12 de maio de 2009

Crônica

O termômetro

Por Osvaldo Broza

Erros e descuidos médicos são frequentemente noticiados pela imprensa, muitos não comprovados e alguns plantados por maldade ou sensacionalismo. Já ouvi histórias de gases, tesouras, agulhas e outras ferramentas que foram deixados na barriga de pacientes; que trocaram uma perna pela outra na hora da amputação e tantas outras escabrosidades.
O fato é que o médico salva dez vidas e ninguém fala nada, é obrigação dele. Um erro, um descuido, entretanto, mesmo não comprovado ou até plantado, e sem nenhuma consequência mais séria, já é motivo para os menos informados jogarem seus cachorros pra cima dele. É claro que existem os maus médicos, como existem os maus jornalistas, os maus advogados, os maus políticos (ponha mau nisso), os maus professores, os maus malandros...(bons malandros tem aos monte por aí, em todos os segmentos) mas ao médico, em que pese o seu lado humano, não lhe é permitido errar, nunca.
Mas não é o meu caso analisar essa questão, até porque não vejo nenhum motivo cômico nisso, característica das minhas crônicas. Faço essa pequena introdução para falar de um bom médico que morou por aqui nas décadas 60 e 70, José Luiz Tabith. Clínico geral o obstetra, ele deixou em Campo Mourão uma infinidade de amigos, em virtude do seu lado humano, prestativo, participativo, solidário e sobretudo pela sua competência. Atendia na Santa Casa de Misericórdia e no Hospital São José. Aliás, ele foi um dos fundadores desse hospital, juntamente com os médicos Germano Traple, Serafim Portes Rocha e Cleso Lopes Nogueira. Participava ativamente da vida social e esportiva da cidade. Foi o primeiro presidente do Country Clube e, junto com Roberto Quintanilha Braga, foi médico da Associação Esportiva e Recreativa Mourãoense – AERM – nos anos 1969 e 70. Chegou por aqui por volta de 1963 e foi embora pra São Paulo em 1975, onde faleceu dez anos depois.
Muitos causos contam-se a seu respeito, próprio dos homens que fazem história e deixam coisas boas para serem lembradas. Algumas engraçadas.
No começo de 1970, por exemplo – conta o Dr. Artur Kunioshi - o Dr. Tabith atendeu um paciente que morava num sítio da região. Foi na Santa Casa, que ficava em frente ao Cine Plaza, hoje um templo da Igreja Universal. Depois dos exames, como era seu costume, conversou bastante com o paciente, passou a receita e pediu-lhe que voltasse dentro de dois a três dias. Dentro do prazo que haviam combinado, o paciente voltou para a revisão.
- E daí, melhorou?
- Miorá eu miorei, dotor. Aquelas dor que eu tava sintindo num sinto mais. Mais aquele apareinho que o Sr. colocou no meu suvaco tá me dando câimbra no braço.
O termômetro, enfim retirado do “suvaco” do coitado do paciente, não indicava nenhuma febre. Mas a temperatura do Dr. Tabith deve ter subido um monte. Já pensou se o prazo da revisão fosse trinta dias?!

Extraída do livro “Campo Mourão em Crônica”, de autoria de Osvaldo Broza

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