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5 de outubro de 2009

Letras mourãoenses

"A VALISE, AVALIZE O ZAMIR"
Por José Eugênio Maciel, na Tribuna do Interior

Só os mendigos conseguem contar quanto dinheiro têm.
William Shakespeare – Romeu e Julieta

Basta uma única palavra e ela me leva a voltar no tempo, ao tempo que agora é reminiscências. Valise, “mala de mão, maleta”, como se agora ouvisse do meu saudoso pai Eloy Maciel a ensinança da palavra que de então não tinha a menor ideia do seu significado.
A tal valise faz parte de uma história. Ela tinha ficado vários dias em baixo da mesa do escritório do “seu” Eloy. Ele a olhou procurando imaginar quem a teria esquecido ali. Calmo como sempre, acreditou, a pessoa ao dar pela falta voltaria buscar a valise.
Eu devia ter uns dez anos e creio que o primeiro político que vi na vida, assim, “de carne e osso”, foi o Zamir José Teixeira, vereador eleito pela primeira vez em 1963 e posteriormente reeleito consecutivamente para as três legislaturas seguintes. Como eu nasci no ano em que ele chegava pela primeira vez à Câmara, naturalmente o fato se deu alguns anos depois.
Sorridente, acenando para tudo mundo e muitas vezes usando óculos escuros, Zamir chega e cumprimenta o meu pai efusivamente. Eloy nem bem começa a falar da valise e Zamir demonstra total alívio, “seu Eloy eu já tinha perdido a esperança, achei que tivesse sido furtada, graças a Deus o senhor guardou bem seguro o dinheiro de um negócio que eu fiz!”. Meu pai informa, “ficou aí, em baixo da minha mesa, do jeito que o senhor deixou, sequer peguei a valise, muito menos abri para ver o que tinha dentro. Pensei, o dono irá sentir a falta dela e lembrará aonde esqueceu”.
Zamir põe a mala em cima da mesa e eu acredito que foi a primeira vez (e continua sendo uma das pouquíssimas oportunidades) que vi tanto dinheiro assim, juntinho, nota em cima de nota, maços e maços, tinha dólares também. Como guri influenciado pelas histórias em quadrinhos ou por seriados da tevê, imaginei que o meu pai poderia ter ficado rico com todo aquele dinheiro, pois o Zamir já tinha dado como perdido. Adivinhando o meu pensamento, recebo do pai mais uma lição, “jamais devemos pegar o que não nos pertence, é desonesto”.
Que conhece o Zamir daqueles tempos tem muitas histórias e estórias a contar, verdadeiras ou do folclore, daria para escrever um livro. Anos mais tarde o meu pai comentava, “o Zamir e o pai dele sempre foram corretos comigo”, observava, “sempre”, enfatiza.
O pai do Zamir, o saudoso Manoel Victor Teixeira, diversas vezes o vi lá no escritório de contabilidade, percebia a amizade de ambos. Quando fui candidato a vereador em 1996, encontrei “seu” Victor Teixeira várias vezes, e duas das ocasiões se tornaram marcantes. Ao saber que eu concorria naquelas eleições, ele foi apanhar em casa (quando eu não estava) “santinhos” para distribuir. Posteriormente tendo sido eleito, fui agradecê-lo, então ele me disse, “olha, menino, eu conheci o teu pai bem antes de você nascer, te vi menino junto com aquela filharada dele e da dona Elza. Trate de trabalhar direitinho como vereador, pois do contrário eu puxo tua orelha, se o teu pai fosse vivo ele faria o mesmo, caso necessário”.
Além de “puxarem a orelha” se preciso, homens como Manoel Victor Teixeira são figuras raras hoje, seja pela simplicidade, vivência, sabedoria e correção, não são comprados por uma ou todas as valises repletas de dinheiro.

(José Eugênio Maciel, mourãoense, é sociologo, advogado e professor)