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9 de março de 2011

PODE SER QUE ELA NÃO DÊ VOTO, MAS TIRA

Tem coisas que parecem só acontecer em minha cidade. Para instalar uma necessária segunda vara da Justiça Federal em Campo Mourão, alguns gênios ventilaram a possibilidade de utilizar um pouco do espaço da Biblioteca Municipal Professor Egidio Martello. É pouco utilizada, justificam os defensores da estúpida ideia... se for assim, tem outros espaços bem menos utilizados na administração mourãoense, começando pelo próprio paço municipal. 
Não sou daqueles que acham que está tudo errado, enxergo e mostro sempre que posso os acertos de nossos administradores, mas cogitar diminuir um espaço cultural para utilizar para outra área qualquer é coisa de energúmeno.
Não sou a pessoa mais indicada para discutir o tema, por isso, mostro, abaixo, o texto que o José Eugênio Maciel, advogado, professor e sociólogo, escreveu em sua coluna no diário mourãoense A Tribuna do Interior. Vale a pena a leitura!

“A colheita é comum, mas o capinar é sozinho”
João Guimarães Rosa


A que ponto a cidade chegou ou não chegou a ponto algum, Campo Mourão à deriva no que diz respeito à Biblioteca Municipal Professor Egydio Martello e à Estação da Luz. A possibilidade de reduzir o espaço e as instalações por si só foi um afronta à cultura de um modo geral e não apenas aos livros e as demais atividades inerentes à Fundação Cultural.
Tão absurda e torpe quanto à aludida possibilidade foi ter que ouvir “a boca pequena” daqueles com “orelhas bem grandes” que a Biblioteca é bem pouco frequentada, daí o motivo suficiente para colocar a Justiça Federal até que ela tenha o seu espaço próprio.
Foi com grande naturalidade, especialmente nas conversas de botecos e nos endereços eletrônicos que publicam manifestações anônimas, meio peculiar dos covardes e irresponsáveis que gostam de opinar apocrifamente, não faltaram aqueles que apóiam “o melhor aproveitamento” da Estação da Luz.
Quem sabe, além da cessão da Biblioteca, poderia ser proposto o imediato fim dela, colocando na praça uma montanha de livros para serem queimados porque ninguém lê e cultura não serve para nada. Mas existe verdade, no Brasil lê-se muito pouco e não apenas livros, a nossa baixa escolaridade e a qualidade do ensino nos põem como País do terceiro mundo – por não existir o quarto mundo. Ou, se preferir, o primeiro em termos de submundo.
A biografia rica e marcada inegavelmente sobretudo na educação da nossa cidade e da região do professor Martello não mereceria jamais tamanho acinte, deboche, incompetência. Aventar a possibilidade de dar outro destino mesmo que provisoriamente foi uma tentativa de esfacelar o papel da cultura, que chegou sim a ser ameaçada por quem evidenciou a falta de compromisso.
Queimem os livros e as ideias libertárias se incendiarão em favor da necessidade da luta em defesa da cultura, especialmente a literária.
Lamentavelmente, mesmo que pública e formalmente não reconheçam, o poder público municipal foi obrigado a recuar, haja vista o financiamento do dinheiro público especificamente para tal obra, não podendo se desviar da finalidade anteriormente estabelecida. Assim sendo, logo veio o populismo dizendo que tudo não passou de boataria, que era invencionice e tudo mais, “e viva a cultura”.
Embora não sejam todos e o fato não seja peculiar a Campo Mourão, mesmo assim é profundamente triste e revoltante que pessoas estejam mais interessadas no que acontece “na casa mais vigiada do Brasil” e votem no candidato que lhe dar algum benefício pessoal como linguiçada ou um gole de pinga e assegura os ditos programas sociais que as leve a acomodação plena, e todas elas a aplaudirem o que lhes convier. Elas dão votos e para perdê-los bastaria oferecer-lhes livros! Para que servem livros? Livros não dão votos! E o voto dos ignorantes é mais numeroso e fácil de obter.
É imperioso que outro local seja providenciado, afinal, o espírito da “obraiadada” não irá deixar que tudo se perca. Teme-se, novamente se fosse inprovisada a Justiça Federal no lugar da Biblioteca, que o provisório fosse por longo tempo o definitivo, tão qual a morosidade das práticas judicantes tão comuns no Brasil a fora, quando a ideia de Justiça supõe mero arcabouço infraconstitucional, distante da sede de justiça social, que, nos dizeres de Monteiro Lobato bem resumem uma lição longe de efetivamente ser aprendida, “Um país se faz com homens e livros”.