23 de dezembro de 2008

Bem dito

OS CANALHAS DO PARANÁ
Por José Eugênio Maciel (publicada na A Tribuna do Interior, em 23/12/2008)

“Mas a ambição do homem é tão grande que, para
satisfazer uma vontade presente, não pensa no mal
que daí a algum tempo pode resultar dela”.
Nicolau Maquiavel


Enquanto a votação era relâmpago, realizada na calada da noite, o raio caia sobre a cabeça do povo paranaense. O último dia 18 irá fazer parte da história política deplorável deste estado, notadamente no Legislativo. Propositadamente, sem constar previamente na pauta de votação, violando o regimento da própria Casa, e sem qualquer discussão, a Assembléia Legislativa aprovou a criação da aposentadoria para os próprios deputados.
A sapatada arremessada pelo jornalista que quase atingiu o presidente dos Estados Unidos é muito pouco para ser praticado junto aos deputados estaduais. Eles mereceriam sair da Assembléia Legislativa presos, algemados e direto para uma penitenciária de segurança máxima, tamanha a pilhagem que praticaram. As exceções, mesmo que honrosas são poucas e cabe registro: dos 54 deputados, somente cinco votaram contra o assalto ao Erário, Douglas Fabrício, Luciane Rafagnin, Marcelo Rangel, Rosane Ferreira e Tadeu Veneri.
Quem bancará o pagamento das aposentadorias destes canalhas? Ora, o povo! Estima-se que inicialmente serão destinados 17 milhões de reais do Tesouro do Paraná para garantir tal benefício. Além disso, com apenas cinco anos um deputado já poderia se aposentar, passando a receber 10 mil reais por mês. Ou seja, bastaria um mandado e tudo estaria praticamente garantido. Aí o caro leitor-contribuinte-burro de carga pode perguntar, “mas não faltaria um ano para ter direito ao benefício?”. Mas está tudo resolvido, caso o deputado não concorra ou não se reeleja, é tradição arrumarem um cargo lá mesmo na Assembléia, ele vira fantasma e logo encherá o bornal dele com dinheiro público.
A Assembléia Legislativa virou uma pápula purulenta, não cabe chamá-la de casa de tolerância, seria suavizar injustamente.
Os canalhas que legislam em causa própria, muitos dos quais não têm um projeto de lei ou iniciativa plausível, costumam se empoleirar no poder, mamar nas gordas tetas palacianas e fazer demagogia barata e oportunista, do tipo chegar com cheque para prefeituras e entidades assistenciais, valores irrisórios quando comparados com o que abocanham para seus patrimônios pessoais. Dão com uma mão um agitório para o povo sofrido, posam de heróis, e com a outra mão já encheram o bolso!
A pusilanimidade dos piratas não chega a surpreender, reflete tão somente a absoluta falta de transferência da Assembléia, que não informa minimamente quais são os seus gastos, não disponibiliza quantos, quais e quanto recebem os funcionários, como também se esquivam de informar o verdadeiro gasto dos gabinetes.
Outra marca desta corja sanguessuga é o de não apurar nada, quando não consegue abafar os escândalos. O caso típico, para apenas citar um que se deu há pouco tempo, é a conhecida “operação gafanhoto”, uma prática de roubo oficial caracterizada pela nomeação de parentes ou “laranjas” para polpudos cargos, cujos salários vão direto para a conta do próprio parlamentar. O que fez a Assembléia, mesmo com alguns réus confesso? Nada! O chefe do bando que preside a Assembléia Nelson Justos, assim como das outras vezes, não foi encontrado para esclarecer. Ele e os demais confiam na falta de memória do eleitor e estão seguros que basta muito dinheiro à época de campanha para continuarem entronados no poder. E, infelizmente, eles têm muitos motivos para confiar na subserviência de grande parte do eleitorado.


José Eugênio Maciel é sociólogo, professor, advogado e membro da Academia Mourãoense de Letras.

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