A sorte não é um jogo de azar. Os especialistas identificaram quatro hábitos que podem nos pôr no caminho da fortuna
Quando se mudou para Chicago, Anna Z. entrou em um grupo de falantes de árabe. “Adoro coisas novas”, explica ela. “Vi o grupo e pensei: por que não?” E foi um golpe de sorte: o organizador passou a infância em Fez, no Marrocos, onde Anna morava quando aprendeu o idioma. Hoje, estão casados e têm um filhinho.
Algumas pessoas diriam que o destino levou Anna ao futuro marido. Mas a abertura de Anna às estranhas possibilidades da vida a pôs no lugar certo na hora certa. A sorte não é uma força misteriosa. “Em grande medida, somos responsáveis por boa parte da sorte que temos”, diz o Dr. Richard Wiseman, professor de psicologia e autor do livro O fator sorte. Eis algumas características que separam os afortunados dos que se acham azarados.
ESPERE COISAS BOAS
Quando se sentem sortudas, as pessoas viram a balança do acaso a seu favor. “Esse tipo de expectativa provoca a concretização do que se espera”, diz Wiseman. Pesquisadores da Universidade de Nova York descobriram que os alunos que acreditavam que conseguiriam um encontro tinham probabilidade muito maior de conquistar seu objeto de desejo.
Explicação simples: autoafirmação. Quem acredita que vai se dar bem fica mais motivado. Sentir-se com sorte pode até ajudar a ganhar um prêmio num evento de caridade: quanto maior o otimismo, maior a probabilidade de comprar mais rifas. Não tem talento natural para Poliana? Amuletos ajudam a aumentar a confiança. Num estudo alemão de 2010, supersticiosos participaram de um jogo da memória; quem usava talismãs teve pontuação mais alta do que os outros.
SORTE NO NAMORO
Pessoas sortudas cultivam muitos amigos e conhecidos. Num estudo, Wiseman mostrou uma lista de sobrenomes aos participantes e lhes pediu que dissessem se tinham relações de amizade com pelo menos uma pessoa de cada sobrenome. Dos que se consideravam sortudos, quase 50% marcaram oito nomes ou mais. Somente 25% dos azarados conseguiram isso. “Os sortudos conversam com muita gente, atraem os outros e mantêm contato”, explica Wiseman. “Esses hábitos resultam numa ‘rede da sorte’ que cria potencial para ligações favoráveis.”
A Dra. Colleen Seifert, cientista cognitiva da Universidade de Michigan, aconselha a sair da rotina: vá a uma conferência, ajude a levantar recursos para uma campanha, faça aulas de mergulho. “Jogar um pouco de caos na vida nos deixa abertos a encontros ocasionais”, diz ela. Talvez aquela pessoa seja sua alma gêmea, seu sócio nos negócios ou alguém com quem você vai bater um papinho de cinco minutos e nunca mais verá. A meta é se manter aberto às possibilidades.
PROCURE O LADO BOM
Achar o valor do azar ajuda o cérebro a processar as situações de outra maneira, segundo Tania Luna, uma das autoras do livro Surprise: Embrace the Unpredictable and Engineer the Unexpected (Surpresa: abrace o imprevisível e construa o inesperado). Luna mostrou a crianças imagens emocionalmente intensas, como um menino chorando, enquanto media a atividade cerebral delas. Depois, mostrou novamente as imagens com uma explicação tranquilizadora, como: “Esse menino acabou de reencontrar a mãe.” O cérebro dos participantes apresentou uma queda drástica da atividade da amígdala, que processa o medo. Pessoas de sorte também são capazes de transformar a pedra no caminho em evento positivo, o que as ajuda a continuar correndo riscos. Enfrente seu próximo revés com as seguintes perguntas: o que aprendi? O que quero agora? Como conseguir?
CONFIE EM SEUS INSTINTOS
Elizabeth B. nunca esquecerá seu momento de mais sorte. Ela ia de carro da Pensilvânia para Nova York quando algo lhe disse para comprar um bilhete de loteria. Assim que ela parou, houve um terrível acidente: “Uma picape atravessou minha pista e bateu na grade de proteção. Se eu não tivesse parado, meu carro teria sido destruído.” Talvez a paradinha de Elizabeth tenha sido um golpe de sorte. Ou talvez a intuição a tenha avisado de que seria melhor se afastar de um motorista imprevisível. Ela não tem certeza. Mas processamos muito mais informações visuais e detalhes sensoriais do que percebemos conscientemente, e isso leva a instintos que não sabemos explicar.
Em um estudo britânico, o ritmo cardíaco dos participantes foi medido enquanto jogavam cartas com quatro baralhos. Eles não sabiam que o jogo estava preparado: dois baralhos tinham cartas de valor alto, dois tinham cartas ruins. O ritmo cardíaco dos jogadores despencava quando eles se aproximavam dos baralhos com cartas altas; seu corpo identificava a diferença antes que a mente percebesse. Portanto, confie no instinto. Pessoas de sorte têm mais tendência a adotar práticas que as põem em sintonia com a voz interior, como meditar e fazer caminhadas.