Dia desses me emocionei com uma postagem do amigo Osvaldo Broza no Facebook. O marido da Malu, muito sensível aos problemas que a vida nos oferece, retratou um breve encontro com um brasileiro vendedor de redes em nossa cidade. Encontro que o fez refletir sobre os nossos problemas do dia-a-dia, que, na verdade, não passam de pequenos obstáculos perto das enormes barreiras que irmãos nossos enfrentam por toda a vida. Confiram.
Olha a rede!!!...
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Osvaldo Broza |
Dias desses conheci um vendedor de redes, o Edivaldo.
Ele faz parte de uma turma de dez vendedores - todos da Bahia - que, naquela semana, faziam um verdadeiro arrastão (no bom sentido) pela cidade toda.
Depois de Campo Mourão eles iriam para outras cidades do Paraná, Santa Catarina e, finalmente, após quase três meses longe da família, voltariam pra casa. Descansariam por uns dias e pegariam novamente a estrada. Não necessariamente para os mesmos lugares.
Nós nos encontramos no Centro Automotivo e Náutica do Renan (R-CAR), ele para se esconder da chuva. Chovia muito naquele momento.
Conversamos demoradamente, parecia que éramos amigos de longa data. Tirei uma foto dele junto a um veículo antigo – ele também gosta, assim como eu, de carros antigos - e lanchamos com os diretores e funcionários da empresa. Naquelas alturas, um colega dele também veio se esconder da chuva e igualmente participou do lanche e das conversas. Eles esperaram a chuva passar e seguiram com destino à rodoviária para se encontrarem com o encarregado de transportá-los.
– Até a rodoviária quero ver se vendo pelo menos mais umas cinco redes, disse sorrindo o Edivaldo.
Ele me contou que logo de manhã os vendedores são deixados em pontos estratégicos da cidade e à tarde todos se encontram na rodoviária. De lá, vão para um posto de gasolina que fica no outro lado da cidade onde passam a noite. Dormem onde possam armar suas redes (camas). No caso de muito frio, as próprias redes servem como colchão e cobertas ao mesmo tempo. Além de hotel (?), toda a alimentação é por conta deles. – A gente se vira como pode, diz.
Eles recebem um determinado número de redes, nunca inferior a 20, que é a cota estipulada para venda em um dia. O preço mínimo também é determinado. O que passar disso é o pagamento (salário) deles. Não perguntei se recebem 13º, férias, etc...
Passadas algumas horas, ele me mandou a seguinte mensagem de voz:
“Falou, meu patrão! Feliz Natal pro sinhô e que Deus lhe dê um 2017 cheio de alegria, paz, amor, saúde e prosperidade! Eu tô aqui ainda no Paraná. Vou pra Santa Catarina e depois Deus é quem sabe, vou pra Bahia. Quero sempre ter um amigo que nem o sinhô. Valeu, meu amigo, que Deus lhe abençoe”!
Já tarde da noite, me mandou uma outra mensagem, desta vez impressa e com uma pomba branca segurando uma rosa vermelha:
“Pai, hoje só quero agradecer...Obrigado, Senhor, por mais um dia!
Boa noite!”
No conforto do meu quarto, com TV e ar condicionado ligados, fiquei pensando:
Poxa, esse cara, que não tem nem um lugar pra dormir, quase três meses longe (e com saudade) da família, enfrentando tantos outros percalços que a sua profissão impõe...agradece a Deus por mais um dia e ainda me deseja boa noite!...
E que, por um simples e normal gesto de minha parte, obrigatório a qualquer ser humano, me agradece com toda a força de sua fé e diz que quer sempre ter um amigo como eu.
E a gente (eu) reclamando de tudo quanto é coisa: do calor, do frio, da chuva, do sol, dos carros, das motos, dos pedestres...da fila, dos buracos...até da bosta do passarinho no capô do carro.
Quiçá um dia a gente se tromba por aí e fortalece essa amizade, em Campo Mourão, Santa Catarina, Bahia ou onde só “Deus é quem sabe”. E que eu possa, enfim entender, esse mistério de encontros e reencontros – e de lições - que a vida nos proporciona!
Feliz natal a todos!
Osvaldo Broza é membro da Academia Mourãoense de Letras.