23 de maio de 2016

A história do Expresso Nordeste contada por Wille Bathke Jr.

Com relatos dos irmãos Germano e Teófilo Boiko, meu querido amigo Wille Bathke Jr., em agosto de 2015, contou em seu blog muito da história do Expresso Nordeste em seus mais de 50 anos de atividade. Vale a leitura para aprender um pouco mais sobre os pioneiros mourãoenses (tomei a liberdade de editar e omitir algumas fotos. Clique aqui para ver a postagem original do Wille).


Por Wille Bathke Jr.

Nos anos 50, um jovem carroceiro enfrentava as dificuldades da vida. O Brasil ainda sofria as consequências desastrosas da II Guerra Mundial. Vassílio comercializava frutas, verduras e cereais e ajudava a sustentar a família. Mas, ele tinha um grande sonho: possuir uma empresa que transportasse pessoas, que reduzisse distâncias entre cidades, e que facilitasse a vida de quem precisava percorrer longas distâncias, pelas estradas de terra do Paraná, que mais pareciam 'carreadores'.

Família de Verônica e Vassilio Boiko em Campo Mourão
Esse jovem de espírito empreendedor era Vassílio Boiko, nascido em setembro de 1913, em Prudentópolis - PR. Começou a trabalhar, com sete anos de idade, na lavoura com o pai. Ganhou dele uma carroça e uma parelha de animais usada no transporte e comércio de lenha. Depois adquiriu uma carroça maior para transportar e vender frutas, principalmente repolhos e laranjas.

  
Vassilio e Nicolau Boiko acreditaram em Campo Mourão
A partir de 1945, com 32 anos, começou a viajar pelos sertões. Vendia medicamentos (melhoral, cibalena, sal de frutas, etc.) tecidos, roupas e sal, além de prestar outros serviços de transporte. Assim, economizou dinheiro e conseguiu adquirir um caminhão Ford 1946, com o qual continuou no ramo de vendedor ambulante até 1951 quando instalou um armazém na localidade de Macacos, próxima a Roncador – PR e ali trabalhou com tenacidade, com sua esposa e companheira destemida, Verônica Boiko.

Primeira 'jardineira' de Campo Mourão
Como os negócios prosperavam cada vez mais, em 1952 ele resolve, em sociedade com o irmão Nicolau Boiko, adquirir o Expresso Oeste, empresa constituída por duas 'jardineiras' Ford, com capacidade para 12 passageiros cada uma, propriedade de Elias Xavier do Rego e dos filhos motoristas: Joaquim e Aristóteles, que faziam a linha Campo Mourão – Mambore - Pitanga, diariamente

Em 1958, adquiriu a parte da sociedade do irmão Nicolau e no ano seguinte se mudou a Campo Mourão, onde instalou um hotel, que era ao mesmo tempo: sede da empresa, ponto de ônibus, alojamento dos motoristas e cobradores, bem como, de sua família. Nessa época adquiriu três ônibus e também a linha Pitanga – Guarapuava. Dois anos depois, ao abrir a linha Goioerê – Cascavel, precisou adquirir outros três ônibus, que foram pagos à prestação, com muito trabalho.

Vassilio Boiko aumentou rapidamente a frota
Ao acreditar no potencial de crescimento da região, Vassílio sempre buscou potencializar seus serviços de transportes de passageiros para toda esta rica região do Paraná, que na época começava a se desenvolver com a colonização de muitas cidades impulsionadas pela madeira, cafeicultura, hortelã, e outras culturas.

Em pouco tempo já eram 15 ônibus rodando pelas estradas do Paraná, além de possuir uma matriz administrativa e garagem própria, sediadas em Campo Mourão, já contava com agências em outras cidades que estavam nos roteiros.

As cidades surgidas na região possuíam estrutura precária, além de muito mato, pinheiro e a mão-de-obra também era escassa. Por isso, Vassílio, foi buscar nos conterrâneos das famílias amigas de Prudentópolis, trabalhadores de confiança, que pudessem colaborar para o crescimento da empresa e consequentemente de toda região. Esses vinham de mala e cuia trabalhar na Empresa, chegando inclusive a morar nas instalações.

A primeira garagem, oficina e hotel eram na Avenida Irmãos Pereira, esquina onde está o Integrado, em frente ao Armazém São Pedro, de Antonio Peixer
É o que conta José Macohin, o 'Macuco', com 71 anos, um dos primeiros funcionários da empresa. “Vim chamado pelo Vassílio que era conhecido do meu pai em Prudentópolis. Comecei como cobrador. Passei muitas noites nas estradas com os carros encalhados no barro, ou à beira dos rios da região à espera de balsas. Morava na Empresa que fornecia tudo o que precisávamos. Depois fui pelo interior ajudando nas garagens que estavam começando e precisavam de peças para os carros, também trabalhava prestando socorro aos carros à noite, quando era necessário. Já fui controlador do estoque de peças, almoxarife, entregador e recebedor de peças. Considero a Empresa como se fosse minha casa, e minha família também considera assim”, afirma.

Travessia do Rio Piquiri rumo a Campo Mourão
Muitos desafios foram enfrentados nas estradas até a Empresa se consolidar. Sem asfalto ou mesmo pontes sobre os rios, uma viagem tornava-se uma aventura. As chuvas traziam barro e faziam os carros ficarem dias nas estradas sem pavimentação. Seguir viagem, só quando se colocava correntes nos pneus. Também havia a poeira vermelha nas épocas secas, e muitas balsas sobre os rios. Se faltavam estradas e veículos, o jeito muitas vezes era transportar o máximo possível de passageiros, muitos destes migrantes, famílias inteiras com as mudanças em busca de uma vida nova e prosperidade no interior do Paraná. Pessoas com seus sonhos, sendo transportados pelos carros da Nordeste.

“O grande problema era quando chovia. O Rio Piquiri subia, a balsa parava e nós ficávamos presos. Havia necessidade de esperar o rio baixar. E quando não era chuva, era poeira. Chegávamos em Maringá empoeirados, a terra era vermelha e mesmo com banho não saía toda a sujeira”. Germano Boiko.

Verônica enfrentou enchentes com Vassilio Boiko
Mesmo entre tantas dificuldades, os colaboradores e proprietários não deixavam de transportar as pessoas e suas histórias. “No percurso da viagem de Campo Mourão a Guarapuava levava-se uma semana, quando chovia. Era meio dia de sol e chovia de novo. A estrada não secava em meio dia. Por isso, conhecíamos todos os moradores nas estradas. Andávamos de 5 a 10 quilômetros para encontrar alguém e pedir comida ou pouso. Muitas vezes todo mundo dormia dentro do ônibus, porque não passava ninguém, nenhum socorro aparecia”, lembra Germano Boiko.

Vassílio e Verônica Boiko enfrentaram o sertão de Campo Mourão
Vassilio Boiko, juntamente com sua esposa Verônica, satisfeitos com o sucesso da Empresa, abriram firma no dia 27 de junho de 1963, com  registro na Junta Comercial do Paraná, de “EXPRESSO NORDESTE LTDA”.

Exultantes com a Empresa, em 1970 o pioneiro Vassílio instalou a Sede Administrativa em Campo Mourão. Adquiriu uma área de 51.200 metros quadrados, sendo 2.000m2 de área construída para a Administração, 5.000m2 para a manutenção e mais 326 m2 incluindo alojamento e serviços gerais e associação esportiva. A Sede Administrativa dá apoio às demais garagens, ao pessoal e à frota de veículos. 

Com o falecimento de seu fundador, em fevereiro de 1980, a Empresa Expresso Nordeste passou a ser administrada por seus filhos, que deram continuidade deste grande empreendimento que tem destaque nacional nos seus segmentos de atuação, por oferecer sempre um ótimo serviço, modernidade na frota de coletivos, com profissionais capacitados, que tornam as viagens especiais aos usuários deste renomado transporte coletivo.

 Pela expansão no ramo instalou a Matriz em São Paulo/SP, e atua nos Estados do Paraná e São Paulo nos segmentos de transporte rodoviário de passageiros, cargas e fretamento, tendo uma frota de 300 veículos. Emprega, direta e indiretamente, mais de 1000 funcionários. Transporta, em média, 250.000 de passageiros e roda em torno de 1.350.000 km por mês. Possui mais de 130 pontos de vendas de passagens e 14 garagens utilizadas na limpeza e manutenção de veículos.

A empresa Expresso Nordeste administrada por Teófilo Boiko e Germano Boiko, juntamente com seus filhos, já ultrapassou 50 anos de sucesso, viajando pelo Brasil, levando gente, carregando histórias e beneficiando direta e indiretamente milhares de brasileiros. 

“Cada época tem suas peculiaridades. Hoje nossa atividade mudou, porque os meios de transportes mudaram, e o poder aquisitivo aumentou bastante. Então temos que procurar inovar sempre, frotas novas, condições de pagamento. Temos que proporcionar satisfação a partir do momento da compra da passagem. Garantir tanto na origem quanto no destino, pontualidade, segurança, conforto e bom atendimento” revelou Teófilo Boiko.

Essa é a breve história de Vassílio Boiko, de sua família e do Expresso Nordeste. São mais de 50 anos de somas de esforços, multiplicados pelas conquistas e aproximação das pessoas através do transporte coletivo! concluiu Germano Boiko.


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