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11 de junho de 2014

O Paraná que um dia foi espanhol

Sempre fui muito interessado em história e geografia (viu professor Jader!!??) e essa reportagem da Gazeta do Povo, publicada no último dia 7, me mostrou um Paraná que eu não conhecia ou não lembrava mais de ter estudado. Ou seja, gostava, mas não se dedicava muito. Vale a leitura!

Exposição no Museu Paranaense reúne acervo que conta a história dos espanhóis no Paraná
Regidos pelo Tratado de Tordesilhas, Espanha e Portugal dividiram o território paranaense no século 16. Primeira povoação europeia do estado foi espanhola

Um Paraná majoritariamente colonizado por espanhóis. Essa era a realidade do território que hoje abrange o estado durante o século 16. Naquela época, o Brasil estava dividido. O Tratado de Tordesilhas, celebrado entre Portugal e Espanha, colocava a região oeste do estado sob o domínio espanhol. Portugal praticamente ficou apenas com a faixa litorânea.

Na região oeste, conhecida como Província del Guairá e povoada por diversos grupos indígenas, a Coroa Espanhola fundou três cidades. A primeira, estabelecida em 1554 nas margens do Rio Paraná, perto da foz do Rio Ivaí, recebeu o nome de Ontiveros. Essa foi, efetivamente, a primeira povoação europeia em território paranaense.

O historiador Ruy Wachowicz relata que, para fundar a cidade, os espanhóis usaram 80 homens armados e chegou a possuir grande número de índios escravizados. Entre 1556 e 1557, a vila foi transferida para as proximidades da foz do Rio Piquiri e passou a ser chamada de Ciudad Real del Guairá – cujas ruínas atualmente estão localizadas no município de Terra Roxa.

A terceira e maior cidade foi Villa Rica del Espiritu Santo, fundada em 1570 no atual município de Nova Cantu e levada em 1589 para a região de Fênix, na área central do Paraná e onde fica o Parque Estadual Vila Rica do Espírito Santo. A mudança de local se deve, entre outros fatores, à ocorrência de epidemias na antiga localidade.

As cidades espanholas fundadas em território paranaense fizeram parte da Província do Vice-Reino da Prata, cuja capital era a atual cidade de Assunção, no Paraguai. Ao todo, a Ciudad Real durou 75 anos e a Villa Rica, 62 anos. Ao longo desse período, a Coroa Espanhola determinava que a população indígena fosse catequizada e iniciada em algum ofício pelos conquistadores. Em troca, os índios teriam de “pagar uma taxa”, ou seja, prestar serviços aos colonizadores espanhóis. Os índios trabalhariam de graça, o que os tornaria escravos.

Revoltados com a situação, não foram raros os levantes das aldeias nativas contra os conquistadores. A arqueóloga Claudia Parellada explica que, de 1610 a 1628, em tentativa de conquistar o Guairá com menor número de conflitos, foram criadas 15 missões jesuíticas da Companhia de Jesus com o apoio da Espanha. As missões facilitariam a entrada pacífica dos espanhóis em territórios ocupados por índios avessos à presença dos europeus.

A região do Guairá foi a primeira a experimentar o novo sistema, que consistia basicamente em atrair os indígenas para determinada área, com habitação fixa dos missionários. Wachowicz escreve que 100 mil índios foram catequizados e aprenderam a executar novos trabalhos, como produzir tecidos em grandes teares e extrair, processar e deslocar erva-mate em grandes quantidades.

Exposição traz a presença da Espanha no PR

Começou ontem, seis de junho, no Museu Paranaense, em Curitiba, a exposição “Paraná Espanhol”, realizada com o apoio do Centro Espanhol e do Consulado Honorário da Espanha. O acervo mostra a evolução, do século 16 ao 21, do contato dos espanhóis com a região que viria a ser o Paraná. O evento foi programado culminando com a presença da seleção de futebol da Espanha em Curitiba para a Copa do Mundo.

A exposição tem curadoria do Diretor do Museu Paranaense, Renato Carneiro Junior; da arqueóloga Claudia Parellada; da antropóloga Fernanda Maranhão e da historiadora Tatiana Takatuzi.

Segundo Claudia, o visitante conhecerá o processamento de cana-de-açúcar e a produção de tecidos pelos espanhóis em território paranaense, além da forja de metais, como cobre e ferro, e as enormes malhas urbanas das cidades coloniais do século 16 no Guairá. Também fazem parte da mostra aspectos relativos às missões jesuíticas, como a escola de música do início do século 17.

O acervo reúne ainda armas e símbolos religiosos e da identidade do povo espanhol que veio ao Paraná ao longo da história do estado. “Também há muitos objetos do acervo ainda inéditos ao público, referentes à cultura e à cosmovisão dos indígenas da época, à arquitetura, à economia e às principais tecnologias construtivas e militares dos séculos 16 e 17”, explica Claudia.

Serviço

A exposição segue até 14 de setembro. As visitações ocorrem de terça a sexta-feira, das 9 às 18 horas. Nos sábados, domingos e feriados, das 10 às 16 horas. A entrada é gratuita.

Conflito

Bandeirantes expulsaram espanhóis e missionários do oeste paranaense

Os ataques dos bandeirantes portugueses, vindos de São Paulo, sacramentaram o fim do Paraná espanhol. Os objetivos principais eram afugentar os espanhóis da localidade e capturar indígenas para trabalhar em áreas agrícolas de São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia, especialmente em canaviais. Estima-se que um total de 100 mil índios foram afetados pelas bandeiras, sendo 15 mil mortos, 60 mil escravizados e 13 mil se perderam ou fugiram mato adentro. Além disso, perto de 12 mil foram salvos pelos jesuítas.

Esse processo durou até 1631, quando todas as missões jesuíticas foram destruídas ou abandonadas. A cidade espanhola de Villa Rica foi sitiada por três meses pelos paulistas e arrasada em 1632 e a Ciudad Real del Guairá foi abandonada praticamente no mesmo período, pois os habitantes temiam o ataque dos bandeirantes. O efêmero povoamento espanhol no estado sequer deixou vestígios na formação populacional paranaense.

Do lado português, na faixa litorânea, brotava o medo de que os espanhóis avançassem para o leste do estado. Além disso, a necessidade de mão-de-obra escrava indígena se fazia presente. Nesse contexto, em 1628, o bandeirante Antonio Raposo Tavares iniciou a ação de captura de indígenas na localidade.

Diversas ações bandeirantes continuaram em regiões próximas ao Guairá até 1631, cujas missões eram saqueadas, queimadas e destruídas. Muitos missionários fugiram em direção às atuais regiões do Paraguai e Argentina com índios transportados em balsas pelos rios Paranapanema e Paraná. Com as missões enfraquecidas, as cidades espanholas do Guairá foram destruídas em 1632. Foi assim que a ação dos bandeirantes culminou com a consolidação total do Paraná como parte da colônia de Portugal, caindo por terra um provável legado espanhol no estado.

História recente

Entre os anos 1910 e 1920, segundo a pesquisadora Blanca Hernando Barco, um grande número de espanhóis chegou ao Brasil fugindo da guerra, da fome e da miséria que atingia toda a Europa. Vinham com contratos de trabalho para atuar nos cafezais de São Paulo. Constatou-se que, após o término dos contratos, muitas famílias se mudaram para o Paraná em busca de nova vida. As décadas de 1950 e 1960 registraram a maior onda migratória que o Paraná já recebeu. Famílias inteiras vieram tentar nova vida fugindo da instabilidade econômica, falta de trabalho, pobreza e da repressão política da ditadura de Francisco Franco, que durou 40 anos. Os espanhóis que se instalaram na capital, se dedicaram ao comércio, à gastronomia, à construção e profissões liberais. Segundo Blanca, hoje existem 10 mil espanhóis natos no Paraná.