Jeremiah Heaton é pai de uma menina de seis anos de idade, Emily. Ela tem fixação por princesas, e um dia lhe perguntou, com toda a seriedade, se seria uma princesa de verdade em algum momento.
“Eu disse que seria”, conta o pai, que, mesmo sem querer levantar falsas esperanças, não quis acabar com um sonho da filha.
Então Jeremiah passou horas vasculhando a internet por algum território não reclamado para chamar de seu – e dar para sua filha o título oficial de princesa.
Ele concentrou sua pesquisa no termo “terra nullius”, em latim, que significa “terra que pertence a ninguém”.
Depois de vários meses de pesquisa, ele conseguiu localizar um deserto de cerca de 2.000 quilômetros quadrados na África, a milhares de quilômetros de distância de sua casa, em Abingdon, Virginia, nos EUA.
O deserto em questão é um território desocupado, reivindicado por Egito e Sudão, mas que não pertence a nenhum dos dois, devido a uma disputa de terras que remonta mais de 100 anos.
Localizado ao longo da fronteira com o Sudão, a meio caminho entre o local onde o Nilo atravessa a costa do Sudão e do Egito ao longo do Mar Vermelho, a faixa de terra é conhecida localmente como “Bir Tawil”. É um dos últimos pedaços de terra não reclamados no planeta.
Vários pretendentes já declararam online a propriedade do Bir Tawil, e Jeremiah sabia que tinha que fazer algo especial para se certificar de sua reivindicação se destacasse do resto. Então, ele ganhou permissão das autoridades egípcias e viajou até a África em 16 de junho, no sétimo aniversário de Emily, quando plantou uma bandeira azul com quatro estrelas (projetada por seus filhos) sobre uma colina rochosa, depois de uma viagem de caravana de 14 horas através do deserto.
Jeremiah inclusive renomeou Bir Tawil para “Reino do Sudão do Norte”, onde ele é o rei indiscutível e sua filha, a princesa. “É lindo aqui”, disse ele. “É um deserto árido no nordeste da África. Beduínos vagam pela área; a população é efetivamente zero”.
Quando voltou para casa, Jeremiah e sua esposa deram a Emily uma coroa – ela agora é tratada como princesa Emily pelos membros da família. “É legal”, disse a menina, que dorme em uma cama que parece um castelo.
Como princesa, ela quer ter certeza de que todas as pessoas da região tenham comida suficiente. “Isso é definitivamente uma preocupação naquela parte do mundo”, concordou Jeremias. “Discutimos o que poderíamos fazer como uma nação para ajudar”.
Jeremiah agora planeja fazer sua conquista oficial pedindo assistência a União Africana. Ele quer estabelecer formalmente o Reino do Norte do Sudão, e está bastante confiante de que conseguirá.
“Eu tenho a intenção de buscar o reconhecimento formal com os países africanos”, disse ele. Seu primeiro passo é fazer com que Sudão e Egito reconheçam o reino.
Surpreendentemente, Jeremiah tem certeza de que sua reivindicação sobre Bir Tawil é legítima. Ele explicou que o plantio de uma bandeira é exatamente o que outros países, incluindo os Estados Unidos, historicamente fizeram para reivindicar terras. A única diferença é que a sua conquista é um ato de amor, não de guerra. “Eu fundei a nação por amor a minha filha”, declarou ele.
De acordo com Sheila Carapico, professora de ciência política e estudos internacionais da Universidade de Richmond (EUA), Jeremiah tem necessidade de obter o reconhecimento legal dos países vizinhos, das Nações Unidas ou de outros grupos para de fato ter o controle político sobre a terra. Ela explicou que não é plausível que alguém plante uma bandeira e diga que agora tem o controle político sobre a terra, sem reconhecimento.
Infelizmente, os representantes das embaixadas do Egito e do Sudão em Washington ainda não responderam ao pedido bizarro de Jeremias.
Mas ele continua bastante otimista sobre o futuro de sua nova nação. “Sinto-me confiante da reivindicação que fizemos”, falou. “Isso é exatamente o mesmo processo que tem sido feito por milhares de anos. Se tudo correr conforme o planejado, a primeira prioridade do Rei Jeremiah é estabelecer relações positivas com o Sudão e o Egito por meio de conversão de seu reino em um centro de produção agrícola, do jeito que Emily quer”, explica o pai. [
Revoada]