22 de agosto de 2008

Orgulho

O salto dourado de Maurren Maggi



A medalha de ouro de Maurren Maggi representa uma volta por cima de uma atleta exemplar. Espero que ela receba todas as homenagens a que tem direito e um pouco mais. Maurren merece – até porque carrega a dor de uma acusação injusta.
Em 2003, às vésperas dos Jogos Pan Americanos, Maurren Maggi foi punida e afastada das pistas, num processo anti-doping. Ela foi acusada de ter feito uso de clostebol, substância proibida pela medicina esportiva. A maioria das histórias de doping envolvem roteiros cabeludos e explicações incoerentes, mas o depoimento de Maurren sempre foi claro. Ela não se dopou.
Sem saber, no final de uma sessão de depilação numa clínica de São Paulo, recebeu a aplicação de uma pomada cicatrizante chamada Novaderm. Entre outras substâncias, a pomada continua clostebol – em doses mínimas para afetar o desempenho esportivo, mas suficientes para serem apanhadas num exame médico.
Eu era diretor do Diário de S. Paulo, naquele momento. Com auxílio de Carlos Alencar, o editor de esportes, decidimos fazer uma reportagem para afastar qualquer dúvida. Escalamos uma repórter, Luciana Ackerman, para ir à mesma clínica de Maurren, fazer a mesma depilação, receber a aplicação da mesma pomada – e depois submeter-se ao mesmo exame médico que ela fizera. O resultado foi o esperado: deu doping na repórter que, como Maurren, apenas fizera uma depilação.
Este teste não prova que o exame médico estava errado mas mostra que aplica-se rigor demasiado em quem não merece –e muitas vezes deixa escapar quem não devia, não é mesmo?
Também prova que Maurren tinha uma qualidade que só faz bem a uma grande atleta – caráter.

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