16 de abril de 2020

Quero ser Vereador, por Osvaldo Broza

Campo Mourão em Crônica II
Dia desses recebi a informação que um cidadão colocou seu nome mais uma vez à disposição para ser candidato a prefeito e lembrei dessa crônica abaixo do amigo Osvaldo Broza*, onde ele conta com muito bom humor (e muito sarcasmo!) um diálogo em um bar. 
Lembrei da crônica por que o dito cidadão é na verdade um ex-futuro candidato, já que é conhecido no "folclore político" da cidade como sendo aquele que lança a candidatura para poder negociar (em dinheiro, claro!) seu apoio a terceiros. E, creiam, tem quem caia no golpe do espertalhão.  

Vamos ao que interessa mesmo que é a crônica do Broza (recordei do saudoso Sérgio Kffuri sugerindo título para um futuro livro do marido da Malu: "Entre Versos e Brozas"). 

Quero ser vereador! 
Por Osvaldo Broza, no livro Campo Mourão em Crônica II

   Dias desses, numa roda de amigos, dois deles conversavam sobre política. Entre uma cervejinha e outra (outras) um deles disse que, depois de abominar a ideia por muito tempo, estava pensando em sair candidato a vereador. 

   - Que conversa fiada é essa?

   - Quero realizar alguns desejos!

   - Que desejos?

   - Viajar bastante! Adoro viajar. Vou participar de todos os congressos e cursos possíveis, no Brasil e no exterior e usar todas as diárias a que tiver direito. Já pensou conhecer os lugares mais bonitos, aprender um monte de coisas e ainda ganhar pra isso?

   - E ganhar bem! Com as diárias e outras “cozítas más, então...

   - Que outras “cozítas más”?

   - Eleição para presidente, por exemplo. Você pode negociar o seu voto...

   - Só negocio por uma viagem à Brasília. Deve ter cursos (?) interessantes por lá.

   - Tem os funcionários fantasmas...

   - É verdade mesmo que vereadores contratam funcionários fantasmas?...

   - Vereadores, deputados, assessores de deputados...Tem um que empregou a sogra durante onze anos. 

   - Tem os loteamentos...

   - Que loteamentos?

   - De cargos!...Na prefeitura, na Câmara, no Estado...

   - Ah, bom!

   - E títulos honoríficos, hein, vereadores gostam de conceder um título...

   - E o povo de receber. Já estou preparando uma lista que já tem quase 200 nomes. Moções já passam de 2.500... 

   - E os projetos?

   - Compro do Gilbertinho!

   - Quem é esse?

   - Ex-vereador de Campo Mourão. Ele vendia – não sei se ainda vende – projetos de lei para vereadores de todo o Brasil. Com mensagens justificativas e tudo. Já foi notícia até na Rede Globo...

   Depois de mais algumas risadas:

   - Mas vou cumprir fielmente a minha função. Serei implacável na fiscalização ao executivo!

   - Se o prefeito for seu adversário!

   - Mas colaborarei com ele em todos os seus atos que forem para o bem da comunidade!

   - Se o prefeito for seu aliado!

   Depois de mais uma pausa e mais uma cervejinha:

   - Porque não sai logo a prefeito?

   - Não tenho cacife pra isso! 

   - Saia e depois venda a candidatura!

   - Mas pode?

   - Não pode, né, mas tem tantas outras coisas que também não podem e acabam podendo!...

   - E quanto vale?

   - Depende do seu pedigree. Dizem que numa cidade da região teve um candidato a prefeito que vendeu para dois grupos diferentes, ganhando dos dois lados, sem que um soubesse do outro. 

   - Esse tinha tudo para ser um bom prefeito, então!  (risos). 

Osvaldo Broza
   - Mas eu quero mesmo é ser vereador. Um vereador “Do povo, pelo povo, para o povo”. 

   - Para o povo da sua casa! 

   Garçom, a saideira!...

Torcedor do Santos FC, Osvaldo Broza foi membro da Academia Mourãoense de Letras (até 2016). Ele sabe retratar causos do nosso dia-a-dia como poucos. 

Um comentário:

Osvaldo Broza disse...

Agradeço a publicação da crônica e as referências a mim dirigidas. Mas devo informar que não pertenço mais à Academia Mourãoense de Letras. Saí em 2016 porque não vinha cumprindo com minhas obrigações como acadêmico e não via justiça ou merecimento em pertencer a uma instituição tão importante apenas para usar seu nome e ser tratado como imortal. Aliás, nunca me senti à altura desse tratamento. Na verdade, ele me incomodava.