12 de dezembro de 2008

Resenha


São Paulo, o time que eu odiava e o Forlan me fez amar
Por Juca Kfouri


De todos os times brasileiros, havia um de que, definitivamente, eu não gostava. Mais: eu odiava mesmo. O São Paulo FC. Explico por quê.
Meu padrinho de batismo, o tio Adib, era tricolor doente, assim como todos os Aidar. E era com eles que eu ia ao Morumbi ainda em construção, nos anos 60.
Nos jogos em que o São Paulo estava ganhando do Corinthians e a torcida corintiana começava a ir embora, nas cadeiras cativas do estádio só se ouviam gritos do tipo “Vão embora, seus pobres” ou “Vão tomar o ônibus, seus Favelados”. Aquilo me doía e revoltava. Sempre digo que aprendi a noção de luta de classes no Morumbi. E torcia contra o São Paulo, sempre, em qualquer circunstância. Até que, numa bela noite de 15 de dezembro de 1971, já como jornalista, fui ao Morumbi para ver São Paulo e Botafogo, pelas finais do primeiro campeonato brasileiro. As finais foram disputadas em sistema de triangular, e, no domingo anterior, o Atlético Mineiro derrotara o São Paulo no Mineirão.
Os paulistas tinham que ganhar dos cariocas e depois torcer por eles diante dos mineiros, jogo que estava marcado para o domingo seguinte, no Maracanã, e que terminaria com a vitória do Galo, campeão, por 1 a 0. Mas voltemos ao Morumbi.
Lá eu estava para torcer pelo Botafogo, que saiu na frente, gol de Nei, ex-corintiano, pai do Dinei. Mas o São Paulo tinha um lateral-direito uruguaio e cabeludo chamado Pablo Forlan. Ele pegou a bola no fundo do gol e deu uma bronca geral no seu time, dizendo que não iria perder um jogo em casa por nada no mundo. E tratou de dar o exemplo. Possesso, foi ao ataque e logo empatou o jogo. Não se contentou, é claro, porque empatar ou perder dava no mesmo. Cada vez que pegava na bola, Forlan incendiava o Morumbi e, assim, levou o São Paulo à virada – o segundo gol marcado por Terto, três minutos depois do seu. Nem por isso Forlan se aquietou, comandando o time, que marcou mais duas vezes: 4 a 1! Extenuado ao fim da partida, Forlan era a imagem de um… de um… na minha cabeça, de um… herói corintiano. Deixei-me levar por um surto de bom senso, no entanto, e me dei conta de que havia ali um exemplo de alguém que merecia uma estátua na porta do Morumbi. Pela primeira vez, senti simpatia pelo São Paulo e pelos são-paulinos. Depois, veio outro uruguaio, o genial Darío Pereyra. E, mais adiante, Telê Santana. A raiva estava derrotada para sempre. A partir daí, várias vezes me peguei e me pego torcendo pelo São Paulo, quase como se fosse o meu time de coração. Melhor assim.


(Extraído do livro "Meninos, eu vi", de Juca Kfouri, editoras DBA/Lance!)

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