Dona Lurdes com o Nilson no colo ao lado do seu Avelino sentados: Namir, Nilmar, Nelita, Ney e Neiva - Campo Mourão/PR - anos 1960 |
Fotos mostram duas fases da família Piacentini em Campo Mourão. Acima, seu Avelino (in memorian) e dona Lurdes posam com os filhos em meados dos anos 1960.
Na foto abaixo, mais recente, mostra a matriarca ao lado dos filhos já 'grandões'.
Nilmar, Nilson, Neiva, Namir, Dona Lurdes, Ney e Nelita - Campo Mourão/PR - anos 2010 |
Em março de 2011, meu amigo Wille postou a matéria abaixo sobre a família Piacentini em Campo Mourão, através de relato da dona Lurdes.
Avelino Piacentini não entendia de churrasco
(Do Blog do Wille Bahtke Jr. )
Quem nos conta a saga deste gaúcho que não sabia fazer churrasco mas gostava de um bom mate e que teve a churrascaria mais famosa de Campo Mourão é a sua mulher Lurdes, que também tem uma historia linda. “Amei Campo Mourão desde o primeiro dia que aqui cheguei. Hoje vivo feliz, com minha família e com Deus”.
Avelino Piacentini, viveu a infância num lugar chamado 28. “Ele me dizia que estudou muito pouco porque sabia mais do que a professora.. (risos). Com 8 anos o pai faleceu. Morou e trabalhou com os tios Vitório e Pedro Bambini, em Espumoso. Um tinha fabriqueta de bebidas - que depois o Avelino tomou conta - e o outro lidava com armazém. Ele também trabalhou de pedreiro e sapateiro quando era meninote”, narra dona Lurdes.
Família - “Minha infância foi maravilhosa. Não tinha tempo para brincar porque mamãe dava aulas. Eu era a mais velha, cuidava da casa, socava arroz no pilão, cuidava do fogão e dos irmãos. Quando chegava sábado eu passeava na casa da nona (avó) Virgínia. Rezávamos o terço de joelhos e formávamos um coralzinho. Tinha um primo (Hermes Laner) que tocava violão e a gente cantaaavaa, atééé e, à noite dançava”, recorda com saudades. “O que eu mais gostava era aquele frango de terreiro cozido com mandioca do quintal e as bolachinhas de polvilho que a tia Lúcia fazia... aiii que gostoso!! exclama dona Lurdes. “Nos fins de semana, as primas vinham de longe e a gente passeava no potreiro (pasto), catava guavirova, uvaia e tomava banho no arroio (riacho). Nós sentávamos na sobra das árvores e contávamos aqueeeelas históóórias. Um dia quase me afoguei!! (rindo muito). Minha prima disse: Olha como eu sento em cima da água!.. eu fui sentar, afundei e ela me acudiu. Riiiaaa... e me disse: Não viu que tô sentada em cima de uma pedra meio fundinha, sua tonga (boba)?! (risos). O pai de Lurdes vendeu o armazém de Santo Antonio e comprou uma serraria em Quebra Dente. “Lá ficamos seis anos. Papai demorou começar a vender aquelas pilhas de madeira. Mamãe era professora. Me levava prá roça e plantávamos batata, mandioca, milho... de tudo. Construímos uma igrejinha e uma escolinha prá mamãe dar aulas. As vendas de madeiras melhoraram e papai progrediu. Ai chegou o padre Augusto Ricci e disse: Agora sim eu vou comer e dormir bem! - Ele contava que dormia em cima de tábuas e só comia mandioca com água!.. Mamãe fazia comida e arrumava a cama dele, bem jeitosinha!”, conta dona Lurdes.
Vida melhor - “Papai começou a ganhar dinheiro e disse que ia educar bem os filhos. Me colocou num colégio muito bom de Passo Fundo, das irmãs Vicentinas, como tem aqui o Santa Cruz. Lá eu terminei o quinto ano. Morei com minha avó Luíza Dalondre, ajudava ela na casa, cuidava de cinco tios pequenos, tirava leite da vaquinha e papai ainda, pagava 100 cruzeiros de pensão prá mãe dele me cuidar. Tinha quatro tias cabeleireiras, muito vaidosas. Elas me deixavam bonita e tiravam muito sarro de mim porque eu trocava o “L” pelo “R”. Na minha casa só se falava em italiano. Na escola aprendi bem o português e parei de dizer grôbo... bicicréta... almário... dinheilo...”, conta sorrindo. Voltou para casa com quase 18 anos e não quis mais falar em italiano. “Papai vendeu a serraria, voltou prá Santo Antonio e comprou outro armazém. Minha mãe parou de lecionar e comecei a ser professora (dois anos e meio) na mesma escolinha onde estudei quando criança. Daí comecei a namorar e já viu, né??!!!... (risos).
Namoro - “Conheci o Avelino numa festa de Santo Antonio, nome do mesmo lugar onde papai tinha armazém. Meu namorado engarrafava pinga e vinho de Chapecó, na fábrica de refrigerante. Papai comprava muito dele e assim a gente trocou uns olhares e começou o namoro que durou dois anos”.
Seu Avelino e dona Lurdes |
Casamento - Casaram-se mesmo contra a vontade do pai da noiva, que achava que a filha era muito nova e tinha que ajudar em casa. “Fomos morar numa casa boa, bem mobiliada. Os móveis eram maciços e tenho minha cama de casal, um armário e uma mesinha até hoje. O marceneiro era o João Montemezzo, que depois veio para Campo Mourão. Meu marido era bem de vida. Nossa segunda casa era de tijolo e chique. Ampliou a fábrica de guaraná, mas jogava baralho. Tinha uns doutores lá que gostavam muito de jogar e não davam folga para ele. O nosso guarda-livro (contabilista) era meu primo Ermenegildo Dolci, que depois veio trabalhar nos Trombini”, conta dona Lourdes. “Nesse tempo, bem antes, o Arlindo (irmão de Avelino) vinha prá cá vender charque e banha de porco e quando voltava falava muito bem de Campo Mourão. Dizia que era um lugar pequeno, de muito mato mas de grande futuro”, revela. “Foi quando meu marido me disse que ia mudar de vida e veio prá cá, sozinho, em 1951, de carro de praça (taxi) com o amigo Revílio Castamante e pararam na Campina do Amoral. Ali moravam os Ferri e o Avelino tinha trabalhado no armazém deles lá em Espumoso”. - Aqui o Fioravante João Ferri e o Ivo Mário Trombini não deixaram o Avelino voltar. Aí já comprou um terreno da prefeitura. O Ferri deu as madeiras, o Ivo e o Armelindo (Trombini) financiaram as telhas... arrumaram carpinteiro e começou a construir a casa ali onde até hoje tem a churrascaria. Fez a armação, o telhado e foi nos buscar."
Studbacker - "Vendeu tudo lá em Espumoso por 28 mil cruzeiros. Veio com idéia de por uma fábrica de bebida. Um caminhão novo, Studbacker trouxe a mudança e junto vieram mais cinco amigos prá conhecer aqui e todos ajudaram a terminar a casa. No dia que chegamos não tinha vaga no hotel e nos hospedamos na casa da dona Dejanira Hoffman. O Avelino rodou Campo Mourão e não achou água de boa qualidade prá fabricar guaraná. Só tinha uma mina que era na chácara do Reiffur, mas ele não quis ceder de jeito nenhum. Ai o Fioravante falou: por quê tu não montas uma churrascaria. Aqui não tem nenhuma?! – O Avelino respondeu: Como, se eu não sei fazer churrasco?!, brinca dona Lurdes.
Chegada – “Chegamos aqui dia 12 de janeiro de 1952 e já começamos a construir a churrascaria, inaugurada dia 22 de fevereiro do mesmo ano. Era tudo de madeira, coberta de telhas, piso de chão (batido), portas e janelas de tábuas também... seis mesinhas de madeira bruta... (risos). A casa e a Churrascaria Marabá eram bem rente da rua (Av. Irmãos Pereira, entre as ruas São Paulo e Mato Grosso). Marabá é nome de índio e o Dickson Fragoso Veras (jornalista falecido) contava a história do personagem, pintou um quadro do Marabá que tenho guardado com muito cuidado”, segredou dona Lourdes.
Churrasqueiro – Quando a Churrascaria Marabá começou a funcionar o Avelino aprendeu fazer o churrasco com os fregueses. A gente tinha que produzir o próprio carvão. Depois surgiram uns produtores ali no Barreiro das Frutas. A carne ele comprava no Açougue São Pedro (atual Açougue Estrela), do seo Pedro Gênero e transportava nas costas até a churrascaria. As caixas de bebidas, também... tudo nas costas. A geladeira e a água a gente usava dos Trombini que fica em frente. E eu ficava de lá prá cá, buscando as coisas. A louça e os talhares eram da minha cozinha. Só tinha as mesas e um botequinho na frente. Não tinha luz e puxamos uma tomada do gerador dos Trombini, gente que até hoje é especialíssima prá nós. O Avelino um dia disse prá eles: como vou pagar tudo que vocês fazem prá mim??.. – O Ivo respondeu: “Manda todo dia um pedaço de carne lá prá casa, tá pago!!.. (risos).
Santa Cruz – Quando cheguei fiquei encantada com o Instituto Santa Cruz, aquele casarão de madeira e as irmãs com aqueles chapéus branquinhos. Eu ficava admirada como eram limpinhos apesar da poeira vermelha de Campo Mourão. Eram as mesmas Vicentinas do colégio que estudei em Passo Fundo. Eu falei: esse colégio é uma benção, pelo menos posso dar bom estudo para meus filhos. Todo mês eu escrevia uma carta prá mamãe e contava tudo. Contei que o Avelino tinha mudado de vida (não jogava mais baralho) e que só pensava no conforto da família e na educação dos filhos. Isso para mim foi a maior felicidade. Contava também que tínhamos muito trabalho, muitos amigos e que Campo Mourão era uma cidade maravilhosa... e mamãe ficava tãoo felizzz!!
Futebol - Meu marido sempre gostou de futebol e jogava bem. A praça era um terreiraõ onde os amigos jogavam bola, e o Avelino era beque (zagueiro) e fazia a defesa com seu Domingos do Hotel Ponto Chic e o Casimiro Biaico da prefeitura. Tinha o seu Alcir (Costa Schen), Vitório (Doré), o Ivo e o Armelindo Trombini, o Nerci (Anghebem), o Malluf (Romeu Marczinski) era goleiro e mais tarde lembro do seu Osvaldo da farmácia (Osvaldo Wronski), todos do Operário FC, que era o time dos pobres, e tinha a Associação que era dos granfinos. Me lembro que o promotor Rui Saldanha dirigia o quadro dos doutores. O maior rival do nosso futebol era Peabiru (ACERP - Associação Esportiva e Recreativa de Peaberu).
O engraçado é que quando iam jogar as pessoas falavam: vamos assistir a briga de Campo Mourão e Peaberu? -É que sempre dava brigas pesadas. Uma vez o Internacional de Porto Alegre veio jogar em Peabiru e o time de lá tinha mais jogadores de Campo Mourão do que deles, porque os nossos jogavam melhor! ... lembra dona Lurdes, rindo muito.
1958 - Enquanto faziam a praça e o estádio, o União jogava num terreno improvisado, atrás do Clube 10 de Outubro. Era cercado e tinha bilheterias.
Campo Mourão – "Lá no sul a terra era quebrada (montanhosa) e toda cultivada. Quando cheguei era aquele matão, um macegão (capoeira) e ficava imaginando porque não tinha plantações. É que o povo estava chegando prá desbravar. Vinha gente de toda parte. Me lembro que fomos passear no Barreiro das Frutas e conheci a tal da banana.... (risos). Lá no Sul é frio, não tinha disso, quase, né??!! - Na minha chegada a dona Maria (mãe dos Trombini) me recebeu alegre: agora tenho com quem falar em italiano!!. e me ofereceu um prato de comida pronta!!"
O primeiro – Avelino Piacentini é pioneiro em churrascaria em Campo Mourão. Depois vieram as churrascarias do Bosque (Vani Borges) e a Los Pampas (dos Tagliari). "O nosso primeiro assador foi um rapazinho que ele buscou em Espumoso e se chamava Francisco Grandi. Depois ele trouxe um menino que estava preso em Mamborê, o Plínio, que casou com a Maria (fomos padrinhos) que tem um filho casado com a filha da Odete Durski. O Adão é o churrasqueiro que mais tempo trabalhou com a gente”, recorda dona Lurdes.
Resultados – A grande participação do Avelino foi no futebol e na sociedade. Participamos de todos os momentos esportivos e políticos da cidade. Foi delegado de Polícia e diretor-campeão do União Operário FC (1961). Dançava tango de primeira qualidade. Tinha que ter uma boa parceira, porque eu não dançava bem. Sou ciumenta mas não ligava muito... (risinhos amarelos). Com os recursos da churrascaria investiu em Universidade para formar os filhos e aplicou tudo que ganhou, em Campo Mourão. Associou na Madepinho (Bruno Ghering e Rosalino Salvadori), na Cima (com a família Ferrari). Com os sócios fundou o Restaurante e o Cine Plaza. Trabalhou no restaurante. Hipotecou bens e construiu o Hotel Piacentini, que tocamos por 10 anos enquanto a churrascaria foi arrendada. Construiu esta bela casa e me deixou bem situada na vida. Estávamos há 40 anos casados quando ele faleceu (4 de julho de 1988). “Eu vivo bem. Tenho uma família que adoro e muitas amizades que amo de coração. Gosto da vida que Deus me dá e todos os dias vou a Missa onde estiver, para agradecer tudo que tenho. Participo de novenas, Clube da Terceira Idade e até recebi um Diploma de Pioneira, que divido com meu marido, porque tudo o que tenho eu devo a ele.”
A Preferida - “Nossa churrascaria foi um sucesso. Domingo lotava. Vinha muita gente comprar terras e todo mundo comia lá. Descia e subia muito teco-teco aqui. Todos os políticos que visitavam Campo Mourão, e eram muitos, se serviam lá também. Muitas questões políticas e negócios foram decididos dentro da Churrascaria Marabá.
"Muitas decisões políticas em Campo Mourão foram realizadas na Churrascaria Marabá, aí da pra ver o Avelino do lado do deputado Armando (Queiroz de Morais)
Fazia tudo - "Com o dinheiro que entrava, pagamos todas as contas. Eu ajudava. Era garçonete, lavava a louça, ia fazer as comprinhas na Casa Amaral (Ângelo Amaral)... cuidava do caixa e o Avelino tratava da carne e da freguesia. Aumentamos a casa. Cada família que vinha do Rio Grande para comprar terra ou arrumar emprego, ficava lá em casa. Comiam, bebiam, eu lavava toda a roupa - tudo de graça - até se estabelecerem. Depois abrimos um poço de água e o Nilo Saldanha (DER) era nosso vizinho. Nós afundávamos nosso poço... faltava água no dele. Ele afundava o dele... faltava no nosso (rindo muito). Pegamos a mesma veia de água!, explica. Daí abrimos outro e acabou o problema.
Aí o Avelino comprou uma bicicleta (nem sabia pedalar) e uma geladeira na Loja A Musical, da Odete e do Janguito Durski. Depois ele montou uma carriolinha atrás da bicicleta e puxava a carne e as compras e, assim fomos crescendo juntos com Campo Mourão, que hoje é essa maravilha de cidade”, concluiu dona Lurdes Pianna Piacentini.
Avelino Piacentini, filho de Romilda Bambini e André Piacentini, nasceu dia 9 de julho de 1922, em Guaporé, Município de Muçum (RS). Dona Lurdes Maria Pianna, filha de Rosália Laner e Recieri Pianna, nasceu dia 21 de abril de 1928, em Três Passos (RS). “Eu sou a primeira. Daí tem mais nove: Geni, Aurora, Carlos, Mirto, Décio, Pedro, Bernadete e Valdir. Na irmandade do Avelino eram sete e ele o caçula: Adelaide, Alcídes, Alda, Arlindo, Altiva, Ale, Daniel, Ébano, Marco André, Ennzo, Mahane e Tagin- Mahal”, nomina a vovó Lurdes, toda orgulhosa.
Um comentário:
Valeu Luizinho, obrigado pelo espaço no seu Baú.
Qeer dia eu te conto a minha versão cômica desta minha família.
Abraços, Ney P.
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