Estudo mostra que, ao estabelecerem contratos com as cervejeiras, as “atléticas” oferecem um mercado promissor em troca de privilégios e aporte financeiro
Metade dos jovens universitários consumidores de álcool nunca pensou nas consequências da bebida consumida em excesso. O dado faz parte de pesquisa sobre a relação entre cervejeiras e atléticas, realizado por uma equipe de psicobiólogos da Unifesp, com apoio da Fapesp.
A venda de bebidas alcoólicas durante a Copa do Mundo foi um dos temas discutidos no seminário. |
Os dados foram revelados hoje, 16, durante o “Seminário Internacional Álcool & Violência: a influência da indústria do álcool”. O evento, organizado pela Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM), reuniu alguns dos maiores especialistas mundiais em políticas públicas sobre o álcool. Como a GAPA – Global Alcohol Policy Alliance.
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Segundo a pesquisa, apenas em 2012, cerca de três milhões de latinhas foram consumidas por 754 mil jovens em “megaeventos” (jogos universitários), festas e celebrações em geral. A relação se dá por contratos anuais estabelecidos entre fábricas e atléticas. Grande parte (86%) das agremiações tem apoio para realização de eventos e mais da metade (63%) recebem, além disso, aporte financeiro de cervejeiras.
“É um mercado perfeito para as cervejeiras, que encontram exclusividade, promoção e fidelização de um mercado em formação dentro das instituições”, explica a professora doutora Ilana Pinsky, coordenadora da pesquisa. “Em troca, as atléticas ganham cerveja mais barata, infraestrutura em eventos e dinheiro, se superarem as metas de venda dos contratos”.
As associações atléticas acadêmicas, conhecidas apenas como “atléticas” são as agremiações de alunos que atuam dentro das instituições de ensino superior como organizadoras de eventos esportivos e de “integração”, como festas e happy hours.
A pesquisa ouviu, entre agosto de 2013 e maio deste ano, 58 das 60 atléticas da região metropolitana de São Paulo. Estes dados fazem parte de resultados preliminares e o panorama completo deve ser divulgado no final deste ano.
“Cerveja também é álcool”
Além da pesquisa sobre cerveja nas universidades, também foram apresentados dados do LENAD (box ao lado), informações sobre programas voltados à redução do consumo de álcool durante a Copa do Mundo e projetos de regulamentação de mercado e ajuda a dependentes via redes sociais.
“ A indústria do álcool não tem limites na forma e na intensidade como chega a jovens e adolescentes, de forma bastante similar à indústria do tabaco nos anos 1960”, disse o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e presidente da SPDM, que coordenou o evento. “É preciso conscientizar a sociedade sobre os problemas do álcool e principalmente sobre o fato de cerveja ser álcool, pois, de acordo com a publicidade, não parece.” [Catraca Livre]
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