Compostas de plantas aquáticas, essas ilhas de filtragem contribuem também para o equilíbrio do ecossistema
“Onde eu nasci passa um rio”, diz uma canção de Caetano e Gal, lançada em 1967. Tão límpidas quanto as vozes desses dois artistas devem ser as águas que banham as terras natais em geral; assim, uma empresa de São Paulo tem aplicado um processo que visa justamente a esse tipo de limpeza: ela cria jardins flutuantes que são verdadeiras ilhas de purificação lacustre e fluvial.
São estruturas com uma área entre 10 m² e 15 m² cada uma que flutuam sobre lagos, rios e outros corpos d’água com o intuito de torná-los balneáveis e navegáveis. “Somos um dos pioneiros do uso dessa técnica no Brasil”, afirma Leonardo Tannous, engenheiro ambiental e sanitarista, permacultor, paisagista e diretor-geral da ÁguaV, empresa que atua nessa seara desde 2012.
Os jardins flutuantes foram implementados no Parque Burle Marx, em São Paulo. As floating islands, ou ilhas flutuantes, desenvolvidas pela companhia possuem uma base feita de garrafas PET, fornecidas por cooperativas de catadores, e tranças de mangueiras de bombeiro que são refugos da indústria.
Reciclados, esses materiais formam o esqueleto da ilha, a ser preenchido com substrato e as plantas responsáveis pelo trabalho de filtragem.
Entre as mais usadas, ele cita a copo-de-leite, sombrinha-chinesa, taboa, lírio e costela-de-adão.
A ilha é presa ao fundo ao ser amarrada por cordas e cabos de aço a blocos de concreto. Em sua parte inferior, são acrescentadas raízes artificiais feitas de resíduos da indústria têxtil. Esses prolongamentos ajudam nas funções de purificação ao concentrar bactérias e micro-organismos que atuam na degradação da matéria orgânica presente na água. O local também passa a ser um refúgio para peixes que ali depositam seus ovos.
Alguns modelos de ilha são dotados de aeradores e oxigenadores, que potencializam o trabalho de limpeza.
A ÁguaV realizou até hoje cinco projetos de ilhas flutuantes, todos no Estado de São Paulo – o número de estruturas depende do tamanho do corpo d’água e da quantidade de poluentes que nele se encontram. O tempo de projeto e implantação leva, em média, de três a seis meses. O custo de manutenção é de cerca de um décimo do de instalação.
Um demonstrativo do sistema foi implementado no Parque Burle Marx, na zona sul de São Paulo. Tannous conta que a empresa prepara uma proposta para atuar na revitalização do rio Doce. “A tecnologia poderia ser utilizada nos rios Pinheiros e Tietê”, afirma. “Antes de tentar algo nesse sentido, queremos sedimentar o conceito para conquistar o apoio público.”