Em sua coluna semanal no jornal Tribuna do Interior, o advogado, sociólogo e professor José Eugênio Maciel escreveu o texto abaixo, indignado com recente brincadeira que fizeram com um morador de rua, que tem problemas mentais, figura conhecidíssima dos mourãoenses.
Assim como outros poucos mourãoenses e o ex-vereador, num primeiro momento até me diverti vendo o Jorel com cartaz anunciando sua candidatura a vereador em 2012. Mas, logo em seguida, percebi que na verdade se aproveitavam da 'inocência' do deficiente para uma brincadeira absurda.
Muito provavelmente, os autores da brincadeira e aqueles que compartilharam fotos do Jorel-candidato pelas redes sociais não vão compreender (entender - alcançar com a inteligência) a redação do Maciel. Replico o texto exatamente para aqueles que ainda sabem diferenciar deficiente de diferente.
“A humildade não está na pobreza, não está na indulgência,
na penúria, na necessidade, na nudez e nem na fome.
A humildade está na pessoa que tendo o direito de reclamar,
julgar, reprovar e tomar qualquer atitude
compreensível no brio, apenas abençoar
Chico Xavier.
Além da facilidade e comodidade, zombar de alguém sabidamente limitado, (se não totalmente em grande parte em termos mentais), de um ser humano que não possa se defender é mais que prevalecimento, é desumano, covardia.
Jorel, como é chamado ou como se intitula, é alvo da torpeza impiedosa, do escárnio sem limites com “disfarçado” humor e “amizade”, constantemente e das mais variadas formas. Como é possível dar gargalhadas de um ser humano a mendigar e que visivelmente não dispõe plenamente das suas faculdades mentais?
É cediço o elevado número de pessoas que promovem ou apoiam atitudes voltadas para a diversão do estupor alheio, embora os que agem assim são os verdadeiros estupores que, no anonimato ou assumidamente, estão certos que não existirá qualquer reação substancial impeditiva dessa degradação a fazer de um ser humano instrumento e meio de chacota.
Eu não tenho qualquer autorização para fazer a defesa do Jorel, aliás qualquer outra pessoa faria melhor. Todavia, em se tratando de uma figura pública denegrida e aviltada por pessoas que fazem parte da mesma sociedade da qual também faço parte, expresso aqui a minha virulenta repulsa.
Pelos meios de comunicação dos mais diversos, incluindo o que circula pela internet, o tratamento é o de uma aparente brincadeira e mesmo crítica social, quando se revela cada vez mais a sordidez estúpida em zombar de uma criatura humana, volto a dizer, que não saber compreender plenamente o que lhe fazem.
Já há um razoável tempo, quando o assunto é política e com a intenção de criticar os políticos e a política de um modo geral, surge a galhofa desabrida de lançarem o Jorel para vereador. Não se trata de defender a política em sentido amplo, teórico ou concretamente com os personagens reais, aliás, convém advertir, escolhidos pelo voto do povo. É revoltante usar uma pessoa para servir de crítica, para avacalhar o chamado estado de coisas do poder, em qualquer nível, mais agora especificamente no âmbito de uma municipalidade, em vista das eleições para prefeito e vereador. Aliás, a covardia é latente na medida que ninguém concretamente é nominado no conteúdo da crítica ao poder e aos políticos, sendo o Jorel instrumento volátil e anacrônico que na verdade contém a subserviência ao estado de coisas que tanto criticam, supondo que, fazendo campanha a favor do Jorel, do voto branco ou nulo, fariam alguma mudança palpável positiva, porém contribuem mais para desmerecer a democracia, no caso omitindo-se irresponsavelmente.
São canalhas e covardes porque insultam, agridem utilizando alguém indefeso, o Jorel que cuida de cães e que no seu mundo demonstra, apesar do perambular pelas ruas, ser uma pessoa contente com ela mesma, a falar como quem dialoga consigo mesma, quando quer e como quer. Que ri e sorri pelas vias de Campo Mourão, escamoteado das regras sociais e privado de um conforto material. E muitos casos é mais fácil se conseguir doação de ração para cães do que assistir o Jorel em alguma necessidade material ou espiritual.
A covardia que também cabe referenciar é a crítica generalizada a classe política, anonimamente ou sem nominar ninguém, do tipo “ninguém presta então vamos votar no Jorel”. E é até fácil como crítica e afirmação que ele seria melhor prefeito ou vereador dos que estão no poder ou pretende dele fazer parte. E posso considerar que seria mesmo, bem mais dos que se vangloriam ao utilizá-lo para tal propósito.
À margem da sociedade mourãoense sem ser marginal no sentido da criminalidade, a gozação imposta ao Jorel faz lembrar o chamado “bobo” da corte. Porém, riem dele o rei, os súditos serviçais e os asseclas, mais indignos pelo atrelamento de um poder que não podem ousar criticar abertamente, utilizando-se do Jorel, ele que é um andarilho sem caminho certo, enquanto os que riem dele caminham escondidos com o escudo de quem bajula imaginando criticar pela discordância, de quem discorda sem assumir para não arcar com o que provavelmente condena sem assumir um papel relevante e verdadeiro.