26 de março de 2019

Aplicativo brasileiro auxilia famílias a adotar crianças e adolescentes

Criada pelo Tribunal de Justiça do Paraná, a plataforma facilita o processo de adoção disponibilizando, principalmente, o perfil de crianças e adolescentes com poucas chances de serem adotados



Um nome, um número e alguns poucos dados. É dessa forma que hoje muitas crianças e adolescentes são identificados no Cadastro Nacional de Adoção (CNA). Sem um rosto, um olhar, uma voz, essas crianças se tornam “invisíveis”, o que dificulta muito o processo e a intenção de aproximação de alguma família que esteja disposta a adotar. E, principalmente quando ela já tem mais de oito anos de idade, possui irmãos ou é portadora de alguma doença ou deficiência, é quase que automaticamente rejeitada pela grande maioria dos pretendentes à adoção. Isso antes mesmo de ter a oportunidade de mostrar quem ela realmente é.

Foi percebendo essa situação e procurando por maneiras de ajudar mais essas crianças, que o Tribunal de Justiça do Paraná criou o aplicativo A.DOT. Lançada em maio de 2018, a plataforma promove a aproximação entre os pretendentes à adoção cadastrados no Brasil e as crianças e adolescentes que esperam por uma família. “Queríamos algo que desse visibilidade a esses adolescentes e crianças que não encontraram pretendentes”, explica Sérgio Luiz Kreuz, juiz auxiliar da Corregedoria do Estado do Paraná e um dos idealizadores do projeto. “Essa é uma forma de tentar sensibilizar as pessoas que estão lá aguardando a oportunidade de constituir uma família”, analisa.

Quais os procedimentos para a adoção de crianças no Brasil?

O A.DOT surgiu inspirado em outros aplicativos de relacionamento. “A gente achou que isso poderia dar resultado, até porque, na medida em que pudéssemos colocar vídeos com informações mais detalhadas sobre a criança ou adolescente em condição de serem adotados, poderia haver interessados e foi justamente o que aconteceu”, conta Kreuz. O cadastramento dessas crianças e adolescentes, bem como todo o conteúdo do perfil de cada um – fotos, vídeos e textos – só são disponibilizados na plataforma após avaliação e autorização do magistrado responsável.

Desde o lançamento do aplicativo, foram mais de 10 mil downloads e solicitações de acesso – que são liberadas somente para pretendentes habilitados, grupos de apoio à adoção e membros do Judiciário e Ministério Público. As pessoas devidamente cadastradas recebem uma senha de acesso e, caso se interessem por alguma criança, poderão solicitar a aproximação pelo próprio aplicativo. O pedido é imediatamente encaminhado ao juiz responsável que deverá avaliar a solicitação e providenciar a aproximação entre os pretendentes e a criança. O A.DOT facilita somente esse primeiro contato. Após o pedido de aproximação, o restante do processo é feito – obviamente – fora do mundo virtual.

Uma nova família – a primeira adoção facilitada pelo aplicativo

Foi essa a experiência vivida pela primeira família que conseguiu realizar uma adoção com a ajuda do aplicativo. A confeiteira Andréia Anklam e seu marido moram no interior de Santa Catarina e já estavam na fila de espera pela adoção há quatro anos e três meses. Ao fazer uma visita no Fórum da cidade, a assistente social lhes apresentou o aplicativo e, segundo Andréia, ao ver os primeiros vídeos disponíveis na plataforma, ela teve certeza de que seria pelo A.DOT que conheceria seus filhos.

Segundo ela, o que mais facilitou foi poder ver as crianças e saber mais sobre elas. “Ler sobre elas e vê-las falando é totalmente diferente do que você somente imaginar”, conta a confeiteira. Andréia disse ter sentido algo muito forte quando viu um casal de irmãos, no aplicativo – uma menina de 10 anos e um garoto de 11. O processo de aproximação foi rápido. Andréia e o marido fizeram o pedido no dia 27 de junho de 2018 e, já no dia seguinte, receberam uma ligação do Fórum da sua região.

Crianças com necessidades especiais passam a ter prioridade na fila de adoção

Logo, o primeiro encontro com as crianças aconteceu. Algumas semanas mais tarde, o casal recebeu a guarda definitiva dos irmãos. “A adaptação com eles foi bem tranquila. Muitos pais têm medo de adotar crianças com mais idade porque acham que elas nunca vão te chamar de pai ou de mãe”,  afirma a Andréia. Ela conta que a menina a chamou de mãe já na primeira visita e o garoto, um pouco mais resistente, na segunda vez em que estiveram juntos.

Andreia conta ainda que a emoção que sentiu quando viu os dois irmãos pela primeira vez foi a mesma de quando nasceu seu primeiro filho biológico. “Eu tive a oportunidade de ver o rostinho deles assim como vi do meu filho mais velho, vi eles darem os primeiros passos em direção a mim, ouvi eles me chamarem de mãe, então foi tudo igual”, relata emocionada. “A única coisa que muda é que a gente tem que abraçar e respeitar a história deles. Se a gente tiver amor, a idade não importa”. A certidão das crianças com o sobrenome da família chegou no último mês de fevereiro.

Além dos filhos de Andréia, mais duas crianças cadastradas no aplicativo estão com a adoção em andamento. Em 2018, foram 66 solicitações de aproximação e agora, nos primeiros meses de 2019, mais 37. Segundo Kreuz, a plataforma está alcançando cada vez mais estados. As comarcas de Minas Gerais e Mato Grosso já aderiram à ideia e estão enviando os vídeos das crianças e adolescentes de suas regiões que esperam pela adoção. O objetivo é reunir o maior número possível de perfis de crianças de todo o país que até agora não encontraram pretendentes, para que elas tenham a chance de encontrar uma família.

O aplicativo está disponível para Android e iOS.

Nenhum comentário: