Sou muito ruim para contra-argumentar. Se for política o tema então, travo. Acho que essa "inércia" é para que reflita e não acabe falando bobagem. Às vezes, ou muitas vezes, a resposta vem através de terceiros, como nesse texto do jornalista, ex-redator chefe da revista Veja, Mario Sabino, do Antagonista. No qual ele trata sobre questão do voto útil, daquele papo de "só tem bandidos, vou protestar, não vou votar esse ano". Fico sempre sem argumentos para quem vem com esse papo. O máximo que falo é que não votando estás deixando espaço para a pior espécie de político que existe: o corrupto! Sabe aquele que compra seu voto, às vezes pagando uma simples cerveja, doando uma cesta básica ou arrumando/prometendo um cargo às vésperas das eleições? Pois é, ele vai ser eleito por causa da ausência daqueles que poderiam definir as eleições e depois, muito provavelmente, se auto ressarcir com o dinheiro público.
Leiam o artigo e vejam como deixamos os bandidos assumirem o poder quando nos acovardamos -- não é protesto, é covardia! -- e deixamos de cumprir com nossa obrigação eleitoral. (Os destaques no texto são meus).
Não vaie, vote (útil)
Por Mario Sabino
Mário Sabino |
Acompanhei as convenções republicana e democrata pela TV. Como sempre, elas reuniram um monte de gente esquisita. Mas o teatro da política americana é fascinante. Os discursos democratas deste ano foram, de longe, os melhores – nas mentiras, na demagogia, nas piadas, no timing. Também desse ponto de vista, Donald Trump fez um estrago entre os republicanos. Ninguém se mostrou entusiasmado com a sua candidatura, a não ser ele próprio, e isso se refletiu nas falas sem graça dos caciques do Grand Old Party. A belíssima Melania Trump foi divertida inadvertidamente, por causa do sotaque esloveno e do plágio de um discurso antigo de Michelle Obama. Eu queria muito mais. Infelizmente, falta alguém que bata na cintura de Ronald Reagan.
Barack Obama foi um presidente desastrado em vários aspectos, mas é inegável que se trata de um showman acima da média de Washington. No seu discurso em apoio a Hillary Clinton, ao citar Donald Trump, ele calculadamente respondeu às vaias com um slogan que já pegou: "Não vaie, vote". Em português, a aliteração o torna ainda mais atraente.
Nos Estados Unidos, como nos demais países civilizados, o voto não é obrigatório. Essa é uma das grandes preocupações dos democratas, se não a maior – que um monte de gente desiludida deixe de ir às urnas e a abstenção maciça dê a vitória a Donald Trump. Eles sabem que a rejeição à mentirosa Hillary Clinton é enorme, mas contam que o nojo ao adversário estimule os cidadãos a tapar o nariz e fazer voto útil.
Donald Trump é nojento porque chama mulheres de "porcas" e mexicanos de "estupradores", ridiculariza deficientes físicos, dá trambiques em pequenos empresários e estudantes e elogia Vladimir Putin como modelo de liderança. Muito gente também se incomoda com o seu narcisismo. Há dezesseis anos, o conservador William F. Buckley, fundador da National Review, escreveu a frase definitiva sobre essa patologia do atual candidato republicano: "Se Donald Trump tivesse outro molde, ele competiria no concurso de Miss America" (já Lula disputaria o Miss Garanhuns).
No Brasil, onde o voto é obrigatório, quase 28% dos eleitores deixaram de votar em 2014, ao somarmos abstenções, brancos e nulos. Dá mais de 30 milhões de pessoas, quase uma Argentina. Eu tendo a crer que, houvesse esse contigente votado, Aécio Neves teria ganhado. No entanto, a oposição, cheia de pruridos, não fez campanha pelo voto útil e ajudou a empurrar para a frente a criatura do nosso Donald Trump com sinal ideológico trocado.
Muita gente acha que voto útil é sinal de despolitização e falta de informação. Eu acho o contrário. Para mim, só existe voto útil. Como resumiu o meu amigo Diogo, democracia é uma forma de substituir um bandido por outro. O rodízio de bandidos é essencial para dificultar a vida deles e, assim, tentar fazer que o país avance. Só não dá para promover esse rodízio quando o bandido da oposição é pior que o bandido da situação. Aí o negócio é ficar com o que se tem. É nisso que aposta o Partido Democrata americano.
Eu espero que nas eleições brasileiras o voto útil passe a ser o instrumento para tirar quem deve ser tirado e manter quem precisa ser mantido, na falta de coisa melhor.
Não vaie, vote.
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