1 de junho de 2009

Crônica

O Sapo
Osvaldo Broza

Sidnei Likes, Arcelino Bronski e Valdete Rodrigues de Almeida faziam a final de uma partida de caxetão, no Country Club, sob grande expectativa dos demais jogadores, sapos e curiosos que circundavam a mesa. E o Sidnei saiu quase batido: um jogo feito, um par e dois coringas. Pra quem entende de caxeta, com um jogo destes é difícil não bater. E o Valdete, ao contrário, saiu com um jogo relativamente fraco: um jogo feito, um par e quatro cartas loucas (cartas loucas são aquelas que não formam pares nem seqüências). O Arcelino saiu mais fraco ainda. Mas era obrigado a mandar, porque só tinha um ponto, contra dois dos adversários. E os sapos acompanhavam tudo com a maior atenção. Sapo, pra quem não sabe, é aquela pessoa que não participa do jogo, diretamente, mas fica atrás ou ao lado do jogador, olhando as cartas e até dando palpites disfarçados – um cutucão, por exemplo.
Jogo iniciado, um dos sapos fica bem atrás do Sidnei. Fungando no seu cangote, como diria o Ely Rodrigues. De repente, o Valdete insulta o Sidney para apostarem uma caixa de cerveja. E o Sidnei, para surpresa de todos - o seu jogo era infinitamente melhor que o do Valdete -, pensa, pensa, pensa... E diz não. Foi daí que o sapo, conhecido entre a turma como um grande mão fechada, que nunca pagava nada pra ninguém, entra na parada. “Eu jogo duas caixas de cervejas no pé do Sidnei”, diz estufando o peito e já tirando a carteira do bolso pra casar o dinheiro. O Valdete topou a parada, também puxou a sua carteira, e ambos casaram o dinheiro correspondente às duas caixas de cervejas.
Na primeira jogada, o Sidnei descarta um coringa, lamentando-se em seguida pelo erro cometido. Com isso, ele diminui o seu jogo, e o Valdete dá uma arrumadela no seu. O sapo fica apreensivo. Mas, ainda dá tempo, pensou. Na segunda jogada, para desespero do nosso amigo, mais um coringa jogado fora pelo Sidnei. Ele justifica, dizendo estar muito nervoso.
O sapo, que já estava amarelo, embranqueceu de vez. A aposta mais ganha da sua vida – imaginava ele - estava se tornando num terrível pesadelo. Claro, ele tinha visto as cartas dos três jogadores e, além disso, o Sidnei era considerado um dos melhores caxeteiros do Country. Umas duas ou três jogadas depois, o Valdete bate o jogo. O sapo esbraveja, mas o dinheiro estava casado e “jogo é jogo”, disseram.
O sapo, desta vez, para alegria geral, pagou cerveja pra todo mundo, menos pra ele, que foi embora, brabo, e demorou muito tempo pra voltar no Country. E apostar, no jogo dos outros, nunca mais. Quase dez anos depois, o Silvio Turcci ainda acha que foi tudo combinado.

Extraída do livro “Campo Mourão em Crônica” de autoria de Osvaldo Broza

Nenhum comentário: