Engravidar é apenas um dos riscos que você corre transando sem camisinha (e escondendo o fato do seu médico!). Conheça os sinais de que há algo errado, os exames que esclarecem dúvidas, os tratamentos disponíveis e o que fazer para escapar das DSTs
Engana-se (muito!!!) quem acha que doenças contraídas por via sexual fazem parte do passado: uma em cada dez garotas entre 15 e 24 anos atendidas nos serviços públicos de saúde apresenta alguma DST (doença sexualmente transmissível), concluiu um estudo do Ministério da Saúde divulgado em setembro de 2012. A clamídia foi encontrada em 9,8% das pacientes. "Embora na maioria das vezes não provoque sintomas, essa doença pode conduzir para inflamação pélvica e infertilidade", alerta o ginecologista e especialista em medicina reprodutiva Márcio Coslovsky, do Rio de Janeiro. A gonorreia também está ativa: 4% das participantes tiveram resultado positivo para essa infecção, que produz corrimento purulento amarelo-esverdeado e pode se alastrar para trompas e ovários. "O medo da aids nos anos 1980 levou ao aumento no uso de preservativos nas relações sexuais e consequente queda na incidência das DSTs. Mas com a chegada dos coquetéis antivirais, que mantêm o vírus HIV sob controle, a partir de 1995, houve relaxamento na prevenção e as doenças adquiridas pelo sexo voltaram com tudo", diz o ginecologista. Até a sífilis tem avançado. A liberação dos costumes, a multiplicidade de parceiros e a resistência ao uso de camisinha, segundo os especialistas, têm mantido essas enfermidades em alta. Além de causarem feridas, dores e às vezes dificuldade para engravidar, danos ao feto e até paralisia e morte (no caso da sífilis não tratada), elas favorecem a transmissão do vírus da aids. "Quem possui lesões nos genitais por infecções adquiridas sexualmente tem até 20 vezes mais risco de contrair o HIV", conta o médico Ivo Castelo Branco Coelho, coordenador do Departamento de DST da Sociedade Brasileira de Infectologia. Mas não é o caso de entrar em pânico: tem como você se prevenir.
Ameaça desvendada
Antigamente chamadas de doenças venéreas, em alusão à Vênus, deusa romana do amor e do sexo, as DSTs têm a via sexual como principal forma de transmissão. É o caso da aids, causada pelo vírus HIV, que tem o poder de enganar o sistema imunológico, deixando o organismo vulnerável a moléstias oportunistas. Entre 490 mil e 530 mil pessoas vivem com HIV no Brasil. Mas outro vírus se espalha numa velocidade ainda mais espantosa: estima-se que até 75% da população sexualmente ativa pode travar contato com o HPV (papilomavírus humano) em algum momento da vida. Se no passado ele era associado apenas às verrugas genitais (no formato de couve-flor), agora preocupa por sua relação com o câncer de colo uterino: em 97% dos casos quem desencadeia a transformação maligna é o HPV. Também de origem viral, o herpes genital provoca bolhas dolorosas e feridas nas partes íntimas, enquanto na hepatite (sobretudo B), o vírus entra por meio de pequenas lesões na mucosa recorrentes do atrito na atividade sexual e ataca o fígado, que fica sujeito a inflamações graves. Relações sexuais também podem transmitir bactérias, como as da clamídia (Chlamydia trachomatis), gonorreia (Neisseria gonorrhoeae) e sífilis (Treponema pallidum), bem como o protozoário da tricomoníase (Trichomonas vaginalis), que ocasiona corrimento esverdeado e espumoso, além de dor ao uninar.
Flagrante precoce
Nem todas as DSTs produzem aquelas feridas horrorosas que ilustram os livros de medicina. Muitas atacam à surdina. Mesmo não havendo sinal da presença do HPV, o vírus pode se instalar nas lesões cervicais microscópicas flagradas durante o exame ginecológico. A sífilis costuma provocar uma lesão inicial, que some espontaneamente, depois fica latente. Após a primeira crise, que dura em torno de 15 dias, as feridas do herpes genital somem, mas o víruspermanece no corpo. A clamídia pode passar anos sem se manifestar e só ser descoberta quando já acarreta dor, inflamação e aderência das trompas. Daí a importância de ir todo ano ao ginecologista e fazer exames para detectar esses inimigos silenciosos antes dos estragos. De acordo com o patologista Hélio Magarinos Torres Filho, presidente da regional do Rio de Janeiro da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica, há testes capazes de identificar a clamídia e a gonorreia na secreção colhida para o papanicolau (para análise de células cervicais ao microscópio). Uma técnica genética denominada PCR procura o DNA dessas bactérias e também pode localizar o vírus HPV e informar se é dos tipos 16 e 18, que oferecem maior risco de câncer. Há também testes sanguíneos para detecção desífilis e HIV. "Além do papanicolau anual, seria importante pedir de vez em quando testes específicos, sobretudo para clamídia, às mulheres sem parceiro fixo que têm entre 17 e 28 anos de idade", recomenda Márcio Coslovsky. Portanto, vá ao ginecologista uma vez por ano e sempre que surgirem sintomas como coceira, corrimento, ardência, feridas ou dor nos genitais.
Tratamento correto
Quanto antes uma DST for diagnosticada e tratada, maiores as chances de evitar complicações. Sífilis, gonorreia, clamídia e tricomoníase podem ser curadas com a administração de antibióticos apropriados. Existe tratamento para hepatite; o HIV e a herpes genital podem ser mantidos sob controle; há meios de combater as lesões por HPV na fase pré-cancerosa. "Mas nada de usar remédio por conta própria", adverte Ivo Castelo Branco. Durante muito tempo, por medo ou vergonha, ao desconfiar de DST, era comum as pessoas pedirem indicação ao balconista da farmácia. Como o acesso aos antibióticos ficou mais difícil com a exigência de retenção de receita médica desde outubro de 2010, a tendência da doença ser maltratada é ainda maior. O risco não vale a pena. Aliás, o tratamento deve se estender ao parceiro (ou parceiros) para afastar a possibilidade de a mulher voltar a se infectar numa transa futura. Mas é difícil saber quem pegou de quem: o homem pode ter se contaminado antes de ter conhecido a atual parceira ou ela ter contraído a doença em um contato sexual anterior. Algumas DSTs podem ficar anos em estado latente e se manifestar em períodos de stress e queda na resistência.
Sexo seguro
A maneira mais eficaz de você se proteger (e de quebra evitar uma gravidez indesejada) é usando camisinha nas relações sexuais. Só existe vacina contra hepatite B, fornecida gratuitamente nos postos de saúde até os 29 anos de idade, e HPV, disponível apenas nas clínicas particulares, em três doses, cada uma custando entre 300 e 400 reais (a indicação é entre 9 e 26 anos; se passou dessa idade, discuta com seu ginecologista se vale a pena). O uso da camisinha é incentivado mesmo não oferecendo 100% de proteção, pois não impede o contato com verrugas e feridas em áreas não cobertas como a virilha e a bolsa escrotal. "Se todo mundo usasse o preservativo do jeito certo - antes de qualquer contato e não só na penetração - a maior parte do perigo seria afastada", esclarece Márcio Coslovsky. Ele sugere evitar a multiplicidade de parceiros e o consumo excessivo de álcool (que leva ao descuido da proteção). E se houver apenas um parceiro? Quatro em cada dez jovens disseram que a camisinha é dispensável em relacionamento estável, conforme pesquisa recente que ouviu 1208 brasileiros entre 18 e 29 anos de 15 estados, feita com o acompanhamento do Ministério de Saúde. Mas, antes de parar de usar, o infectologista Ivo Castelo Branco lembra: "O tempo mínimo de incubação de um vírus como HIV ou HPV contraído anteriormente é de seis meses". Passado esse período, a sugestão dele para aumentar a segurança de ambos os parceiros, é os dois se submeterem a uma bateria de exames (o antigo pré-nupcial) que exclua a possibilidade de uma DST.
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