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4 de agosto de 2014

Dez conselhos do papa Francisco para ser feliz

Em entrevista concedida à revista semanal argentina 'Viva', pontífice fez uma lista com ações simples para se alcançar a felicidade

Papa Francisco acena para fiéis durante audiência geral, no Vaticano (AFP/VEJA)
Brincar com os filhos, proteger a natureza, trabalhar pela paz e respeitar a crença dos outros pessoas são alguns dos conselhos do papa Francisco para alcançar a felicidade. O pontífice falou sobre as atitudes mais importantes durante uma entrevista à revista semanal argentina Viva, do grupo Clarín. Confira a seguir os conselhos do papa:

Viva e deixe viver
Em Roma as pessoas usam uma expressão similar que diz: ‘Siga adiante e deixe que os outros sigam também’. Viver e deixar viver é o primeiro passo para a paz e a felicidade.

Doe-se aos outros
"Se uma pessoa não se abre com os outros, ela corre o risco de ser egoísta. E a água represada é a primeira a se tornar pútrida." 

Seja tranquilo
Citando o livro 'Don Segundo Sombra', de Ricardo Guiraldes, o pontífice fala sobre a tranquilidade. "Há uma passagem muito bonita, sobre alguém que revê a sua vida. O protagonista diz que, quando jovem, era um córrego pedregoso, enquanto na fase adulta assemelhava-se a um rio que seguia em frente. Na velhice, ele se sentia em movimento, mas muito lentamente, como um remanso. Eu utilizaria essa imagem do poeta Ricardo Guiraldes, esse último adjetivo, remansado. A capacidade de se mover com benevolência e humildade, na calmaria da vida. Os anciãos têm essa sabedoria, são a memória de um povo. E um povo que não cuida de seus anciãos não tem futuro."

Brinque com as crianças
"O consumismo nos levou a essa ansiedade de perder a saudável cultura do ócio, de ler, de desfrutar da arte. Agora eu ouço poucas confissões, mas em Buenos Aires eu ouvia as confissões de muitas pessoas. E quando vinha até mim uma mãe jovem eu perguntava: "Quantos filhos você tem? Você brinca com seus filhos?". Era uma pergunta que não se esperava, mas eu dizia que brincar com os filhos é a chave, é um hábito sadio. É difícil, os pais saem para trabalhar cedo e, às vezes, voltam quando os filhos estão dormindo. É difícil, mas é algo necessário."

Compartilhe os domingos com a família
"Outro dia, em Campobasso (cidade italiana), fui a uma reunião entre o mundo universitário e o mundo operário. Todos pediam para não haver trabalho aos domingos. O domingo é para a família." 

Ajude os jovens a conseguir emprego
"Se faltam oportunidades, eles caem nas drogas. E o índice de suicídio entre os jovens desempregados está muito alto", observou o papa Francisco. "Não é suficiente dar comida a eles, é preciso inventar cursos de um ano de encanador, eletricista, costureiro. Você obtém dignidade quando consegue levar comida para dentro de casa."

Cuide da natureza
"É preciso cuidar da criação, e não estamos fazendo isso. É um dos nossos maiores desafios."

Seja positivo
"A necessidade de falar mal de outra pessoa indica uma baixa autoestima. É o mesmo que dizer: 'eu me sinto tão para baixo que, em vez de tentar subir, rebaixo o próximo'. Esquecer rapidamente do que é negativo é algo saudável".

Respeite quem pensa diferente
"Nós podemos inquietar o outro a partir de testemunhos, assim crescemos juntos ao nos comunicar. Mas a pior coisa é o proselitismo religioso, que paralisa: "Eu falo com você para convertê-lo". Não. Cada um dialoga a partir de sua identidade. A igreja cresce por meio da atração, não do proselitismo."

Trabalhe pela paz
"Estamos vivendo uma época com muitas guerras (...) A guerra destrói. É preciso gritar o clamor pela paz. A paz, às vezes, passa a ideia de quietude, mas ela nunca é silenciosa, é sempre uma paz ativa." [Veja]

26 de maio de 2014

Como pudemos ter vivido tanto tempo sem Francisco?


Sua devoção aos pobres e aos desvalidos é uma das coisas mais lindas e inspiradoras destes nossos tempos.

Um exército de um homem só
Uma das tantas coisas boas de Francisco, nestes seus primeiros meses de papado, foi ter falado amigavelmente de ateus.

Não que fosse necessário isso para que eu, um descrente total, o admirasse intensamente.

O que me encantou rapidamente em Francisco foi a energia, o entusiasmo, a coragem com que ele se entregou, desde o primeiro dia, à luta contra a desigualdade social.

Sua devoção aos pobres e aos desvalidos é uma das coisas mais lindas e inspiradoras destes nossos tempos.

A inclusão de ateus na retórica papal rompe um paradigma milenar. O que ele está dizendo é que quem acredita em Deus não é melhor que quem não acredita.

Esta a beleza sublime da mensagem.

Ao estudar as religiões, o filósofo inglês Bertrand Russell notou que o judaísmo inovou na ideia de “povo eleito” e de que o Deus dos judeus era melhor que os outros. A partir daí, sucessivas religiões começaram a guerrear para provar que seu Deus é que era o melhor de todos.

Francisco elimina esta fonte eterna de discórdia e ódio.

O mundo, tal como está hoje, caminha para o colapso. Um planeta tão desigual é, simplesmente, insustentável.

A ganância predadora cobra um preço terrível do meio ambiente – outro assunto incorporado, oportunamente, à agenda papal.

Guerras eclodem o tempo todo.

A conta de tantos desatinos é paga por crentes e ateus, indistintamente. Daí a sabedoria colossal de Francisco ao dizer que crentes e ateus devem se unir pela paz. E contra a ganância. E por um mundo menos desigual.

Você pensa em Francisco e que sentimentos o assaltam? Cito alguns. Amor, generosidade, solidariedade, tolerância, compreensão, simplicidade, modéstia. Que magnífico exemplo para todos nós, crentes e ateus.

Certos homens, raros, são um exército em si mesmos.

Eles mudam tantas coisas tão rapidamente que você se pergunta como o mundo pôde existir sem eles.

Francisco, talvez o maior de todos os papas desde sempre, é um deles.