiu seguir o exemplo da Dinamarca e da Alemanha e quer impor uma diária de € 16 a presidiários. O projeto de lei resulta dos acordos feitos pela atual coalizão governista, formada por liberais de direita e social-democratas, e tem dois objetivos principais: obrigar o criminosos a assumir o custo e de suas ações e economizar € 65 milhões em despesas de judiciais e policiais. O procurador-geral e o conselho da Magistratura, entre outros órgãos consultivos, analisam a proposta, que será enviada ao Parlamento neste ano.

O pagamento idealizado pelo Departamento de Justiça será aplicado a pessoas detidas em instituições psiquiátricas vinculadas ao departamento de detenções e aos pais de crianças colocadas em centros de reinserção social.

- Entende-se que o prisioneiro é parte da sociedade. Se ele comete um crime, é obrigado a contribuir para a despesa que causa. Suas ações não devem ser pagas, a partir do ponto de vista econômico, apenas pelo resto dos cidadãos - disse o porta-voz da Justiça holandesa Johan van Opstel.

Atualmente, a Holanda tem espaço para 12 mil detentos, que passam, em média, três meses na prisão. Cada cela, com capacidade para até duas pessoas - em alguns edifícios mais antigos pode chegar a seis - equivale a um gasto de 200 euros por dia. O plano oficial é para cobrar cerca de 11.680 euros por preso.

"A dívida não poderá ser cancelada. Quem tem dinheiro, começa a pagá-la imediatamente. Se não tem, poderá pagá-la por tempo indeterminado. Por exemplo, quando tiver um salário. Mas só será cobrado o equivalente à sentença de dois anos. Mesmo quando as penas são mais longas", esclarece Van Opstel. Para não prejudicar a reinserção social, os pagamentos poderão ser feitos em parcelas.

Embora atualmente sobrem celas na Holanda, o aumento da população carcerária nos anos 1990 forçou o governo a construir novas prisões. Dentre 29 unidades existentes, algumas estão fechadas devido ao decréscimo nas taxas de criminalidade, "como no resto da União Europeia", segundo a Justiça.

O ministro da Justiça do país, o liberal Ivo Opstelten, também já apresentou outra lei semelhante, em que atribui ao condenado uma parte dos custos das investigações policiais, processos judiciais e assistência às vítimas. (via: O Globo)

24 de fevereiro de 2014

Dez filmes para assistir antes do vestibular

Do: O Globo

Professores de história e geografia sugeriram ótimos títulos, todos recheados de informações que podem ser muito úteis na hora do vestibular.

"O ano em que meus pais saíram de férias" - (2006) Direção de Cao Hamburger
O filme narra a história de uma criança de 12 anos, que adora futebol e, na Copa de 1970, vê o seus pais, militantes políticos, terem que fazer uma "viagem forçada".




"Os miseráveis" - (2012) Direção de Tom Hooper
O filme se baseia na obra homônima de Victor Hugo, publicada em 1862. Na trama do grande dramaturgo francês, a Paris do início do século XIX, aparece cheia de mendigos, fétida, insalubre e prestes a se rebelar contra a tirania dos reis absolutistas. Um bom entretenimento para se compreender a história francesa, na primeira metade do século XIX.




"O menino do pijama listrado" - (2008) Direção de Mark Herman
A trama se passa quase toda em um campo de concentração nazista, durante a Segunda Guerra Mundial. Um filme interessante porque mostra os horrores do holocausto a partir da amizade entre uma criança judia e outra alemã.




"Lincoln" - (2012) Direção de Steven Spilberg
A história se passa na Guerra de Secessão. Uma boa pedida para quem deseja conhecer a trajetória dos EUA no século XIX.




"Guerra de Canudos" - (1997) Direção de Sérgio Rezende
O filme narra "um dos maiores dramas da História do Brasil, que foi a guerra de sertanejos contra as injustiças do poder público no alvorecer da República". A trama traz como pano de fundo o drama de uma família dividida entre acompanhar Conselheiro na sua marcha ou continuar submetida à condição de miséria. (não encontrei trailer no You Tube)
"O Pianista" - (2002) Direção de Roman Polanski
Esta bela produção é uma ótima oportunidade para conhecer um pouco mais sobre a Segunda Guerra Mundial e o Holocausto. Obra didática, pois aborda todas as etapas do extermínio nazista.




"O nome da rosa" - (1986) Direção de Jean-Jacques Annaud
O filme proporciona uma imersão na Idade Média. A trama é importante por retratar o período do Renascimento, movimento cultural que irá resgatar valores antropocêntricos e racionais que entraram em choque com o teocentrismo e o dogmatismo da Igreja Católica.




"Adeus, Lenin!" - (2003) Direção de Wolfgang Becker
O filme aborda, por meio do olhar de um jovem, a queda do Muro de Belim e a reunificação da Alemanha, enfatizando a derrocada da Alemanha Oriental.




"Pão e rosas" - (2000) Direção de Ken Loach
Neste filme, o politizado cineasta britânico Ken Loach aborda as questões que envolvem os imigrantes na sociedade norte-americana, com destaque para os mexicanos, que sofrem com a precarização das relações de trabalho, típica do neoliberalismo. A produção também mostra como a fragilidade da organização sindical torna esses grupos ainda mais vulneráveis ao cenário da superexploração.




"Nascido em 4 de julho" - (1989) Direção de Oliver Stone
Filme que tem a Guerra do Vietnã (1959 a 1975) como pano de fundo. A trama inicialmente exalta o “American way of Life” (estilo americano de vida), para depois fazer uma crítica contundente a esse modelo. A narrativa expõe os problemas das relações geopolíticas que a nação constituía, permeadas pelas questões dramáticas às quais os soldados eram submetidos na guerra.




1 de novembro de 2013

Os homens só amadurecem de verdade aos 54 anos, diz estudo

Comentava sobre a notícia abaixo com o Nilmar Piacentini e o Versi Sequinel e mostrava alívio pela boa nova: ainda tenho um ano para amadurecer! 

O Versi acabou fazendo um comentário que me colocou no devido lugar: "Pena que bichou antes de amadurecer"

Do: O Globo

Homens vivem inseguranças 
juvenis até a meia-idade
Foto: Stock Photo
EUA - A vida começa aos 54 anos para homens. O número bastante preciso foi apontado por uma pesquisa como a idade em que eles finalmente crescem e começam a aproveitar a vida como “adultos de verdade”. O estudo com 1000 homens descobriu que esta era a idade em que eles se sentiam “resolvidos e seguros”, segundo o jornal “Telegraph”.

Ele sugere que os homens levam mais tempo do que as gerações passadas para atingir este estágio, principalmente devido às pressões financeiras e à paternidade adiada. Hoje, dois terços dos bebês nascem de pais com mais de 30 anos, com a média de 32 anos para o primeiro filho nos EUA.

A pesquisa sugere que os homens de 54 anos de idade, como Simon Cowell, Hugh Laurie e Kevin Spacey estão apenas no início de sua vida bem resolvida. Realizado pelo Centro Crown Clinic, em Manchester, o estudo mostra que aos 40, os homens ainda não deixaram para trás suas inseguranças juvenis.

A pesquisa revelou inseguranças que não deixam o homem amadurecer mais jovem, incluindo imperfeições físicas, problemas com dinheiro e solidão. Eles citaram medos como o de não conseguir adquirir a primeira casa, perder o cabelo e estar desempregado. O processo de envelhecimento também apareceu com força, além de ter que lidar cabelos grisalhos, queixo duplo e mamas.

- Estamos vivendo muito mais e, com os custos de vida aumentando e a paternidade sendo adiada, homens inevitavelmente levam mais tempo para se sentirem resolvidos - comentou Asim Shahmalak, da Crown Clinic.

2 de julho de 2012

Sucesso na internet, vídeo que retrata o 'jeitinho carioca' pode ter continuação



Hábitos e situações vividas por cariocas são retratados com bom humor em vídeo que se tornou fenômeno das redes sociais

Quem não é do Rio pode achar estranho ouvir alguém sugerir um programa com um “Partiu?” ou aceitar um convite com um “Já é”, mas expressões como estas fazem parte do vocabulário carioca assim como o habitual “Vamos marcar alguma coisa” quando se reencontra um conhecido - ou desconhecido - e o “Imagina na Copa”, cada vez mais presente em queixas sobre o trânsito ou o metrô lotado.

Inspirado no curta “Shit New Yorkers say” (algo como “Besteiras que os nova-iorquinos dizem”), o vídeo “O jeitinho carioca” retrata alguns destes hábitos e expressões que estão nas ruas, nos bares, na praia e em todos os cantos de uma cidade onde um dia de 20 graus é motivo para tirar o cachecol e os agasalhos pesados do armário.

A cineasta Mariana Januzzi, uma das realizadoras do projeto, explica que a ideia surgiu por causa dos grandes eventos de que a cidade foi ou será sede, como a Rio+20 e a Copa do Mundo de 2014.

- Fizemos uma lista da nossa cabeça, com coisas que nós mesmos fazemos ou falamos. Vimos que estávamos no caminho certo quando consultamos nossos amigos e até mesmo os atores, que concordaram com a lista e acrescentaram outras situações – explica Mariana. - Achamos que o vídeo se encaixava no momento que a cidade vive, com tantos eventos. A gente quis fazer algo bem humorado e com belas imagens.

A ideia deu certo. Realizado por duas produtoras da cidade, a 2Olhares e a Makulelê, o vídeo foi postado no YouTube na noite da segunda-feira e, em menos de uma hora, teve o número de visualizações praticamente duplicado de 5,3 mil para mais de 11 mil na tarde de terça-feira. Mariana confessa que o curta foi pensado para ser um viral, mas diz que não esperava que o sucesso fosse tanto. Ela acredita que isso se explica pela identificação com os personagens.

- Todo mundo tem um amigo que se parece com algum deles – brinca.

Já o antropólogo Everardo Rocha, da PUC-Rio, acredita que a grande repercussão tem como causa o fato de o material mostrar uma visão simpática e descontraída não somente da cidade e dos cariocas, mas também dos brasileiros.

- É um jeito leve de viver a vida e que pode ser visto em qualquer cidade do país. Todos nós já vivemos alguma daquelas situações - diz.

Para Rocha, um dos méritos do curta é ir além dos clichês e estereótipos.

- O roteiro mostra uma certa incoerência típica do carioca. Para quem vive na cidade, por exemplo, Niterói parece ser em outro estado, mesmo sendo ao lado. Você diz “Passa lá em casa” para um amigo simplesmente para ser simpático, sem assumir um compromisso, ou tolera um flanelinha, mas acaba tentando driblá-lo. O carioca tenta ser mais esperto que o outro para evitar o conflito. É uma cidade em que a paisagem é alegre e isso contribui para esse “jeitinho” - explica o antropólogo.

E como a lista de situações e expressões é grande, a equipe já está pensando em lançar um “O jeitinho carioca 2”.

- Vamos aproveitar bem essa repercussão, mas como muita coisa ficou de fora, temos material para um segundo vídeo. Mas estamos pensando em algo mais polêmico, mais focado no comportamento, mas sempre inspirado no nosso jeito de ser – adianta Mariana.

Partiu então.

(via: O Globo)