Campo Mourão em Crônica II |
Dia desses recebi a informação que um cidadão colocou seu nome mais uma vez à disposição para ser candidato a prefeito e lembrei dessa crônica abaixo do amigo Osvaldo Broza*, onde ele conta com muito bom humor (e muito sarcasmo!) um diálogo em um bar.
Lembrei da crônica por que o dito cidadão é na verdade um ex-futuro candidato, já que é conhecido no "folclore político" da cidade como sendo aquele que lança a candidatura para poder negociar (em dinheiro, claro!) seu apoio a terceiros. E, creiam, tem quem caia no golpe do espertalhão.
Vamos ao que interessa mesmo que é a crônica do Broza (recordei do saudoso Sérgio Kffuri sugerindo título para um futuro livro do marido da Malu: "Entre Versos e Brozas").
Quero ser vereador!
Por Osvaldo Broza, no livro Campo Mourão em Crônica II
Dias desses, numa roda de amigos, dois deles conversavam sobre política. Entre uma cervejinha e outra (outras) um deles disse que, depois de abominar a ideia por muito tempo, estava pensando em sair candidato a vereador.
- Que conversa fiada é essa?
- Quero realizar alguns desejos!
- Que desejos?
- Viajar bastante! Adoro viajar. Vou participar de todos os congressos e cursos possíveis, no Brasil e no exterior e usar todas as diárias a que tiver direito. Já pensou conhecer os lugares mais bonitos, aprender um monte de coisas e ainda ganhar pra isso?
- E ganhar bem! Com as diárias e outras “cozítas más, então...
- Que outras “cozítas más”?
- Eleição para presidente, por exemplo. Você pode negociar o seu voto...
- Só negocio por uma viagem à Brasília. Deve ter cursos (?) interessantes por lá.
- Tem os funcionários fantasmas...
- É verdade mesmo que vereadores contratam funcionários fantasmas?...
- Vereadores, deputados, assessores de deputados...Tem um que empregou a sogra durante onze anos.
- Tem os loteamentos...
- Que loteamentos?
- De cargos!...Na prefeitura, na Câmara, no Estado...
- Ah, bom!
- E títulos honoríficos, hein, vereadores gostam de conceder um título...
- E o povo de receber. Já estou preparando uma lista que já tem quase 200 nomes. Moções já passam de 2.500...
- E os projetos?
- Compro do Gilbertinho!
- Quem é esse?
- Ex-vereador de Campo Mourão. Ele vendia – não sei se ainda vende – projetos de lei para vereadores de todo o Brasil. Com mensagens justificativas e tudo. Já foi notícia até na Rede Globo...
Depois de mais algumas risadas:
- Mas vou cumprir fielmente a minha função. Serei implacável na fiscalização ao executivo!
- Se o prefeito for seu adversário!
- Mas colaborarei com ele em todos os seus atos que forem para o bem da comunidade!
- Se o prefeito for seu aliado!
Depois de mais uma pausa e mais uma cervejinha:
- Porque não sai logo a prefeito?
- Não tenho cacife pra isso!
- Saia e depois venda a candidatura!
- Mas pode?
- Não pode, né, mas tem tantas outras coisas que também não podem e acabam podendo!...
- E quanto vale?
- Depende do seu pedigree. Dizem que numa cidade da região teve um candidato a prefeito que vendeu para dois grupos diferentes, ganhando dos dois lados, sem que um soubesse do outro.
- Esse tinha tudo para ser um bom prefeito, então! (risos).
Osvaldo Broza |
- Mas eu quero mesmo é ser vereador. Um vereador “Do povo, pelo povo, para o povo”.
- Para o povo da sua casa!
Garçom, a saideira!...
Torcedor do Santos FC, Osvaldo Broza foi membro da Academia Mourãoense de Letras (até 2016). Ele sabe retratar causos do nosso dia-a-dia como poucos.
Um comentário:
Agradeço a publicação da crônica e as referências a mim dirigidas. Mas devo informar que não pertenço mais à Academia Mourãoense de Letras. Saí em 2016 porque não vinha cumprindo com minhas obrigações como acadêmico e não via justiça ou merecimento em pertencer a uma instituição tão importante apenas para usar seu nome e ser tratado como imortal. Aliás, nunca me senti à altura desse tratamento. Na verdade, ele me incomodava.
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