Do Josias de Souza:
No caso da roubalheira na Petrobras, Dilma Rousseff mudou de fase. Evoluiu do estágio do “eu não sabia” para a etapa do reconhecimento de que os cofres da maior estatal brasileira foram arrombados. “Eu farei todo o meu possível para ressarcir o país”, disse ela. “Se houve desvio de dinheiro público, nós queremos ele de volta. Se houve, não. Houve, viu?”
Bom, muito bom, ótimo! Agora só falta Dilma reconhecer que a corrupção é igual aos esportes coletivos. É como o futebol. Ou o vôlei. O sujeito pode ser supertalentoso, mas não marca gol, não faz o ponto sozinho. Tem toda uma engrenagem por trás do lance: a agremiação, o preparador físico, o massagista, o técnico e, mais importante, o time em ação, armando toda a jogada que resultará no chute ou na cortada indefensáveis.
Na corrupção é igualzinho. O governo se autodefine como “de coalizão”, reparte até as diretorias da Petrobras com os pseudoaliados, esquece as mais elementares noções de recato, confunde a atividade pública com a privada… Enfim, arma toda a jogada. O corrupto apenas pratica a corrupção.
Assim como Lula não teve culpa no mensalão que a bancada da Papuda organizou sob suas barbas, Dilma não tem nada a ver com o óleo derramado embaixo do seu nariz. Ela era ministra e presidia o Conselho de Administração da Petrobras quando o governo levou a estatal ao balcão. Mas não teve nada a ver com isso. Empossada no Planalto, manteve o hoje delator Paulo Roberto Costa no comando de bilionários contratos por mais um ano e quatro meses. Mas não tem nada a ver com os 3% de propina, dos quais 2% pingaram na caixa registradora do PT.
Se perguntarem a Dilma quem são os responsáveis pelos roubos, ela dirá: os outros. Grande time esse: os outros. Tida como durona e centralizadora, a presidenta fala do grande flagelo da política nacional como se fosse 100% feito por outros. Os responsáveis por tudo são seres impalpáveis. Podem ser os despudorados do PT, os desclassificados do PMDB, os desavergonhados do PT, até os espertalhões do PSDB talvez… Todos, menos a dona da caneta, menos a senhora do Diário Oficial. Fica boiando na atmosfera quente e seca de Brasília uma indagação intrigante: que foi feito dos espelhos do Palácio da Alvorada?