Crônica

Remédio Amargo

Um arquiteto amigo meu, que trabalha na Secretaria de Planejamento da Prefeitura de Campo Mourão, passou alguns dias com muita dor de ouvido e, além da dor, quase não ouvia direito.
Começou com uma dorzinha, que foi aumentando, aumentando, até tornar-se insuportável. Teimoso – é filho de português – ele insistia com remédios caseiros, apesar dos apelos da família e dos colegas de trabalho – que não agüentavam mais as suas choramingueiras – para que procurasse um médico. Depois de passar mais uma noite sem dormir, ele procurou por um “otorrinolaringologista”.
Um fungo - diagnosticou o médico - que praticamente tapava o seu ouvido direito e causava-lhe aquela dor terrível. O médico passou-lhe a receita e recomendou que, dado ao adiantado estado de infecção, ele deveria iniciar o tratamento com cinco gotas três vezes ao dia.
Ele chegou em casa e já tomou a primeira dose. Quase vomitou. Era amargo demais da conta. Mas a dor não passou e mais uma noite sem dormir. Noutro dia bem cedinho, mesmo contra a vontade, tomou dez gotas. Arrepiou-se todo. Ao meio-dia a mesma coisa e à noite, ao virar o copo, perdeu a compostura: “Ricardina, eu não vou mais tomar esta droga de remédio. É veneno puro. E não tá fazendo efeito m... nenhuma..”.
- Calma, amor, deixa eu ver o que está escrito na bula. Hummmm...
- Benhêêê, você está tomaaannndo este remédio?
- Claro que tô tomando, “rálhuss”, do jeito que o médico mandou!
Depois de uns quatro dias, o Rubens passou a dormir, ouvir melhor e a sorrir novamente. Já não sentia quase nenhuma dor. Mais alguns dias e já estava completamente curado.
Ele jura que na receita estava escrito tomar. Mas não prova. Ele diz que rasgou a receita, de raiva. O Serginho Ratti acha que foi queima de arquivo.

(Extraído do Livro “Campo Mourão em Crônica” de autoria de Osvaldo Broza
osvaldobroza@hotmail.com