21 de junho de 2016

QUANDO EU CRESCER... Por José Eugênio Maciel, o Gudé

Reafirmo minha condição de fã dos textos do José Eugênio Maciel. Não sei se sou o número um, mas estou entre os primeiros talvez atrás apenas dos muitos manos dele. Olha só que delícia de texto que ele publicou em sua coluna no jornal mourãoense A Tribuna de Interior. as imagens são por minha conta...


QUANDO EU CRESCER...
“Aprende que há mais dos seus pais em você do que você supunha. Aprende que nunca se deve dizer a uma criança que sonhos são bobagens, poucas coisas são tão humilhantes e seria uma tragédia se ela acreditasse nisso. Aprende que quando está com raiva tem o direito de estar com raiva, mas isso não te dá o direito de ser cruel”. 
William Shakespeare
As muitas reformas da casa de madeira com sótão, sobretudo do telhado não impediam que com o tempo, tempo de muita chuva, as goteiras ressurgissem. Numas dessas noites eu era um da turma a pegar panelas e vasilhas para colocar onde descia a água. Acordei mesmo com o cascudo dado pelo meu pai, antes de terminar por completo o que dissera (sem imaginar que os ouvidos dele eram bons e que estava logo atrás de mim): “Quando eu crescer e tiver a minha casa não vai ter goteira..” Já seu Eloy quase fez eu mergulhar o rosto num daqueles recipientes, disse ele: “enquanto você viver nesta casa e não tiver a sua, trate de obedecer sem reclamar”. 

Quando fazia bolos, daqueles grandões para casamento ou outras festas, a minha saudosa mãe Elza antes mesmo de iniciar os preparativos, lá estava eu na cozinha, ao redor da mesa, observando tudo atentamente. Educado e solícito como nunca e em tais ocasiões, a mãe poderia me pedir qualquer ajuda e eu estava pronto, oferecido. “Gudé, vá untar a forma com manteiga”, dizia ela. Pouquíssimas vezes e na maioria das vezes  untar é termo tão próprio de confeitaria, e próprio da minha mãe. Claro, o espicula aqui foi logo perguntando o que era untar. Como eu untei formas e formas! Tudo para poder lamber um pouquinho do leite condensado que ela deixava na lata. “Um dia eu vou crescer, trabalhar, ter o meu dinheiro e vô comprar latas e latas de leite condensado para tomar tudo!”. Era o meu sonho.

Minhas irmãs sabem bem de tal fato, tanto sabem que, em datas de aniversário ou de amigo secreto, o que ganho de presente vem sempre embrulhado junto uma lata de leite condensado, “Leite Moça”. A cada três meses, acho eu, compro uma lata. Em casa, após olhar para todos os lados e não ver perigo algum, (moro sozinho) faço dois furos na lata e tomo quase tudo. A vida é mesmo doce, A alegria minha, completada pelo carinho das minhas irmãs, não se desfaz, pois lembro da ternura da minha mãe me deixando a lata para lamber. Vida doce! Doce vida!

José Eugênio Maciel é professor, advogado e sociólogo. 

2 comentários:

Unknown disse...

Luizinho, não é de hoje a nossa amizade. Com sentimento enorme de gratidão, fico satisfeito não pelo comentário em si, mas por ser você quem o fez, a respeito do texto publicado na minha Coluna, Jornal Tribuna do Interior. E, como faço sempre, leio o Baú do Luizinho com total alegria, são os teus textos primorosos, a lembrança de de fatos da nossa Campo Mourão. Não é apenas um baú, mas um baú repleto de informações, imagens, textos e contextos. Seu Baú - claro, nosso também como leitores - é um verdadeiro relicário. A ilustração dada ao texto é primorosa. Grande abraço!

Irineu Luiz Ferreira Lima disse...

Abraços!