3 de abril de 2008

Resenha

PASTEL NA FEIRA

Por absoluta insensibilidade da mídia, a notícia da China passou praticamente despercebida, talvez pela triste realidade de se viver num país supercampeão de impunidade. Poucos abriram os olhos para saber que o campeão olímpico de tênis de mesa, Chen Qi, foi obrigado a passar uma semana de “reeducação” trabalhando no campo. O prêmio partiu depois de o mesatenista jogar uma cadeira para o alto após uma derrota na final da Copa da Ásia. Ele pediu desculpas pelo vexame, mas os dirigentes não quiseram conversa e optaram por uma “lição de humildade” no medalha de ouro em Atenas/04.
Depois de colher muito pepino e arrancar ervas daninhas com os camponeses, Chen Qi reconheceu que no dia da explosão não considerou “os sentimentos dos outros”, que “não é fácil o trabalho no campo” e que é “um homem de muita sorte” - certamente por não morar neste Brasil varonil. Porque, aqui, o campeão não teria tanta colher de chá. Os exemplos se multiplicam. As CPIs da bola viraram cinza no forno da ‘ilha da fantasia’. O técnico Vanderlei Luxemburgo colocou em dúvida a sexualidade de um árbitro, e até agora nada aconteceu. O santista Cléber deu uma cotovelada no palmeirense Marcinho Guerreiro, e ganhou 100 anos de perdão. Bandidos travestidos de torcedores corintianos depredaram o Pacaembu e foram embora vomitando coragem. O zagueiro Antônio Carlos ficou livre de um gancho de 120 dias por racismo, crime inafiançável, após pagar uma pesada multa de 4.200 reais. Com punições tão rigorosas, só resta mesmo convidar o campeão Chen Qi para comer um pastel na feira.
(José Roberto Malia – ESPN)
(publicada no semanário Entre Rios em 10/06/2006)

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