Começo dos anos 1980, Campo Mourão era bicampeão paranaense de futsal e a cidade respirava a modalidade. Eram vários campeonatos por ano - início de ano, férias, fim de ano, olimpíada comerciária, eles tinham os mais variados nomes – sempre disputados por muitas e fortes equipes.
Os jogadores mourãoenses que conquistaram o bicampeonato estadual (1979 e 1980) defendendo a Associação Tagliari se dividiam em equipes diferentes: Careca, Ione e o Rancho na AABB, Silvio Cintra, Raudilei Pereira, Beline e Gilmar Fuzeto na Arcam, João Miguel Baitala (sempre na memória) na Cimauto, Severo Zawadaniak defendia a Pneumar, Carlão e Itamar Tagliari, Eu e o David Cardoso jogávamos pela Casa Tapi.
Nelson de Souza |
Esse nosso time, que contava também com o Ivanor Sartor, o Sodinha, ficou invicto por um bom tempo e conquistou muitos desses campeonatos. Claro que isso acirrava a rivalidade com os amigos/adversários e até mesmo com os árbitros que sempre tinham uma tendência para ajudar nossos oponentes. Na dúvida, sempre contra nós, mas nunca ocorreu nenhum resultado que tenha sido decidido por eles, até por que tínhamos também um quadro de árbitros do mais alto nível.
Encabeçados pelo Nelson de Souza, a equipe contava com o Nilson, o Dixinha, irmão do Nelsão, Romildo Cândido Catarino, que faleceu recentemente, Javert, Lourival Policiuk, Jorge Denker entre outros.
Romildo Cândido Catarino (in memorian) , Nelsão e Jorge Denker |
De personalidade forte, Nelsão, que depois de aposentado virou juiz das peladas do Country Clube, não fugia do pau e sempre enfrentava a ira de um ou outro jogador que ele excluía das partidas, de preferência o melhor ou o mais encrenqueiro da equipe. Mas naquela época tudo se resolvia ali mesmo no ginásio e acabávamos todos nos divertindo muito com os casos de indisciplinas, uns mais sérios, outros apenas divertidos mesmo.
Num deles, que gosto muito de relembrar, os personagens principais são o Carlão Tagliari e o Nelson de Souza. Como vínhamos ganhando campeonato atrás de campeonato, torcida e adversários se empenhavam para ver a Casa Tapi derrotada, mas isso demorou acontecer e o ginasinho JK ia ficando pequeno nos dias de nossos jogos.
João Nereu Ferreira, Nilson e Nelson de Souza |
Não sei como é hoje, mas naqueles bons tempos cada equipe pagava sua taxa de arbitragem e em jogo mediado pelo Nelsão ele exigia o pagamento antes de começar a peleja e o Carlão, espirituoso como ele só, deixava para pagar sempre no final delas e o fazia apenas para irritar o tio do Everson.
Um dia, ele deu um ultimato ao Carlão: o próximo jogo só começa se o pagamento acontecer antecipado. Para meu espanto, o marido da Lori Pasinato concordou sem discutir. No jogo seguinte entramos em campo e a equipe de arbitragem nos cobrou antes de descermos do último degrau dos vestiários e o Carlão foi até a mesa abriu sua bolsa e colocou dois pacotes de moedas sobre a mesa dos juízes. Para se vingar da desfeita o Nelson de Souza, então, disse que a partida só começaria após conferirem se o valor estava correto. Ginásio lotadíssimo, torcida louca para ver os mourãoenses em ação e lá estavam dois ou três árbitros contando moedas dos mais baixos valores. Imagino que a taxa era equivalente a uns duzentos reais e o filho da dona Iris passou mais de uma semana amealhando moedas de um centavo só para irritar o ‘Nersão’.
Se ele se irritou, não sei, mas a torcida não parava de vaiar pela demora no início de um simples jogo de campeonato local e eu aqueci, esfriei, aqueci de novo e acabei indo ajudar contar as moedas que pareciam não ter mais fim.
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