4 de janeiro de 2021

As incríveis histórias por trás de 5 dos relógios mais caros do mundo; fotos

Breguet nº160 Marie-Antoinette, 1827, avaliado em US$ 30 milhões em 2013.
Foto: Michael Vainshtein from Wikimedia Commons

Há pouco mais de 30 anos, a Antiquorum de Genebra foi a pioneira no leilão de relógios modernos com o evento “Art of Patek Philippe”. Antes desse leilão, tratar relógios finos como itens colecionáveis era uma ideia bastante excêntrica. Foi preciso surgir uma leva de modelos eletrônicos baratos de quartzo ao longo das décadas de 1970 e 80 para distinguir os relógios tradicionalmente feitos como mais do que apenas guardiões do tempo, dotados das mais belas “complicações”.

O leilão histórico de Genebra, realizado em 1989, também ajudou a cimentar a posição da Patek Philippe como o investimento preferido da alta relojoaria. É uma reputação que persiste até hoje, graças à fórmuladuradoura que mistura herança, inovação e uma aura de culto. Em novembro de 2020, o modelo de titânio Grandmaster Chime da Patek Philippe foi vendido a US$ 31 milhões na casa de leilões Christie’s, quebrando todos os recordes do mercado.

Mas a marca suíça Patek Philippe não é, de forma alguma, a única escolha dos colecionadores de relógios. Uma série de outras marcas, de Breguet a Rolex, comandam guerras febris de lances em leilões e longas listas de espera por novos modelos. Embora os preços astronômicos frequentemente sejam indicadores de raridade e preciosidade, o fato é que uma grande história certamente ajuda a cimentar a lenda por trás desses produtos. Aqui estão cinco exemplos fascinantes.

Relógio desaparecido de Maria Antonieta
Foto: Michael Vainshtein from Wikimedia Commons


Que tipo de relógio o horologista parisiense Abraham-Louis Breguet (1746-1823) fabricaria se ainda estivesse vivo? Para falar a verdade, o “padrinho da relojoaria moderna” (a quem se atribui a industrialização da relojoaria fina e incontáveis inovações tecnológicas) provavelmente nem estaria fazendo relógios. Como um mestre na solução de problemas de forma prática, inovadora e bonita, ele provavelmente estaria ganhando uma fortuna no Vale do Silício se vivesse nos dias de hoje.

Seu 160º relógio, o lendário Marie-Antoinette, é uma obra-prima divisora de águas da supercomputação.

A história deste relógio é uma lenda em duas partes: uma origem incomparável e um escândalo de roubo mais recente. Tudo começou com um membro da guarda da corte de Versalhes de Maria Antonieta que, em 1783, encarregou Breguet de fazer o relógio mais complicado e precioso para sua rainha cada vez mais impopular.

Breguet obedeceu devidamente, equipando o relógio de bolso transparente com muitas de suas próprias invenções (incluindo corda automática) e outras (como a hora celestial, o estado da corda e um calendário perpétuo), tudo em metal precioso. Porém, havia um problema: os 823 componentes do relógio levaram quase 30 anos para serem produzidos, o que significa que ele só foi concluído muito depois da execução de Maria Antonieta e quatro anos após a morte de Breguet. A obra foi terminada em sua oficina, sob a supervisão de seu filho.

Posteriormente, ele foi adquirido por Sir David Salomons, um advogado britânico. Após a morte de Salomons em 1925, a peça se juntou à sua considerável coleção de relógios de bolso dos séculos 18 e 19 e se tornou a exibição principal no Museu de Arte Islâmica, em Jerusalém (fundado por sua filha nos anos 1970). Em um escândalo chocante anos depois da abertura do museu, em 17 de abril de 1983, mais de 100 dos raros relógios de Sir David, incluindo o Marie-Antoinette, desapareceram num roubo.

O caso permaneceu um mistério por 23 anos, até que a polícia israelense recebeu duas denúncias de pessoas que afirmavam ter visto itens da coleção. Como depois se esclareceu, Naaman Diller, um ladrão israelense que ganhou notoriedade na década de 1960, contornou sozinho o sistema de segurança do museu e guardou os relógios em cofres nos Estados Unidos, Europa e Israel por vários anos.

Após a morte de Diller em 2004, sua viúva tentou vender os itens. A mulher foi presa e passou cinco anos em liberdade condicional por receber bens roubados. Dos 106 relógios, 39 (incluindo o presente de Maria Antonieta) foram restaurados e devolvidos ao museu, onde permanecem em exibição.

O relógio mais complicado de sua época
Foto: Courtesy Sotheby's

Patek Philippe Henry Graves Jr Supercomplication, 1932 -- vendido por US$ 24 milhões na Sotheby's em 2014. 

O novo Patek Philippe Grandmaster Chime pode ter sido vendido por US$ 31 milhões no ano passado, mas o relógio que detinha o recorde anterior está repleto de pedigree de sangue azul.

Feito para o eminente banqueiro nova-iorquino Henry Graves Jr, e apresentando 24 “complicações” (em outras palavras, funções além da hora), o Supercomplication foi considerado o relógio mais complicado já feito até que a própria Patek Philippe criou o Calibre 89 para seu 150º aniversário em 1989.

Mas o fato é que ainda é o relógio mais complicado criado sem tecnologia assistida por computador, com um repetidor de minutos com sinos “Westminster”, um cronômetro “cronógrafo” que pode registrar dois eventos simultâneos, um calendário perpétuo, fases da lua, indicações para nascer do sol e pôr do sol, e um mapa celestial do céu noturno de Nova York, entre muitas outras coisas. E foi tudo desenhado, calculado, fabricado e montado manualmente.

Rolex de Paul Newman
Foto: Courtesy Phillips

Rolex Cosmograph “Paul Newman” Daytona, 1968 - vendido por US$ 17,8 milhões na Phillips em 2017.

Este relógio cronógrafo dos anos 60 não é feito de metal precioso, apenas aço tradicional. Nem abriga complicações magistrais: sua função de cronômetro é baseada na mesma mecânica encontrada em dezenas de milhares de relógios da mesma época e sua caixa é gravada de maneira grosseira e com gramática duvidosa: "Drive Carefully Me” (algo como “Me dirija cuidadosamente”)

Mas este não é um relógio comum. É o Cosmograph Daytona de Paul Newman. Exemplo definitivo do modelo mais colecionável da Rolex, ele foi presenteado à estrela de Hollywood por sua esposa Joanne Woodward em 1968, quando sua paixão pelo automobilismo realmente apareceu (daí a gravura).

O ator de olhos azuis era regularmente fotografado usando o relógio, que se distingue por sua coloração “exótica” do mostrador e pelos botões de “cogumelo” - uma versão impopular de Daytona durante os anos 1960 e 70. Tudo somado, significa que os exemplos do Daytona são poucos, e os em bom estado, com caixa e documentos, são ainda mais raros.

Apesar de sua relativa simplicidade, o relógio vintage foi o destaque de um leilão em Nova York em 2017, superando incontáveis trabalhos de alta relojoaria dos maiores fabricantes do mundo e quebrando sem esforço o recorde mundial anteriormente detido por um Patek Philippe de US$ 11,1 milhões que havia vendido na mesma sala no ano anterior.

Este exemplo particular provavelmente renderia milhões, graças à sua origem, mas sua condição fantástica adicionou ainda mais brilho ao relógio. A peça foi vendida por James Cox, que ganhou o relógio do ator Paul Newman quando namorada sua filha, Nell, nos anos 1980.

"Aparentemente, meu pai se esqueceu de dar corda no relógio de pulso naquela manhã”, contou Nell Newman em uma carta assinada que acompanha a peça leiloada (cujos fundos foram doados para caridade). “James respondeu que não sabia que horas eram e não tinha relógio. Papai entregou a James seu Rolex e disse: ‘Se você se lembrar de dar corda todos os dias, ele dirá a hora certa’”.

Ele nem imaginava o presente que estava recebendo.

Um relógio para levar para o espaço
Foto: Courtesy Sotheby's

George Daniels Space Traveller I, 1982 -- vendido por US$ 24 milhões na Sotheby's em 2019.

Ele pode ocupar apenas o 16º lugar na lista dos relógios mais caros já vendidos em leilão, mas esta beleza que se tornou clássica ainda é reverenciada por causa do virtuoso relojoeiro que a criou.

Em termos de legado do relojoeiro George Daniels (1926-2011), o que vale aqui é o mecanismo de regulação coaxial. Mas seu extenuante “Método Daniels”, que o fez fabricar à mão todos os componentes de metal bruto sem qualquer automação (com uma pequena equipe adicional em sua remota oficina na Ilha de Man) foi, sem dúvida, seu feito mais impressionante.

Exigindo o domínio de mais de 30 artes, aprimoradas por Daniels ao longo de anos restaurando Breguets antigos, o método limitou a produção de sua carreira a apenas 35 relógios, que ele fez para um punhado de clientes ricos. Mesmo assim, os 35 relógios levaram muitos especialistas a considerá-lo o maior relojoeiro do mundo das últimas décadas. Sua criação mais famosa, o relógio de bolso Space Traveller, foi batizado em homenagem ao programa Apollo da NASA e era “o tipo de relógio de que você precisaria em seu pacote de viagem a Marte”, como Daniels disse, por causa de suas indicações de tempo celestial.

Depois de ver Daniels palestrar na Manchester School of Horology na década de 1990, o adolescente Roger Smith comprou um torno usado e uma cópia do livro de Daniels, “Watchmaking”, antes de se tornar aprendiz do lendário relojoeiro. Agora, um relógio de pulso Roger W. Smith – também fabricado na Ilha de Man, usando ferramentas antigas legadas por seu falecido professor – é o mais próximo que você vai chegar de um novo George Daniels, e por muito menos (de cerca de US$ 125 mil para cima, se puder entrar na lista de espera).

Um relógio de pulso para jatos particulares
Foto: Courtesy Richard Mille

Richard Mille RM 62-01 Airbus Corporate Jets – avaliado em US$ 1,3 milhão em 2019.

Além do espetacular Patek Philippe Sky Moon Tourbillon, avaliado em US$ 1,75 milhão, este é o relógio mais caro que você pode comprar agora mesmo se puder.

Trata-se de uma relojoaria moderna e de ponta em sua forma mais inflexível. Famoso por sua estética estilo F1 despojada, desempenho em condições extremas e materiais de última geração, Richard Mille abalou o mundo delicado e ligeiramente empoeirado da relojoaria suíça tradicional.

A marca de sua última criação está alinhada com os Airbus Corporate Jets, daí a caixa de composto de carbono-titânio em forma de vigia. Mas a inovação não fica só aí. Ele possui uma configuração de “vibração” (um recurso familiar para usuários de celulares e pagers do início dos anos 2000) graças a um minúsculo peso desequilibrado em ouro maciço que gira no tempo designado do alarme a 5.400 rotações por minuto, alertando seu pulso do horário definido discretamente.

Ele também tem uma gaiola “turbilhão” que desafia efeito da gravidade na delicada mola de equilíbrio. É feito de carbono e titânio superleve e super resistente. Quando o seu Airbus pessoal pousar, um segundo recurso de fuso horário o avisará da hora de volta para casa.

Se o direito de se gabar também for considerado um recurso deste relógio, pode contar com ele também.

Do CNN Brasil

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