Valdeci Carvalho de França, o Miquinha (in memorian) |
Noutra edição, narrei, neste mesmo espaço, a cabeçada que dei com o Miquinha, Valdeci Carvalho de França, jogando futebol de areia, e que me deixou fora do ar, apesar de acordado, por quase 12 horas.
Desde então, nos tornamos bons amigos e temos nos encontrado com frequência, quase sempre em eventos esportivos.
Mas, o que nos tornou bons amigos foi um evento no qual fomos parceiros. Eu administrava a Rádio Colmeia e uma trupe de profissionais de luta-livre (aquela luta que é pura marmelada) chegou a Campo Mourão e contratou a emissora para divulgar, durante uma semana, a apresentação dos lutadores.
Tudo acertado e eles pedem que encontremos alguém para desafiar a única lutadora do plantel, a Índia Amazonense. Depois de muito pensar, me lembrei dele e, junto com o Edir, até hoje funcionário da emissora, fomos até a casa do negão para ver se ele topava a empreitada.
Relutou bastante, mas, apesar da merreca que receberia e do mico pelo qual passaria (a luta era combinada e ele teria que apanhar da profissional), topou participar.
Durante uma semana inteira, os lutadores frequentaram todos os programas da Colmeia e, em todos eles, a Índia provocava o Miquinha, afirmando que ele nunca mais se meteria com ninguém e que dificilmente aguentaria mais de um round.
Naquela época a Colmeia era líder de audiência com muita folga e por onde você andasse só se ouvia sobre o desafio do Miquinha. Imaginem o que ele aturou de brincadeira de seus amigos do Jardim Alvorada, onde ele morava então.
No dia da luta, chegou ao ginásio de esportes e já se irritou na portaria quando não o reconheceram e o barraram por instantes, até que o liberássemos. Depois de liberado, barraram um amigo dele que afirmava ser o empresário do desafiante e que insistia em perguntar se o Miquinha tinha mesmo de apanhar.
Chegado o grande momento, a platéia estava dividida, metade torcendo pela lutadora e metade para o desafiante. Mal começa a luta e o Miquinha leva uma porrada da Índia, que sorri ironicamente para a platéia. O negão se enfezou e partiu para cima dela e se não é os demais lutadores apartarem, não sei não, se ele não estaria preso até hoje.
Não me lembro bem, mas parece que ele perdeu o cachê. Nunca mais ouvimos falar da “invencível” Índia Amazonense. O que me incomoda, até hoje, é o sorriso vitorioso do empresário do desafiante na saída do ginásio.
Publicado originalmente no Semanário Entre Rios, em fevereiro de 2006. Miquinha morreu assassinado em agosto de 2009.
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