6 de dezembro de 2012

16 fotos coloridas de uma era perdida

As fotos desse artigo são do livro “The Wonderful World of Albert Kahn” (em português, “O Mundo Maravilhoso de Albert Kahn”), com uma coleção de cerca de 400 fotografias a cores, muitas datadas de antes de 1920.

A história de Albert Kahn é surpreendente. De acordo com a sinopse do livro, “Kahn usou sua vasta fortuna para enviar um grupo de fotógrafos intrépidos para mais de 50 países ao redor do mundo, muitas vezes em momentos cruciais da história, quando as antigas culturas estavam à beira de serem mudadas para sempre pela guerra e pela marcha da globalização do século XX”.

A coleção de Kahn, com mais de 72.000 autocromos, só ficou conhecida recentemente. Agora, graças aos compiladores da BBC, finalmente podemos apreciar e dar um pouco de cor ao que tendemos a imaginar como uma era passada em preto e branco. Confira:

1 – Caçador mongol (Mongólia, 20 de julho de 1913)

Quando a dinastia chinesa Qing entrou em colapso em 1911, seus antigos súditos na Mongólia rapidamente declararam independência, que foi contestada pela recém-nascida República da China, cujas forças finalmente conseguiram reconquistar o país, enquanto outra potência regional, a Rússia, estava distraída com a sua revolução. A posse da China foi breve, no entanto: um renegado exército anticomunista da Rússia logo tomou o controle do país.

Esta fotografia foi tirada dois anos após a independência da Mongólia, e seis anos antes das invasões chinesas e russas. Só podemos imaginar o que aconteceu com esse caçador de lobo e raposa, que parece ter vivido em algum lugar perto da fronteira com a Rússia.

2 – Meninas curdas transportando jarros de água (Zakho, Iraque, 11 de maio de 1917)
Os curdos são um povo com uma história complicada. Sobrepondo-se as fronteiras dos atuais países Irã, Síria, Turquia e Iraque, eles ainda não têm um país próprio – apesar de frequentes conflitos com os governos que governam sobre eles.
Em 1920, os vencedores aliados da Primeira Guerra Mundial prometeram aos curdos uma pátria independente, o que não aconteceu. Mais recentemente, alguns curdos, talvez descendentes dessas meninas na fotografia, sofreram genocídio nas mãos do ditador iraquiano Saddam Hussein. Se a Guerra do Iraque pudesse ser justificada, seria porque, desde a chegada de tropas americanas e aliadas, esse genocídio diminuiu.

3 – Vítima de limpeza étnica (Monte Athos, Grécia, 10 de setembro de 1913)
Esta fotografia foi tirada logo após a Segunda Guerra Balcânica, uma guerra entre búlgaros e seus antigos aliados da Primeira Guerra Balcânica, Grécia e Sérvia. O homem bem vestido na foto – provavelmente um búlgaro – foi preso por soldados gregos perto de um mosteiro em Monte Athos. Seu destino permanece desconhecido.
A limpeza étnica era difundida na época, mas não parece ser o caso desse jovem, que poderia muito bem ter sido um saqueador que vagava e roubava entre estas colinas.
A Península dos Bálcãs, na borda leste da Europa civilizada, continua sendo uma das partes mais voláteis do mundo, tendo visto vários genocídios nos últimos vinte anos. Um bom livro para ler sobre a região é o diário de viagem “Black Lamb and Grey Falcon”, de Rebecca West.

4 – Família argelina preparando cuscuz (Biskra, Argélia, 1909-1911)
Esta família está preparando cuscuz, um alimento básico para o povo do norte da África, incluindo Argélia, Líbia, Tunísia e Marrocos. O menino de gorro vermelho teria cerca de 110 anos de idade, se ainda estivesse vivo hoje.

5 – Meninas comendo nozes de areca (Vietnã, c. 1921)

A partilha de noz de areca é uma importante tradição em muitos países asiáticos, incluindo o Vietnã. Ela supostamente tem uma gama de benefícios à saúde, como a prevenção da cárie dentária, apesar de uma pesquisa recente sugerir uma correlação entre o câncer oral e o consumo dessa noz.
Nada disso muda o valor humano desta foto, no entanto, que, ao contrário de muitas outras fotos da época, capta um momento informal, tranquilo e bastante bonito, vivido por essas duas moças de uma calma aldeia tantos anos atrás.


6 – Almoço durante a guerra (Reims, França, 1 de abril de 1917)
Três anos dentro da Primeira Guerra Mundial, o exército aliado ainda contava com mensageiros em bicicletas para passar informações para tropas. Eles também tinham telégrafo e linhas telefônicas, mas estes eram vulneráveis a sabotagem. Esse mensageiro, durante um momento de descanso, desfruta de um pedaço de pão e um pote de chá.

7 – Crianças brincando (Reims, França, 1917)
Estas crianças estão brincando entre as ruínas de Reims, 129 km a nordeste de Paris. A cidade foi severamente atingida pelo bombardeio alemão e fogos subsequentes durante a Primeira Guerra Mundial.

8 – Rabindranath Tagore (Boulogne-Billancourt, França, junho de 1921)
Rabindranath Tagore é um indiano visto na imagem cercado pelas rosas do jardim de Albert Kahn. Tagore, nativo de Calcutá, foi agraciado com o Prêmio Nobel de Literatura de 1913, principalmente por suas contribuições para a poesia.
Ele também se imaginava como um filósofo místico, mas nem todos concordavam com essa posição. O estimado filósofo ocidental Bertrand Russell foi a uma palestra de Tagore, e disse que “foi absoluto lixo”.

9 – A Praça dos Mortos (Marraquexe, Marrocos, 18 de junho de 1926)
Jemaa el-Fnaa, como é chamada em árabe, é ainda hoje a principal praça de Marrakesh – uma cidade famosa por suas mesquitas de influência espanhola, seus edifícios de arenito vermelho e sua aparência exótica. A coisa mais impressionante sobre esta fotografia, entretanto, é o efeito causado pela sua exposição: muitas das pessoas – como o amontoado de devotos religiosos, o camelo camuflado, e o vendedor solitário – estão em foco perfeito, enquanto outros – as figuras desfocadas – sugerem movimento, o que faz parecer que a foto poderia ter sido tirada ontem. Só que meus avós eram bebês no momento dessa imagem.

10 – Soldados feridos (Moreuil, França, 30 de julho de 1916)
Esta é uma das melhores fotos da Primeira Guerra Mundial. Apesar de antiga e distante, ela capturou um momento em que podemos facilmente imaginar estar naquela sala também, imaginar os soldados feridos falando com a enfermeira, imaginar o que se passava na cabeça deles. Uma bela imagem.

11 – Infância (Verona, Itália, 16 de maio de 1918)
Aparentemente, esta fotografia, feita na abóbada de uma igreja em Verona, exigiu um tempo de exposição de mais de um minuto. A imagem contempla o destino da menina, perdida em reflexão, visualizando pensamentos que, nesse dia, pertenciam somente a ela.

12 – Cadáver de um jovem soldado (Aisne, França, pós-guerra)
Não há o que dizer sobre essa fotografia, exceto que, em alguns momentos, é difícil para a humanidade ter que encarar seus próprios feitos.

13 – Soldado comprando carne (Reims, França, 6 março de 1917)
Charcutaria é um açougue francês, que, antes da idade de refrigeração, se especializava em oferecer carnes frias bem preservadas. Esta loja em particular, em Reims, estava surpreendentemente bem abastecida: mesmo em tempos de guerra, funcionava. Ainda que bombardeada pela Alemanha, o comércio da vila não parou. Observe a tentativa frágil de fazer uma barricada na janela do lado esquerdo. É notável ver como a vida cotidiana seguiu em frente mesmo em tempos de guerra.

14 – Uma jovem e sua boneca (Reims, França, 1917)
Enquanto a menina brinca com sua boneca, rifles se apoiam contra a parede, bem ao lado dela, conforme a Grande Guerra continua. Uma justaposição poderosa, especialmente em uma época que era fácil se esquecer pelo que estava lutando.

15 – Sadhus na Índia britânica (Bombaim, Índia, 17 dezembro de 1913)
Esta imagem, mais do que qualquer outra na lista, mostra atemporalidade. Se você procurar hoje por imagens de Sadhus indianos, ou homens santos, vai encontrar roupas, costumes e rostos semelhantes aos dos homens nesta foto de 99 anos de idade. Esses sadhus eram provavelmente visitantes da cidade movimentada colonial de Bombaim, que agora é a cidade mais populosa da Índia, e se chama Mumbai – um destino incrível para viajar até hoje, com uma rica história, cultura, comida, entretenimento e diversidade.

16 – Prisioneiro nômade (Ourga, Mongólia, 25 de julho de 1913)
Os nômades da Mongólia desenvolveram um sistema de justiça para se adequar ao seu estilo de vida móvel. Na imagem, um criminoso está preso a uma corrente tão pesada que o impede de fugir correndo. Ao mesmo tempo, ele seria capaz de uma marcha forçada (provavelmente excruciante) de pasto para pasto, conforme fosse ordenado. (Via: Revoada/Natasha Romanzoti)

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