5 de novembro de 2008

Yes, We Can

Política não é a minha praia, mas gosto muito de estar por dentro do que acontece e do que pode acontecer por causa dela. Tenho simpatia pelas propostas do novo presidente americano e procurando algo sobre a sua eleição encontrei esse ótimo e esclarecedor texto, no Blog do Ricardo Noblat.
O que torna histórica a vitória de Obama


Há muitos componentes para justificar a natureza histórica da eleição de Barack Obama para presidente dos Estados Unidos. O primeiro e mais evidente é a cor da pele dele. Entre nós Omaba seria chamado de mulato. Para os norte-americanos ele é negro. E não faz mais do que 44 anos que a um negro foi permitido nos Estados Unidos entrar em transporte coletivo e ocupar o assento que quisesse.
Obama foi suficientemente esperto para não se apresentar como o candidato dos negros. Ou dos negros e dos hispânicos. Ou dos negros, hispânicos e demais minorias que compõem o extraordinário mosaico multiracial da pátria de todos os migrantes. Obama se ofereceu como o candidato para além das raças. Como um genuíno representante do país de todas as raças. E essa foi uma das razões de sua vitória.
Ela é também histórica porque pela primeira vez nos últimos 100 anos - ou mais - os norte-americanos elegeram um candidato de fora do establishment dos partidos. O candidato do establishment do Partido Democrata era a senadora Hillary Clinton, mulher do ex-presidente Bill Clinton, que por oito anos governou o país. A escolha de Hilary era pule de dez até ela esbarrar em Obama.
E quem era Obama antes de se consagrar presidente dos Estados Unidos? Um líder comunitário que em 1996 foi eleito ao Senado de Illinois (orgão integrante da Assembléia Geral de Illinois, que constitui o poder legislativo local). Foi reeleito em 2000. E somente em 2004 se elegeu senador dos Estados Unidos. Seu atual mandato deveria terminar em 2011.
É duplamente jovem, portanto. Tem 47 anos de idade e apenas quatro como frequentador assíduo da corte em Washington. Seria impensável que alguém com tão pouca experiência política e que jamais ocupou um cargo executivo fosse capaz de de derrotar, primeiro, a máquina do Partido Democrata se impondo como candidato. E, depois, a máquina do Partido Republicano que por duas vezes elegeu Bush presidente.
E aqui vai outro componente a mais para reforçar o caráter histórico da eleição de Obama: quem ganhou foram aqueles que acreditaram que era possível, sim, renovar a política norte-americana. "Yes, we can", berraram cerca de um milhão de pessoas que se juntaram ontem à noite em um parque de Chicago para ouvir Obama falar. "Yes, we can", repetiram milhões de outras pelo país a fora.
A vitória de Obama foi arrasadora. Ele ganhou com folga no Colégio Eleitoral e no voto popular. E os norte-americanos ainda lhe deram maioria no Senado e na Câmara dos Deputados. Sempre se poderá dizer que o maior cabo eleitoral de Obama foi Bush com seu desastroso governo. E que a crise financeira que sacode o mundo ajudou a sepultar as últimas chances de McCain se eleger.
Tudo isso é verdade - e daí? Nada diminui o brilho de uma vitória que em março último, vejam bem, há apenas oito meses, parecia mais do que improvável. Pois bem: em prazo tão curto, Obama soube vender de forma convincente o sonho da mudança. E, mais importante: soube levar milhões de norte-americanos a se comportarem como agentes da mudança.
Por um lado, a campanha dele foi convencional porque dispôs de todos os recursos postos à disposição de qualquer campanha que tenha dinheiro. Por outro lado, foi uma campanha atípica, heterodoxa. Porque dependeu para que desse certo da intensa participação dos eleitores. Foi isso que explicou o elevado grau de comparecimento às urnas de eleitores que não são obrigados a votar.
Em janeiro, quando despachar pela primeira vez no Salão Oval de Casa Branca, Obama certamente sentirá saudades dos meses de campanha e se lembrará deles como meses relativamente amenos e agradáveis se comparados com os que terá pela frente.

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