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14 de maio de 2015

40 livros que vão fazer você morrer de saudades da infância

Prepare-se para rever grandes amigos, como Narizinho, os Karas e Lúcia, a lesma.

1. O Bichinho da Maçã, Ziraldo
O bichinho da maçã, que se chamava Izaquenilton (Isaac Newton, pegou?), era o maior contador de causos da Jardim do Éden. Ganhou vários outros livrinhos.

2. Marcelo, Marmelo, Martelo e Outras Histórias
Nas “outras histórias”, conhecemos o dono da bola e as vizinhas Teresinha e Gabriela.

3. Reinações de Narizinho, Monteiro Lobato
A porta de entrada para o universo fantástico do Sítio do Picapau Amarelo.
Na verdade, a coleção toda vinha assim nos anos 80: ao completá-la, você formava o nome do autor.

4. Lúcia Já-Vou-Indo, Maria Heloísa Penteado
Lúcia demorava tanto para chegar na comemoração que perdia a festa. Mas claro que sua aventura não terminava aí.

5. O Mistério do Cinco Estrelas, Marcos Rey
A obra-prima do escritor que também adaptava literatura para televisão.

6. A Bruxinha Atrapalhada, Eva Furnari
Um traço inesquecível!

7. O Gênio do Crime, João Carlos Marinho
Clássico para mais de uma geração.

8. Série Eu, Detetive, Stella Carr
Para quem queria bancar o detetive.

9. A Droga da Obediência, Pedro Bandeira
Primeira aventura dos Karas, um grupo de estudantes que investigava crimes. Quem não queria ser um deles?

10. Bisa Bia, Bisa Bel, Ana Maria Machado
Um fantástico encontro de passado, presente e futuro através de uma “tatuagem” de fotografia.

11. A Bolsa Amarela, Lygia Bojunga Nunes
A maior piração de uma infância: uma menina que não se encaixa nos padrões ganha uma bolsa, onde abriga um galo de briga que não quer brigar, entre outros “moradores” malucos.

12. Os Colegas, Lygia Bojunga

13. O Fantástico Mistério de Feiurinha, Pedro Bandeira
Uma história sobre o que acontece DEPOIS do “e viveram felizes para sempre” dos contos de fada.

14. O Menino Maluquinho, Ziraldo
Obra-prima do Ziraldo tem personagem que virou filme.

15. A História do Galo Marquês, Ganymedes José
Um dos autores mais populares para crianças, Ganymedes contou uma história da época da escravidão (que me fez chorar por três dias seguidos ao terminar de ler o livro na 4ª série).

16. O Escaravelho do Diabo, Lúcia Machado de Almeida
A primeira vez que muitos de nós descobrimos o que era, afinal, um *escaravelho*.

17. Ou Isto ou Aquilo, Cecília Meireles
O primeiro contato de um montão de crianças com a poesia.

18. Flicts, Ziraldo
Além de um bichinho da maçã que parece o Carlos Alberto da Praça e um menino que anda com panela na cabeça, a imaginação do Ziraldo ainda criou uma cor. E uma história para ela.

19. O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá, Jorge Amado
Um amor impossível entre um felino e um passarinho. SPOILER: o fim é trágico.

20. Raul da Ferrugem Azul, Ana Maria Machado
Certeza que quem leu já procurou umas manchinhas pela própria pele depois de deixar de fazer alguma coisa que devia ter feito.

21. Maneco Caneco, Chapéu de Funil, Luís Camargo
Um herói nascido da bagunça.

22. Menina Bonita do Laço de Fita, Ana Maria Machado
Um coelhinho apaixonado.

23. Nicolau Tinha uma Ideia, Ruth Rocha
Um livro interativo muito antes da internet.

24. Coleção O Cachorrinho Samba, Maria José Dupré
Ele sassaricava pela floresta, na fazenda… Êta cachorrinho passeadeiro.

25. A Maldição do Silêncio, Marcia Kupstas
O primeiro contato de muitos leitores com um tema grave, a leucemia.

26. O Gato do Mato e o Cachorro do Morro, Ana Maria Machado

27. O Diário Escondido da Serafina, Cristina Porto
Serafina gosta de escrever escondida. O resultado é esse diário escondido.

28. Panela de Arroz, Luís Camargo
O retorno de Maneco Caneco Chapéu de Funil!

29. Pedrinho Esqueleto, Stella Carr
Quando um de seus colegas se transforma em um esqueleto luminoso (e manco), o que fazer?

30. E o Vento Levou… O Balão de Joaninha

31. Sapo Vira Rei Vira Sapo, Ruth Rocha
O livrinho, como outros desta coleção, vinha com trilha sonora. Com músicas de Chico Buarque.

32. Suriléa-Mãe-Monstrinha, Lia Zatz e Eva Furnari
Quando a única forma de ser mãe de duas era se transformar em um monstro.

33. Tuca, Vovó e Guto, Mary e Eliardo França

34. Um Cadáver Ouve Rádio, Marcos Rey

35. Uxa, Ora Fada, Ora Bruxa, Sylvia Orthof

36. Chapeuzinho Amarelo, Chico Buarque


37. O Rapto do Garoto de Ouro, Marcos Rey

38. Romeu e Julieta, Ruth Rocha
Um clássico de Shakespeare revivido por borboletas.

39. Uma Velhinha de Óculos, Chinelos e Vestido Azul de Bolinhas Brancas, Ricardo Azevedo
Quantas possibilidades existem por trás de cada pessoa que a gente vê na rua?

40. Zero Zero Alpiste, Mirna Pinsky
No seu primeiro livro infantil, a autora mostra que homem chora, sim.

20 de novembro de 2014

Os melhores poemas de Manoel de Barros


A Revista Bula, com a ajuda de seus leitores e colaboradores — escritores, jornalistas, professores — apontou os poemas mais significativos de Manoel de Barros, um dos mais aclamados poetas contemporâneos brasileiros. Nascido em Cuiabá em 1916, Manoel de Barros estreou em 1937 com o livro “Poemas Concebidos sem Pecado”. Sua obra mais conhecida é o “Livro sobre Nada”, publicado em 1996.

Cronologicamente vinculado à Geração de 45, mas formalmente ao Modernismo brasileiro, Manoel de Barros criou um universo próprio — subvertendo a sintaxe e criando construções que não respeitam as normas da língua padrão —, marcado, sobretudo, por neologismos e sinestesias, sendo, inclusive, comparado a Guimarães Rosa.

Em 1986, o poeta Carlos Drummond de Andrade declarou que Manoel de Barros era o maior poeta brasileiro vivo. Antonio Houaiss, um dos mais importantes filólogos e críticos brasileiros escreveu: “A poesia de Manoel de Barros é de uma enorme racionalidade. Suas visões, oníricas num primeiro instante, logo se revelam muito reais, sem fugir a um substrato ético muito profundo. Tenho por sua obra a mais alta admiração e muito amor”. Os poemas publicados nesta seleção fazem parte do livro “Manoel de Barros — Poesia Completa Bandeira”, editora Leya. Por motivo de direitos autorais, apenas trechos dos poemas foram publicados.



O livro sobre nada

É mais fácil fazer da tolice um regalo do que da sensatez.
Tudo que não invento é falso.
Há muitas maneiras sérias de não dizer nada, mas só a poesia é verdadeira.
Tem mais presença em mim o que me falta.
Melhor jeito que achei pra me conhecer foi fazendo o contrário.
Sou muito preparado de conflitos.
Não pode haver ausência de boca nas palavras: nenhuma fique desamparada do ser que a revelou.
O meu amanhecer vai ser de noite.
Melhor que nomear é aludir. Verso não precisa dar noção.
O que sustenta a encantação de um verso (além do ritmo) é o ilogismo.
Meu avesso é mais visível do que um poste.
Sábio é o que adivinha.
Para ter mais certezas tenho que me saber de imperfeições.
A inércia é meu ato principal.
Não saio de dentro de mim nem pra pescar.
Sabedoria pode ser que seja estar uma árvore.
Estilo é um modelo anormal de expressão: é estigma.
Peixe não tem honras nem horizontes.
Sempre que desejo contar alguma coisa, não faço nada; mas quando não desejo contar nada, faço poesia.
Eu queria ser lido pelas pedras.
As palavras me escondem sem cuidado.
Aonde eu não estou as palavras me acham.
Há histórias tão verdadeiras que às vezes parece que são inventadas.
Uma palavra abriu o roupão pra mim. Ela deseja que eu a seja.
A terapia literária consiste em desarrumar a linguagem a ponto que ela expresse nossos mais fundos desejos.
Quero a palavra que sirva na boca dos passarinhos.
Esta tarefa de cessar é que puxa minhas frases para antes de mim.
Ateu é uma pessoa capaz de provar cientificamente que não é nada. Só se compara aos santos. Os santos querem ser os vermes de Deus.
Melhor para chegar a nada é descobrir a verdade.
O artista é erro da natureza. Beethoven foi um erro perfeito.
Por pudor sou impuro.
O branco me corrompe.
Não gosto de palavra acostumada.
A minha diferença é sempre menos.
Palavra poética tem que chegar ao grau de brinquedo para ser séria.
Não preciso do fim para chegar.
Do lugar onde estou já fui embora.


O apanhador de desperdícios

Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim um atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato
de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.

Retrato do artista quando coisa

A maior riqueza
do homem
é sua incompletude.
Nesse ponto
sou abastado.
Palavras que me aceitam
como sou
— eu não aceito.
Não aguento ser apenas
um sujeito que abre
portas, que puxa
válvulas, que olha o
relógio, que compra pão
às 6 da tarde, que vai
lá fora, que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc.
Perdoai. Mas eu
preciso ser Outros.
Eu penso
renovar o homem
usando borboletas.

O fazedor de amanhecer

Sou leso em tratagens com máquina.
Tenho desapetite para inventar coisas prestáveis.
Em toda a minha vida só engenhei
3 máquinas
Como sejam:
Uma pequena manivela para pegar no sono.
Um fazedor de amanhecer
para usamentos de poetas
E um platinado de mandioca para o
fordeco de meu irmão.
Cheguei de ganhar um prêmio das indústrias
automobilísticas pelo Platinado de Mandioca.
Fui aclamado de idiota pela maioria
das autoridades na entrega do prêmio.
Pelo que fiquei um tanto soberbo.
E a glória entronizou-se para sempre
em minha existência.


Tratado geral das grandezas do ínfimo

A poesia está guardada nas palavras — é tudo que eu sei.
Meu fado é o de não saber quase tudo.
Sobre o nada eu tenho profundidades.
Não tenho conexões com a realidade.
Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro.
Para mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias (do mundo e as nossas).
Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.
Fiquei emocionado.
Sou fraco para elogios.

Prefácio

Assim é que elas foram feitas (todas as coisas) —
sem nome.
Depois é que veio a harpa e a fêmea em pé.
Insetos errados de cor caíam no mar.
A voz se estendeu na direção da boca.
Caranguejos apertavam mangues.
Vendo que havia na terra
Dependimentos demais
E tarefas muitas —
Os homens começaram a roer unhas.
Ficou certo pois não
Que as moscas iriam iluminar
O silêncio das coisas anônimas.
Porém, vendo o Homem
Que as moscas não davam conta de iluminar o
Silêncio das coisas anônimas —
Passaram essa tarefa para os poetas.

Os deslimites da palavra

Ando muito completo de vazios.
Meu órgão de morrer me predomina.
Estou sem eternidades.
Não posso mais saber quando amanheço ontem.
Está rengo de mim o amanhecer.
Ouço o tamanho oblíquo de uma folha.
Atrás do ocaso fervem os insetos.
Enfiei o que pude dentro de um grilo o meu
destino.
Essas coisas me mudam para cisco.
A minha independência tem algemas

Aprendimentos

O filósofo Kierkegaard me ensinou que cultura
é o caminho que o homem percorre para se conhecer.
Sócrates fez o seu caminho de cultura e ao fim
falou que só sabia que não sabia de nada.

Não tinha as certezas científicas. Mas que aprendera coisas
di-menor com a natureza. Aprendeu que as folhas
das árvores servem para nos ensinar a cair sem
alardes. Disse que fosse ele caracol vegetado
sobre pedras, ele iria gostar. Iria certamente
aprender o idioma que as rãs falam com as águas
e ia conversar com as rãs.

E gostasse mais de ensinar que a exuberância maior está nos insetos
do que nas paisagens. Seu rosto tinha um lado de
ave. Por isso ele podia conhecer todos os pássaros
do mundo pelo coração de seus cantos. Estudara
nos livros demais. Porém aprendia melhor no ver,
no ouvir, no pegar, no provar e no cheirar.

Chegou por vezes de alcançar o sotaque das origens.
Se admirava de como um grilo sozinho, um só pequeno
grilo, podia desmontar os silêncios de uma noite!
Eu vivi antigamente com Sócrates, Platão, Aristóteles —
esse pessoal.

Eles falavam nas aulas: Quem se aproxima das origens se renova.
Píndaro falava pra mim que usava todos os fósseis linguísticos que
achava para renovar sua poesia. Os mestres pregavam
que o fascínio poético vem das raízes da fala.

Sócrates falava que as expressões mais eróticas
são donzelas. E que a Beleza se explica melhor
por não haver razão nenhuma nela. O que mais eu sei
sobre Sócrates é que ele viveu uma ascese de mosca.

O menino que carregava água na peneira

Tenho um livro sobre águas e meninos.
Gostei mais de um menino
que carregava água na peneira.

A mãe disse que carregar água na peneira
era o mesmo que roubar um vento e
sair correndo com ele para mostrar aos irmãos.

A mãe disse que era o mesmo
que catar espinhos na água.
O mesmo que criar peixes no bolso.

O menino era ligado em despropósitos.
Quis montar os alicerces
de uma casa sobre orvalhos.

A mãe reparou que o menino
gostava mais do vazio, do que do cheio.
Falava que vazios são maiores e até infinitos.

Com o tempo aquele menino
que era cismado e esquisito,
porque gostava de carregar água na peneira.

Com o tempo descobriu que
escrever seria o mesmo
que carregar água na peneira.

No escrever o menino viu
que era capaz de ser noviça,
monge ou mendigo ao mesmo tempo.

O menino aprendeu a usar as palavras.
Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.
E começou a fazer peraltagens.

Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela.
O menino fazia prodígios.
Até fez uma pedra dar flor.

A mãe reparava o menino com ternura.
A mãe falou: Meu filho você vai ser poeta!
Você vai carregar água na peneira a vida toda.

Você vai encher os vazios
com as suas peraltagens,
e algumas pessoas vão te amar por seus despropósitos!

Uma didática da invenção

I

Para apalpar as intimidades do mundo é preciso saber:
a) Que o esplendor da manhã não se abre com faca
b) O modo como as violetas preparam o dia para morrer
c) Por que é que as borboletas de tarjas vermelhas têm devoção por túmulos
d) Se o homem que toca de tarde sua existência num fagote, tem salvação
e) Que um rio que flui entre 2 jacintos carrega mais ternura que um rio que flui entre 2 lagartos
f) Como pegar na voz de um peixe
g) Qual o lado da noite que umedece primeiro.
etc.
etc.
etc.
Desaprender 8 horas por dia ensina os princípios.

II

Desinventar objetos. O pente, por exemplo.
Dar ao pente funções de não pentear. Até que
ele fique à disposição de ser uma begônia. Ou
uma gravanha.
Usar algumas palavras que ainda não tenham
idioma.

III

Repetir repetir — até ficar diferente.
Repetir é um dom do estilo.

IV

No Tratado das Grandezas do Ínfimo estava
escrito:

Poesia é quando a tarde está competente para dálias.
É quando
Ao lado de um pardal o dia dorme antes.
Quando o homem faz sua primeira lagartixa.
É quando um trevo assume a noite
E um sapo engole as auroras.

V

Formigas carregadeiras entram em casa de bunda.

VI

As coisas que não têm nome são mais pronunciadas
por crianças.

VII

No descomeço era o verbo.
Só depois é que veio o delírio do verbo.
O delírio do verbo estava no começo, lá
onde a criança diz: Eu escuto a cor dos
passarinhos.
A criança não sabe que o verbo escutar não
funciona para cor, mas para som.
Então se a criança muda a função de um
verbo, ele delira.
E pois.
Em poesia que é voz de poeta, que é a voz
de fazer nascimentos —
O verbo tem que pegar delírio.

VIII

Um girassol se apropriou de Deus: foi em
Van Gogh.

IX

Para entrar em estado de árvore é preciso
partir de um torpor animal de lagarto às
3 horas da tarde, no mês de agosto.
Em 2 anos a inércia e o mato vão crescer
em nossa boca.
Sofreremos alguma decomposição lírica até
o mato sair na voz .
Hoje eu desenho o cheiro das árvores.

X

Não tem altura o silêncio das pedras.

Manoel de Barros faleceu no último dia 13, aos 97 anos.


23 de maio de 2013

Fernando Pessoa: Tudo Quanto Penso

Tudo quanto penso 
Tudo quanto penso, 
Tudo quanto sou 
É um deserto imenso 
Onde nem eu estou. 

Extensão parada 
Sem nada a estar ali, 
Areia peneirada 
Vou dar-lhe a ferroada 
Da vida que vivi. 

Fernando António Nogueira Pessoa (Lisboa, 13/06/1888 — Lisboa, 30/11/1935), mais conhecido como Fernando Pessoa, foi um poeta, filósofo e escritor português.

9 de outubro de 2012

O sal da língua - Eugénio de Andrade

Escuta, escuta: tenho ainda
uma coisa a dizer.
Não é importante, eu sei, não vai
salvar o mundo, não mudará
a vida de ninguém – mas quem
é hoje capaz de salvar o mundo
ou apenas mudar o sentido
da vida de alguém?
Escuta-me, não te demoro.
É coisa pouca, como a chuvinha
que vem vindo devagar.
São três, quatro palavras, pouco
mais. Palavras que te quero confiar,
para que não se extinga o seu lume,
o seu lume breve.
Palavras que muito amei,
que talvez ame ainda.
Elas são a casa, o sal da língua.

(José Fontinhas, ou Eugénio de Andrade (Póvoa da Atalaia, Beira Baixa, Portugal 19 de janeiro de 1923 - Porto, Portugal, 13 de junho de 2005) - Além de poeta, foi funcionário público trabalhando como inspetor administrativo do Ministério da Saúde de Portugal. Dedicou-se também a escrever ensaios e assinou muitos prefácios de antologias poéticas. Também escreveu livros infantis e foi tradutor de poetas como Federico Garcia Lorca) (via: Blog do Noblat)