Incrível como um filósofo do século XVI pode ser tão atual e este é o caso de Michel de Montaigne, que viveu na França em um período de transição do período medieval para a modernidade.
Esse filósofo percebia a relatividade da existência, valorizava o banal e o corriqueiro, admirava os animais por sua sabedoria simples, e via com abertura a diversidade humana.
Nada passava despercebido à mente atenta desse filósofo. Até questões aparentemente insignificantes do cotidiano ou do comportamento humano, tinham relevância para ele.
Por sua visão realista e livre, Montaigne enxergou que as causas da inadequação e da baixa autoestima percebida em algumas pessoas, têm relação com o comportamento massificado e a necessidade de aprovação do ser humano.
Para ele, a origem dos desequilíbrios humanos está na tendência humana em dividir o mundo entre o que é normal e o que é anormal. E a forma de transcender essa divisão, seria a aceitação, tanto de si, como dos outros, mesmo que não estejam nos padrões de “normalidade” da sociedade.
Seguindo essa linha de pensamento, a idealização do que é normal só traz angústia e falta de aceitação, a nós mesmos e aos outros!
Montaigne era uma filósofo à frente se seu tempo. Saiba mais sobre ele, pois, seus pensamentos podem ser muito úteis para você.
Sobre a vida de Michel de Montaigne
O filósofo Michel Eyquem de Montaigne nasceu na França, em Castelo de Montaigne, na data de 28 de fevereiro de 1533 e morreu em 13 de setembro de 1592.
Além de filósofo, Montaigne foi político, jurista, escritor e considerado o inventor do estilo literário ensaio pessoal (baseado na vivência individual).
Em suas obras, ele questionou os dogmas e a sociedade de sua época, tendo como objeto de estudo a humanidade, partindo de si próprio e da observação de outros seres humanos.
Ele tinha uma visão crítica sobre a educação tradicional, baseada somente em conteúdos de livros e memorização (memônica). Por isso, sua filosofia propõe um ensino focado na experiência e na ação, ou seja, na vivência individual.
Para ele, a educação deveria formar indivíduos para saberem vivenciar as experiência do cotidiano com mais compreensão, simplicidade, praticidade e menos teorias intelectuais.
O enfoque da filosofia de Montaigne
Os ensaios pessoais de Montaigne se converteram no livro Ensaios (em francês, Essais), que é constituído principalmente na expressão do ser humano em todas as suas peculiaridades, revelando suas vulnerabilidades e incongruências ao lidar com o cotidiano da existência.
Seus pensamentos filosóficos nasceram da observação de si mesmo e dos outros e, assim, ele conseguiu compreender a complexidade humana diante do fluxo da existência.
Montaigne em sua filosofia não teve a intenção de dar respostas, e foi com suas incertezas que se originou o seu cepticismo e pragmatismo, por isso, apresentou-se reticente em relação a misticismos, religiões e crenças. Enfim, ele tinha uma visão realista da Vida.
O ser humano, segundo Montaigne
Em sua visão filosófica, Montaigne preconizava a inconstância humana. Por isso, ele combatia pensamentos definitivos e fixos, por acreditar que o ser humano é contraditório por natureza.
Em seus Ensaios, Montaigne ressaltava que as ações de uma pessoa dependem das circunstâncias do momento, mais do que da sua personalidade e do seu raciocínio, ou seja, uma mesma pessoa poderia agir de maneiras completamente diferentes, de um dia para o outro, ou de tempos em tempos.
Ele compreendia que uma mesma pessoa pode apresentar muitas divergências, por isso ele via o ser humano como mutável e flutuante.
De acordo com Montaigne, um indivíduo é influenciado por cada acontecimento, sendo assim, não é possível determinar que a ação de uma pessoa revele o que ela é de fato, pois, o ser humano está sempre oscilando e mudando.
Dentro da análise de Montaigne, o que uma pessoa faz em uma determinada situação corresponde ao estado em que a pessoa está naquele momento, e não ao que ela é. Enfim, sob essa óptica, o ser humano é um ser plural e não singular.
Em suma, sob esse pensamento filosófico de Montaigne, são as circunstâncias da situação que determinam a ação.
Pensamentos e lições de Montaigne
Seguem alguns dos pensamentos de Montaigne que podem nos ajudar a viver melhor:
“À proporção que o homem exterior se destrói, o homem interior se renova.”
“Podemos ser instruídos com o conhecimento de outro, mas não podemos ser sábios com a sabedoria de outro.”
“Se não posso regular os acontecimentos, regulo a mim mesmo.”
“A pior desgraça para nós é desdenhar aquilo que somos.”
“Mesmo no mais alto trono do mundo estamos sempre sentados sobre o nosso traseiro.”
“À beira de um precipício só há uma maneira de andar para frente: é dar um passo atrás.”
“É uma perfeição absoluta, como que divina, o sabermos desfrutar lealmente do nosso ser.”
“Quem deseja diminuir a sua ignorância deve, em primeiro lugar, confessá-la.”
“Ninguém determina do princípio ao fim o caminho que pretende seguir na vida; só nos decidimos por trechos, na medida em que vamos avançando.”
“Viver é o meu trabalho e a minha arte.”
“O sinal mais seguro da sabedoria é a constante serenidade.”
“Nada há de mais belo e legítimo do que o homem fazer o bem e como deve ser, nem ciência tão difícil do que saber viver esta vida bem e naturalmente; e, de todas as nossas doenças, a mais terrível é desprezar o próprio ser.”
O que Montaigne nos ensina para superar a falta de autoestima
Montaigne dizia que existem 3 tipos de inadequações que provocam a baixa autoestima nas pessoas. Saiba quais são eles, com os exemplos a seguir:
Inadequação física – Não aceitar sua aparência, seu corpo, enfim, não se sentir de acordo com os padrões de beleza vigentes.
Inadequação por julgamento dos outros – Se preocupar com o que os outros pensam ou acham de você.
Inadequação intelectual – Por se sentir menos inteligente ou instruído que os outros.
Montaigne não apontou somente os problemas, ele deu a solução para superar essas inadequações e ter uma boa autoestima. Em síntese, o que ele ensina é o seguinte:
Aceitar-se como se é, com suas peculiaridades, características, aparência, limitações e valorizar cada parte sua, que te faz ser quem você é!
Ele também ensinou o que fazer quando se for alvo de preconceito e discriminação, fatores que prejudicam a autoestima das pessoas. Em resumo, seus conselhos é viajar física ou mentalmente para se deparar com a diversidade do mundo.
Baseado nessa ideia, a diversidade compõe a existência e o ser humano que, com sua mania de padronizar, cria o preconceito em vez de valorizar as diferenças e a essência de cada ser.
Quando baixar a autoestima, lembre de Montaigne e valorize-se por ser simplesmente você mesmo!
Por Deise Aur, no Green Me
DEISE AUR é professora, alfabetizadora, formada em História pela Universidade Santa Cecília, tem o blog A Vida nos fala e escreve para GreenMe desde 2017.
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