16 de dezembro de 2008

Crônicas

A Carona
Por
Osvaldo Broza

Eram quase seis horas da tarde do dia 20 de outubro de 2008, uma segunda-feira.
O motorista José Ailton da Costa, de Campo Mourão, o popular “Faísca”, vinha de Ivaiporã e quando passava por Peabiru, num quebra-molas, em baixa velocidade, uma menina de mais ou menos 15 anos lhe pediu carona.
A princípio, ele até tentou recusar, dizendo que estava com muita pressa.
Mas, diante do argumento dela, de que poderia descer na rodovia mesmo, em frente ao Parque de Exposições, na entrada de Campo Mourão, ele não viu nenhum problema em dar-lhe carona.
Apesar do pouco tempo que tiveram no curto trajeto – mais ou menos 10 quilômetros - vieram conversando, ela contou que morava em Peabiru, mas vinha constantemente a Campo Mourão visitar sua avó a quem amava muito...enfim, já pegaram uma certa amizade.
Quando chegaram ao local combinado, ele também não viu nenhum problema em esticar um pouquinho mais a sua gentileza e aceitou deixá-la na casa de sua avó, bem pertinho dali.
Depois de percorrer pouco mais de duas quadras, entrando pelo Jardim Santa Cruz, numa rua bem movimentada de pessoas, ela pediu-lhe que parasse o carro porque era por ali que a sua avó morava.
Com o carro já parado, o Faísca, acostumado a viajar pelo Brasil inteiro e a enfrentar situações das mais difíceis, viveria o momento mais incomum de sua longa vida como profissional do volante.
- Seu José (só faltou chamá-lo de Tio Faísca), eu sou “de menor” e se você não me der cinquentão vou gritar por socorro; vou dizer que você está tentando me agarrar – foi o agradecimento que o Faísca não esperava receber.
- Pô, eu não fiz nada de errado com você, te fiz um favor e ainda tenho que te dar cinqüenta reais, só pode ser brincadeira sua! Deixa eu ir embora, vai!...- rebateu o incrédulo Faísca.
Mas não era brincadeira. Ela ameaçava gritar, com um pé dentro e outro fora, agarrada na porta do veículo.
Vendo que não havia saída, e com medo do que poderia lhe acontecer, quem sabe ser denunciado por atentado ao pudor, por tentativa de estupro, por molestar menores, e até ser linchado, sei lá – um monte de coisas passava pela sua cabeça -, ele pediu desconto e ela deixou por trinta reais.
- Que bandidinha “F.D.P”! Paguei caro pra dar carona pra ela – diz, vermelho de raiva.
Eu acho que ficou barato. Ela podia ter pedido 100 pra deixar por 80; ou 1000 pra deixar por 700.
Mas essa não foi a primeira vez que o Faísca se deu mal nesse mesmo trajeto.
Em 1998, quando vinha do Rio de Janeiro, ao passar pela balança, quase na entrada de Peabiru, ele deu carona para uma moça com uma perna enfaixada. A diferença é que essa era “de maior”, aparentava ter 19 a 20 anos. Umas três horas depois, quando fazia uma aposta numa lotérica em Campo Mourão, percebeu que a moça havia lhe furtado 170 reais, 100 dólares e 5.000 guaranís.
Mas só fica irritado, mesmo, quando lembra da “netinha amorosa”.
Indagado pelos amigos se não estava escondendo alguma coisa mais íntima, um gracejo, uma passada de mão... - a ponto de ela exigir-lhe o pagamento - ele sustenta que nem pensou nisso.
- Entre outros princípios eu sabia que ela era menor de idade, arremata.
Traumatizado, ele diz que não dá mais carona. E quando passa por Peabiru nem olha pros lados.
Vá que tem uma moça bonita com o polegar levantado!
Osvaldo Broza é autor dos livros: Caminhos de Casa e Campo Mourão em Crônica e é membro da Academia Mourãoense de Letras.
osvaldobroza@hotmail.com

Nenhum comentário: