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16 de julho de 2010

Seu Antoninho da HM - 1930 * 2010

Faleceu ontem, em Curitiba, aos oitenta anos, o seu Antoninho da HM. 
Antonio Pires Cardozo, pai dos meus amigos Edson 'Lobisomem', do Marquinho 'Cabeção', da Gika e da Jane, tinha esse apelido por causa dos anos em trabalhou nas Lojas HM em Campo Mourão. Lembro de meu pai sendo atendido por ele sempre que íamos à HM...
Meu amigo Osvaldo Broza escreveu a crônica abaixo em novembro do ano passado. Publico-a para homenagear o pioneiro mourãoense e toda sua família!


Seu Antoninho
Por Osvaldo Broza

“Os sonhos vão surgindo na vida da gente,
uns realizamos e outros não, depende muito
das circunstâncias e do tamanho da vontade
em realizá-los”

No livro Caminhos de Casa, que lancei em 2004, conto uma história (incluindo a epígrafe acima) – A bicicleta e a piscina do Bispo - sobre o meu primeiro sonho, que era ter uma bicicleta. Eu morava na Erveira, Distrito de Campina da Lagoa, tinha de 10 a 12 anos e era engraxate. Aliás, um dos melhores. Só perdia para o Benedito da Luz, que tinha uma bicicleta. E dois dentes de ouro. Chique no “úrtimo”.
E só pude comprar uma bicicleta depois de casado, e não pra mim, mas para os meus filhos. Aí, comprei um monte delas, até eles enjoarem. A minha, mesmo, uma Monark ano 1957, só comprei agora, em 2007. Aliás, não foi nem uma compra, foi um presente do Sr. Antonio Cardoso, que a comprou zero, e a utilizou por mais de quarenta anos. Igualzinha a do meu primeiro sonho.
O Seu Antonio nasceu em São Mateus do Sul-SC, em 1930, e com dezessete anos foi pra Canoinhas, no mesmo estado, de onde veio pra Campo Mourão, em 1952, especialmente para trabalhar na Casa Guaira, a convite do seu xará Antonio Toledo Silveira, que também era daquela cidade. Os dois já trabalhavam juntos há quatro anos. Seu Antoninho, como é mais conhecido, deixou a Casa Guaira em 1958 para abrir o seu próprio negócio, um armazém, na Av. Irmãos Pereira, esquina com a Rua Araruna, que durou até 1963. Trabalhou por três anos na Casa das Tintas, mais um tempo por conta própria e em 1965 começou na Hermes Macedo. Saiu de lá já aposentado, em 1985.
Ele conta que, por muito tempo, essa bicicleta foi o único veículo da família – e o único dele durante os seus oitenta anos -, que servia para trabalhar, passear com sua esposa Júlia, já falecida, mas, principalmente, para transportar seus filhos à escola. A Jane, o Marcos (Cabeção), o Edson (não sei se posso contar que o apelido dele é Lobisomem) e a Gilka.
Seu Antonio, que hoje mora com a filha Jane, não tem mais vontade de pedalar, mas sente saudade da sua “magrela”. Ele a visita com frequência onde ela fica guardada – e onde foi restaurada - na Bicicletaria do Mané, ao lado da Interclínicas. No dia oito de outubro de 2009, eu me encontrei com o Seu Antonio, justamente naquele local. Ele me contou que tinha sonhado com a bicicleta.
– Sonhei que estava zelando dela para entregar a você, falou.
Sem esconder a emoção, eu disse a ele que também havia sonhado com ela. Há cinquenta anos.
Também contei que tive um pesadelo com ela: sonhei que dava carona ao advogado Paulo Ribas e ao empresário Diorque Nogueira, os dois ao mesmo tempo, de Foz do Iguaçu a Campo Mourão.
- Coitada da bicicleta, disse rindo.
- Coitado de mim, respondi.
Depois me pediu carona. Levei-o até onde ele queria, num escritório na Rua Guarapuava. De carro!

Osvaldo Broza é escritor e integrante da Academia Mourãoense de Letras.