23 de novembro de 2020

Música: “No Thanks to Baal”: os estranhos fenômenos ocorridos durante as gravações de Long Live Rock ‘n’ Roll, do Rainbow



Em maio de 1977 os músicos do Rainbow se reuniram para iniciar as primeiras gravações de “Long Live Rock ‘n’ Roll”, terceiro álbum da banda que seria o último com os vocais de Ronnie James Dio e sua formação mais clássica. Quem se deleita com as oitos faixas deste grandioso disco de Ritchie Blackmore e cia, nem imagina os fatos bizarros que aconteceram nos bastidores das gravações.

Long Live Rock ‘n’ Roll parecia ter o cenário perfeito para ser registrado: o renomado estúdio residencial Château d’Hérouville, por onde também passaram nomes como Elton John, David Bowie, as bandas T.Rex, Pink Floyd, Bad Company, Fleetwood Mac, entre outras.

Rainbow, 1977.

Banda devidamente instalada, gravações iniciadas e não demorou muito para que estranhos fenômenos começassem  a acontecer.  De repente o toca-fitas era reproduzido sem que ninguém estivesse operando o equipamento ou objetos eram arremessados bruscamente, além de uma estranha e inexplicável presença frequentemente sentida pelos músicos e toda a equipe.

Foi durante uma entrevista realizada em 2001 e publicada mais tarde na revista gringa More Black Than Purple,  que o vocalista Ronnie James Dio contou detalhes sobre a bizarra experiência vivida por ele e seus parceiros de banda. Ele afirmou que entre as coisas que mais se lembrava em relação a Long Live Rock ‘n’ Roll  estavam os acontecimentos ocultos ocorridos nas gravações do álbum:

Estávamos no estúdio e o gravador começou a funcionar sozinho. Tínhamos uma música – “Gates of Babylon” – e não podíamos terminá-la; simplesmente não conseguíamos terminar, não importava o quanto tentássemos. A fita quebrava, o aparelho parava, chegávamos perto, mas não conseguíamos terminar.

Havia algumas salas trancadas com apenas uma chave, que estava com a gente. Nós íamos lá e as coisas estavam reviradas, fora do lugar. Um dia, fizemos uma sessão espírita de Ouiji-board no estúdio e contatamos o espírito que dizia ser Baal. Sua frase de abertura sempre foi: ‘Eu sou Baal, eu crio o caos. Vocês nunca vão sair daqui.’ Era o que ele sempre dizia. Então, depois de um tempo fazendo essas sessões, passamos a dizer: ‘Oh o Baal de novo. Ei Baal, como você está, cara?’ Não tínhamos mais medo dele, até que ele começou a fazer coisas como deslizar copos sobre a mesa e depois arremessá-los contra a parede ou fazer um piano tocar sem que ninguém estivesse por perto. Por fim, procuramos o padre local e dissemos que queríamos fazer um exorcismo. Ele nos expulsou! Ele disse: ‘Eu não irei para aquele lugar; aquele lugar é horrível! ‘Nós dissemos: ‘Nós sabemos!’ Ele não quis vir. Mandamos fazer uma cruz e a colocamos no estúdio. Na sessão espírita seguinte, Baal disse: ‘Eu sou Baal, eu crio o caos. Vocês nunca vão sair daqui. O que essa coisa estúpida está fazendo na parede?’ Dissemos: ‘Você acredita em Cristo?’ Ele disse: ‘Ah, Cristo, ele era apenas um homem, não tenho medo de nada.’ Então, percebemos que tínhamos problemas.

Finalmente conseguimos terminar a música e ao sair estávamos descendo uma escada de pedra sinuosa, Cozy Powel (o batera da banda) estava atrás de mim, minha esposa Wendy provavelmente estava cinco ou seis degraus à minha frente. De repente a vi sendo arremessada escada abaixo. Felizmente a mala que carregava com algumas antiguidades chinesas recém-compradas amorteceu sua queda. Ela se virou para mim e me xingou! ‘Seu merda! por que você me empurrou?’, então perguntei a Cozy se eu tinha a empurrado e ele confirmou que eu estava longe dela. Adivinha quem fez isso? Aquele foi o golpe final de Baal”.

O álbum, gravado de maio a julho de 1977, foi finalizado em dezembro do mesmo ano, após a banda retornar de uma turnê pela Europa. Long Live Rock ‘n’ Roll foi lançado em abril de 1978 sendo muito bem aceito pelos fãs e pela crítica e até hoje é considerado um dos discos mais influentes do heavy metal.  Levou praticamente um ano para ser lançado, enquanto os dois primeiros álbuns de estúdio do grupo foram lançados em apenas quatro semanas. Tanto atraso teria sido culpa de Baal? Na dúvida, a banda resolveu “homenagear” o espírito com um singelo crédito na contracapa do disco: No thanks to Baal (Não, obrigado Baal).

Clique na imagem para vê-la maior.

A mansão de Château d’Hérouville

A mansão em foto de 1920.

Localizado na vila de Hérouville-en-Vexin, a 40 quilômetros de Paris, o casarão Château d’Hérouville é uma uma mansão construída em 1740 com pinturas feitas por Van Gogh, que inclusive está enterrado ali perto. Já foi um resort, uma estação de retransmissão de correio e hospedou até mesmo nomes como o escritor George Sand e o compositor Frédéric Chopin, que segundo sugerem alguns relatos, teriam vivido ali um caso de amor. Há quem acredite que um dos espíritos que assombram o local é do próprio Chopin. A propriedade se tornou um renomado estúdio de gravação residencial em 1969, após ser comprada pelo compositor Michel Magne em 1962.

Château d’Hérouville, 1977

Com problemas legais e financeiros o estúdio fechou em julho de 1985, um ano após o suicídio de Magne, sendo colocado a venda em 2013 e comprado por um grupo de engenheiros de áudio que o reformariam e reabriram em 2016.

Baal seria Chopin?

Não foram só os caras do Rainbow que presenciaram fenômenos assustadores no Château d’Hérouville. David Bowie e os produtores Tony Visconti e Brian Eno também vivenciaram experiências sobrenaturais durante uma das primeiras sessões de gravação do álbum Low (1977), como contou Visconti em entrevista à revista gringa Uncut Magazine: “Certamente havia alguma energia estranha naquele Château. No primeiro dia, David deu uma olhada no quarto principal e disse: ‘Eu não vou dormir lá!’ Ele ocupou o quarto ao lado. O quarto principal tinha um canto muito escuro, bem próximo à janela que parecia sugar toda a luz do ambiente para dentro dele, além de ser um recinto bem mais frio.” Já Brian Eno afirmou ser acordado cedo todas as manhãs com alguém sacudindo seus ombros, apesar de estar dormindo sozinho.

Tony Visconti, Brian Eno e David Bowie.

Na biografia “Starman: David Bowie – The Definitive Biography” de Paul Trynka, o autor afirma que ao investigar mais sobre os fenômenos ocorridos no Château descobriu que Ritchie Blackmore e seu Rainbow haviam passado por acontecimentos assustadores:

“… durante uma sessão de Ouiji-board, mensagens fantasmagóricas acabaram sendo reproduzidas em polonês perfeito – a língua nativa de Chopin. Nos últimos anos, a equipe do Château tentou abafar a fofoca generalizada sobre presenças espectrais, que persistiram até o estúdio fechar após o suicídio do proprietário Michel Magne.”

Seria Baal o espírito do compositor Frédéric Chopin? Isso nunca saberemos.

Do Cadê Meu Whiskey

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