3 de julho de 2020

O vírus da idiotice, por Osvaldo Broza

Jim Carrey no filme Debi & Lóide - foto ilustração

Dia desses postei a seguinte frase no meu facebook: "Ninguém nasce idiota, mas muita gente se especializa nisso durante a vida...". Devo te-la visto em algum lugar (não sou capaz de tamanha criatividade!) e compartilhei. Teve quem achasse que eu estava de mau humor, outro pensou que estava me referindo ao momento político por qual estamos passando e teve quem vestiu a carapuça. Mas afirmo que foi apenas por que achei criativa e bem humorada. Uma boa 'tirada'. 

Meu amigo Osvaldo Broza aproveitou a deixa e enviou a crônica abaixo sobre o mesmo tema (idiotice). Aproveitando que ontem um site publicou um absurdo (ou seria idiotice?) sobre a administração municipal (que teria, a prefeitura mourãoense, recusado respiradores artificiais ofertados pelo Governo Federal) compartilho o texto do marido da Malu. Alguns destaques em negrito são por conta desse blogueiro. 

O Vírus da Idiotice


Há algum tempo venho evitando participar de discussões nas redes sociais. Não discuto nem sobre o que eu mesmo escrevo. Bastam as que eu já tenho – em casa – por força do isolamento social. Né, Malu?

Dias desses me chamaram de um monte de coisas, só porque contei que assistia ao Big Brother. Idiota foi pouco. Será que mereci? kkk

Os internautas, em grande parte, andam com os nervos à flor da pele, e por qualquer divergência de ideias ou preferência política chamam seus opositores (?) de imbecis, idiotas...e de outros adjetivos de menor qualificação. E de maior intensidade provocativa, o que leva até amigos a se digladiarem em níveis bem abaixo de um padrão razoável.

É o espaço mais democrático que existe, que dá liberdade pra todo mundo – de diferentes classes sociais – de se expressar e debater os mais diferentes assuntos. Só que alguns extrapolam os limites dessa democratização, trocam o debate pelo combate e exageram na liberdade (?) de expressão. 

Nas discussões políticas, em específico, principalmente quando há oposição inconsequente e puxa-saquismo exagerado o clima se eleva e o nível abaixa

Será que tudo isso é reflexo de uma sociedade que desaprendeu a discutir ideias, prefere o confronto, a radicalização, como diz o cronista esportivo Tostão em sua coluna no Uol? 

Na mesma matéria ele sugere que o técnico Tite (da Seleção Brasileira) deveria refletir e conversar pela internet com pessoas que não pensam como ele (o técnico). Coitado do Tite! Seria a maior saraivada de idiotas que se tem notícia.  

Há algumas semanas, apenas para corroborar e porque foi o gancho para este meu texto (acender brasa já apagada, como diz um amigo meu), um apresentador de TV de Campo Mourão disse em seu programa que: “...Discussões em redes sociais é igual a participação em paraolimpíadas. Você pode até ganhar, mas continua deficiente...”.

Nada a ver (não é haver, pelo amor de Deus!) com a emissora dele, mas a comparação mais justa seria com a imprensa marrom/sensacionalista/picareta que, assim como acontece nas redes sociais, também desrespeita a ética, manipula notícias e exagera na divulgação de fatos e acontecimentos sem compromisso com a verdade. 

Ele próprio reconheceu o erro, pediu desculpas, mas as redes sociais não o perdoaram. Assim como aconteceu comigo – e pode acontecer de novo com esta crônica – idiota foi pouco. 

Acho que, se ele pudesse voltar atrás, a comparação seria bem diferente: ...Nas paraolimpíadas você pode até perder, mas continua vencedor. Nas redes sociais você pode até ganhar, mas continua idiota...

Pois, enquanto nas redes sociais – via de regra - não se respeitam opiniões contrárias, porque a verdade de cada um é absoluta e não se pode contestá-la, nas paraolimpíadas respeitam-se uns aos outros, porque todos sabem quão espinhoso foi o caminho de cada um. 

Enquanto as redes sociais compartilham mentiras, as paraolimpíadas compartilham a verdade da vida. Doída para quem assiste, porém consagradora para quem participa. 

Enquanto nas redes sociais se expõem grandeza e ostentação, nas paraolimpíadas há grandeza na ostentação: das conquistas, do esforço incomum, da superação, da fé ilimitada do homem.

Ah! Que bom seria se o vírus da idiotice recebesse uma mutação e se transformasse no vírus do amor, da compaixão, da fraternidade e do respeito. Talvez este vírus retirasse o véu que cobre os olhos dos mais egocêntricos e fizesse com que todos enxergassem, em plenitude, o sabor da conquista na superação dos desafios vindouros, no atleta, a sua luta interna, no internauta, o respeito e a democratização.

Osvaldo Broza

Torcedor do Santos FC, Osvaldo Broza foi membro da Academia Mourãoense de Letras (até 2016). Ele sabe retratar causos do nosso dia-a-dia como poucos.

Um comentário:

Joaquim Maia - Curitiba disse...

Parabéns ao amigo Broza pelo texto perfeito e abordagem muito oportuna.